Nesta terça-feira (17), em todo o Brasil, manifestações marcam o Dia Internacional Contra a LGBTfobia. A data celebra a retirada da homossexualidade da lista internacional de distúrbios mentais pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entre os, ainda tímidos, avanços registrados neste ano estão 64 pré-candidaturas de pessoas LGBTs+ já declaradas em todo o país. Os números são do Programa Voto Com Orgulho, da Aliança Nacional LGBTI+, que tem como meta o registro de pelo menos 200 candidaturas LGBTs+ para as eleições de outubro.
Leia também: Congresso do PSB reúne lideranças da militância socialista LGBTQIA+
Para a secretária nacional do LGBTsocialista, Tathiane Araújo, existem avanços no campo democrático que são fundamentais para derrotar o projeto do governo de Jair Bolsonaro (PL), que se posiciona contrário às pautas do segmento e reiteradamente se envolve em polêmicas a respeito.
“O 17 de maio segue sendo lembrado como um marco para combater a LGBTfobia, mas também referendar a necessidade de outras conquistas”, avalia Tathiane.
Para ela, é preciso fortalecer as candidaturas LGBTs+ para que não só estejam presentes nas eleições, mas tenham chances reais de ocupar cadeiras nos legislativos e executivos do país.
“Em um ano eleitoral como o nosso é importante observar o crescimento das candidaturas LGBTs+, mas é mais importante buscar o fortalecimento dessas candidaturas, dando subsídios e formação para que elas cheguem em outubro de forma qualificada e se apresentem como atrativas para a sociedade como um todo”, avalia.
Para o presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Toni Reis, que se filiou neste ano ao PSB, é preciso estimular e apoiar pessoas LGBTI+ a se candidatarem em 2022.
“Queremos conhecer a demanda de possíveis candidaturas para apresentar dados aos partidos políticos e buscar suporte junto a entidades e movimentos que atuam no fortalecimento da democracia brasileira e na defesa e proteção aos direitos humanos. No momento em que vivemos, precisamos ampliar a representatividade de nossa comunidade na política”, afirma o socialista.
São Paulo é o estado com maior número de candidaturas LGBTS+
Com o Programa Voto com Orgulho, a Aliança Nacional LGBTI+ iniciou o cadastramento de pré-candidaturas. Os números divulgados integram a primeira parcial da pesquisa e mostram a um total de 64 candidaturas de pessoas LGBTI+ e outras 10 de pessoas que se declaram aliadas.
Dessas 74 pessoas pré-candidaturas, São Paulo é o estado com maior número – são 11. Em seguida vem Minas Gerais com 10; Rio de Janeiro com nove; Goiás com sete; Santa Catarina com seis e Bahia com quatro pré-candidaturas.
Quanto à identidade de gênero
A pesquisa também considera o número de pré-candidaturas quanto à identidade de gênero. São 43 homens cis e 14 mulheres trans e travestis. E seguida, 12 mulheres cis também se lançaram à corrida eleitoral de 2022.
Se considerada a orientação sexual existem 39 gays, 10 pessoas heterossexuais, 09 bissexuais, 06 lésbicas, 05 pansexuais, três pessoas não se identificaram, 01 demissexual e 01 asssexual.
Leia também: Candidaturas LGBTQIA+ são importantes para a democracia
Quanto a raça/cor, são 43 pessoas negras (pretos e pardos) e 28 pré-candidaturas de pessoas, além de um indígena e duas que se autodenominam amarelas.
Quanto a escolaridade
Outro dado que a pesquisa da Aliança Nacional LGBTI+ considerou foi a escolaridade. São 36 pessoas com curso superior completo, sendo 12 com especialização, seis com mestrado e dois com doutorado.
Além de 24 outras com curso superior incompleto. Dez com ensino médio completo e uma com ensino médio incompleto. No nível fundamental completo há o registro de uma pré-candidatura e outras duas com o fundamental incompleto.
Leia também: Filiação de LGBTQs no PSB marca a importância da comunidade na política
Quanto à renda, são oito pré-candidaturas de pessoas sem renda fixa, 07 pessoas que ganham até R$600; 12 com até R$1.100, 15 pessoas ganhando até R$ 2.090 e 16 na faixa de R$ 2.090 a R$ 4.180. Por fim, 10 pessoas tem rendimento mensal entre R$ 4.180 e R$ 10.450 e outras seis acima de R$10.450.
Maior parte das pré-candidaturas LGBTs+ são da esquerda
São 52 pré-candidaturas para a Câmara Federal; 21 para as assembleias legislativas estaduais e uma para deputado distrital.
Do ponto de vista político, 38 dessas pré-candidatas se identificaram como sendo da esquerda, 17 centro-esquerda, 10 do centro, seis de extrema esquerda, duas da extrema direita e um de centro-direita.
O Programa Voto Com Orgulho é coordenado pela Aliança Nacional LGBTI+ em parceria com o Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI+ (Rio de Janeiro) e o Grupo Dignidade (Curitiba). Conta, ainda, com o apoio institucional do Sinergia Instituto de Diversidade Sexual de Minas Gerais, da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a União Nacional LGBT, Rede Trans, Sleeping Giants Brasil, Associação de Famílias Homotransafetivas (ABRAFH).
Congresso Nacional ganhará cores da bandeira LGBTQIA+ nesta terça
Em Brasília, o prédio do Congresso Nacional vai receber das 19h às 21h projeções com as cores da bandeira LGBTQIA+. Nos estados, diversos atos como uma audiência pública na Avenida Paulista, em São Paulo, marcam a data. A iluminação especial foi proposta pela liderança do PSOL na Câmara.
Em São Paulo, na Avenida Paulista, haverá um Ato Público de Assinatura do Protocolo da Resolução do Conselho de Psicologia (CFP) sobre bissexualidade. E a Audiência Pública 17M “Em defesa do Museu da Diversidade sexual e das Políticas Pública para população LGBTQIA+”, às 16h.
No Maranhão, estado governado pelo PSB, ocorre a Semana Estadual de Enfrentamento a LGBTFobia, que começou nesta segunda (16) e segue até sexta (20) em todas as regiões do estado.
O prefeito de Recife, João Campos (PSB) também anunciou na cidade a II Semana Municipal de Luta Contra a LGBTfobia. Nesta terça (17) haverá o lançamento da Campanha “Não dá cartão, dá cadeia”, que tem como principal objetivo conscientizar a sociedade que a violência sofrida pela população LGBTI+ dentro e fora dos estádios de futebol é crime.
Brasil segue como um dos países mais perigosos para população LGBTQIA+
Dados do Relatório de Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil ocorridas em 2021, publicado pelo Grupo Gay da Bahia, no dia 07 de maio de 2022,mostram que 300 LGBTs+ sofreram mortes violentas no país neste período. Foram registrados 276 homicídios e 24 suicídios. O número representa um aumento de 8% em relação ao ano anterior.
O Brasil segue como o país do mundo onde mais LGBT são assassinados com a média de uma morte a cada 29 horas.
A região Nordeste foi a que registro maior número de mortes violentas – 35% dos casos, seguida do Sudeste, com 33%.
A pesquisa usou como fontes primárias as notícias publicadas nos meios de Comunicação do Brasil, sendo jornais dos estados, que são coletados e analisados pelo Grupo Gay da Bahia, que atua com a sistematização desses números há mais de quarenta anos.