
O apagão que atinge o Amapá há mais de uma semana provocou reação no Congresso Nacional contra a privatização da Eletrobras e de outras empresas do setor elétrico, afirma reportagem do Estadão. O projeto foi encaminhado pelo governo Bolsonaro no ano passado e está parado na Câmara.
A subestação que foi danificada, causando apagão elétrico que atinge mais de 90 mil pessoas, pertencia à espanhola Isolux, que entrou em recuperação judicial, e hoje se chama Gemini Energy. A Gemini Energy detém 85,04% de participação na linha, e 14,96% são da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional. Em crítica às privatizações, parlamentares usaram o episódio para dizer que a entrada da iniciativa privada no setor não resolve problemas.
A reação do Congresso ficou exposta durante reunião da Comissão Mista da Covid-19. Além de criticar a privatização, senadores direcionaram críticas à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), responsável pela fiscalização das empresas.
“Monopólio público é muito ruim, mas você tem pelo menos a quem xingar. O monopólio privado, com agência reguladora que não funcione com eficiência, é muito mais despótico, porque geralmente a cabeça pensante e quem manda no dinheiro mora longe”, afirmou o senador Esperidião Amin (PP-SC).
O senador Izalci Lucas (PSDB-DF) foi na mesma linha, lembrando o processo de desestatização da Companhia Energética de Brasília (CEB).
“Imagine uma empresa como essa do Amapá participar de um leilão, ganhá-lo e administrar a nossa cidade, a capital da República. Podemos ficar num apagão geral na capital da República”, disse. “É hora de refletir um pouco sobre isto: se a solução não seria melhorar a gestão em vez de privatizar.”
No entanto, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Júnior, disse que o incidente que deixou parte do Amapá sem luz não deve interromper o processo de privatização da estatal, e que o governo deve retomar a privatização já no início de 2021.
“O plano era ter a retomada ainda em 2020, mas com as discussões de questões ligadas ao orçamento e eleições, a gente terá retomada da privatização da Eletrobras entrando esse ano”.
Investigações sobre apagão no Amapá
Um laudo pericial preliminar da Polícia Civil mostrou que o incêndio na estação de transmissão de energia elétrica de Macapá não foi causado por um raio, como vinha sendo divulgado pelo próprio governo do estado.
Em uma coletiva de imprensa, a delegada Janeci Monteiro, responsável pela “Operação Apagão”, afirmou que o incêndio foi causado por um problema na bucha de um transformador. Além disso, a Linhas de Macapá Transmissora de Energia, pertencente ao grupo Gemini, teve R$ 50 milhões bloqueados pela Justiça.
Também foi constatado que, dos três transformadores responsáveis pela transmissão de energia no Amapá, um já estava inutilizado desde o dia 31 de dezembro de 2019. Ou seja, dos 450 Megawatts previstos em contrato que a empresa deveria fornecer, estavam sendo fornecidos apenas 300, informaram os responsáveis pela investigação.
Com informações do Estadão e UOL