Os impasses e desafios na integração dos países da América Latina e as consequências das medidas protecionistas adotadas pelos líderes das nações do hemisfério sul foi o tema da 26ª live da Revolução Brasileira no Século 21, que nesta quinta-feira (11), convidou a socióloga Ana Prestes para debater a importância de uma América Latina forte para o desenvolvimento do Brasil no cenário geopolítico mundial.
Junto com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, e dos socialistas Domingos Leonelli, Juliene Silva e James Lewis, Ana Prestes explicou de que forma a união dos países da América do Sul pode ajudar a acabar com o imperialismo norte americano que, segundo ela, existe nas Américas.
“O que une os países latinos é o forte sentimento antiimperialista. Ao longo da história nós vimos muitos avanços, mas também muitos retrocessos. Vimos trabalhadores chegarem ao poder, como o Lula aqui no Brasil, mas também vimos uma forte guinada à Direita, como a que estamos vivendo hoje”, disse,
Confira tudo o que rolou sobre a Revolução Brasileira.
Amazônia pode ajudar na integração da América Latina
A socióloga iniciou o debate lembrando que a Amazônia inclui territórios pertencentes a nove nações, apesar da maioria das florestas estar contida dentro do Brasil, com 60% do bioma. Em segundo lugar, está o Peru com 13% e com partes menores na Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e França (Guiana Francesa).
“O Brasil tem dificuldade de pensar em conjunto e a Amazônia é uma prova disso. São nove países que poderiam se unir para discutir a respeito de como aproveitar da melhor maneira possível o bioma, mas isso não acontece. Existe uma coordenação que ficou enfraquecida com o passar das décadas”, lamentou.
Ana reforçou ainda que apesar da falta de um esforço coletivo é possível notar iniciativas dos povos indígenas da sociedade civil nestas nove nações. No que se refere ao Brasil, ela chamou atenção para as negociações que são feitas entre os governadores e os países vizinhos e as novas relações internacionais que nascem a partir dessa convivência.
“Um fenômeno que me chamou a atenção e foi forçado pelo estilo do governo autoritário do Bolsonaro foi a coordenação entre os governadores dos estados. Tanto em relação à pandemia, como nos desafios ambientais e climáticos, as unidades da federação tem demonstrado uma notável capacidade de articulação, inclusive, sobre o destino da Amazônia, muitas vezes enfrentando o próprio governo federal”, disse.
Amazônia 4.0 e a Autorreforma
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, observou que a Autorreforma em curso no PSB prevê para a Amazônia, em primeiro lugar, o investimento para conhecer o bioma cientificamente.
“O que nós estamos propondo é conhecer a Amazônia e transformar esse conhecimento em ativo econômico, mobilizar empreendedores e investidores para transformar isso em empresas , produtos para consumir interna e fora do país, centros de pesquisa de ponta em que jovens possam conhecer a floresta. Infelizmente, a amazônia é muito desconhecida do Brasil e dos vizinhos latino americanos”
Carlos Siqueira
Siqueira lembrou que especialistas já comprovaram que a Amazônia gera muito mais lucro “de pé” do que devastada para a agropecuária, por exemplo.
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Venezuela polêmica
Durante o debate, ficou evidente a importância de uma ofensiva mais clara nas relações internacionais e que falar da América Latina não é tão simples porque estamos falando de um continente que tem muitas diferenças, sejam elas econômicas, geográficas, culturais e até mesmo de idiomas.
“Politicamente o que há de comum entre nós é a desigualdade, a pobreza e a acumulação de riqueza. Precisamos criar instrumentos políticos mais adequados para enfrentar a situação que a América latina enfrenta hoje”, afirma Carlos Siqueira.
O presidente lembrou ainda que existe a Coordenação Socialista Latino-americana (CSL) e que o deputado federal Alessandro Molon é o secretário geral do colegiado.
“Temos o Foro de São Paulo que nós não participamos mais porque não estávamos de acordo com a maneira autoritária com que os trabalhos eram conduzidos”, completou.
Carlos Siqueira mencionou o exemplo da Venezuela como ações que prejudicaram as experiências socialistas no nosso continente.
“Quando a Michelle Bachelet esteve na Venezuela como alta-comissária de direitos humanos e classificou como ditatorial o regime madurista, nós do PSB lemos com muita atenção o documento e emitimos a nossa concordância com a posição de Bachelet”, recordou.
Ana Prestes discordou de Siqueira neste ponto e defendeu a autodeterminação venezuelana.
“Eu acho que a democracia, soberania e autodeterminação da Venezuela têm que ser respeitadas. É preciso levar em consideração estrangulamento econômico, cerceamento e isolamento político que esse país viveu”, disse.
A socióloga afirmou que, na opinião dela, a ajuda humanitária da ONU foi desmascarada e que isso ficou claro diante do silêncio de Bachelet diante do sumiço de Juan Guaidó, atual presidente do país.
Ana ressaltou ainda a importância de mais mecanismos de coordenação que sejam contra os regimes hegemônicos.
Criação de um parlamento da América Latina
Domingos Leonelli questionou a socióloga sobre a possibilidade da criação de um parlamento latino americano contribuir para a agilidade da integração dos países da América do Sul.
Ana acredita que sim, que a unidade por meio de um parlamento poderia resolver não só os impasses políticos, como também as questões climáticas e econômicas que envolvem essas nações.
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