A corrupção não impôs diferenças apenas na gestão pública, mas, também, nos processos eleitorais. Para a esquerda, se desde sempre os sindicatos ajudavam financeiramente os seus candidatos, desequilibrando levemente a balança em relação aos candidatos da esquerda não vinculados aos mesmos, havia ainda as militâncias partidárias voluntárias, as mobilizações por temas, os comitês sustentados pelos militantes. E não os comitês sustentando os “militantes”, como passou a ser. Antes os candidatos da esquerda lutavam contra o poder do dinheiro e das máquinas governamentais por parte da direita. E, mesmo assim, obtinham vitórias expressivas.
Do finalzinho do século XX e do começo do século XXI para cá, o panorama das campanhas eleitorais no campo da esquerda modificou-se completamente. Muitos dos candidatos de esquerda passaram a contar com tanto dinheiro quanto os mais abastados da direita. A militância passou a ser profissionalizada (paga) ou de funcionários públicos. A propaganda feita em escalas milionárias, com candidatos a deputado federal e estadual com 20, 30 carros de som, aviões, malas de dinheiro, empresas de publicidade e outros recursos. Militantes de bairros e áreas mais pobres transformados em cabos-eleitorais pagos a peso de ouro. E nesse ritmo até os eleitores que votavam por convicção, adesão a princípios, passaram a exigir dinheiro dos novos cabos eleitorais, o efeito cascata da corrupção.
Era o resultado do “fazer tudo o que outros fizeram”, jogar o jogo profissionalmente.
A classe média, digamos assim, limpa e digna da esquerda, foi substituída por alguns dirigentes políticos, sindicais e dirigente públicos, com muito dinheiro para aliciar militantes, cabos-eleitorais e eleitores das antigas bases da esquerda. Sim, porque nas bases eleitorais da direita pouco se mexeu. A preferência dos endinheirados da esquerda era pelos espaços e cabos eleitorais da própria esquerda, pelo simples fato que eram mais baratos. E conhecidos. Praticando os mesmos métodos da política tradicional e com a vantagem de poderem brandir um projeto de distribuição de renda, aumento de oferta de serviços sociais e contando com uma figura como Lula. Era como pescar de bomba em aquário.
Lula, além do PT, impulsionava também as candidaturas dos aliados à direita como o PMDB o PP e outros.
E porque você não fez a mesma coisa, perguntaria o eventual leitor? Afinal eram as regras do jogo. A novas regras.
No plano estritamente pessoal por incapacidade política ou psicológica. Por alguma razão que tentarei explicar, recusei-me a jogar esse jogo.
15 de maio de 2017
Domingos Leonelli
Presidente do Instituto Pensar
Ex-Deputado Federal