Após seis dias consecutivos de manifestações populares, deputados do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) decidiram entrar nesta terça-feira (9) com um pedido de julgamento político para afastar o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez.
Abdo Benítez é aliado político de Jair Bolsonaro (sem partido) e, caso seja afastado, será o primeiro na América Latina a ser destituído pela maneira como conduziu o país durante a grave crise sanitária. O processo é parecido com o dispositivo do impeachment no Brasil.
O movimento dos parlamentares ocorre também após o presidente demitir os ministros Eduardo Petta (Educação) e Nilda Romero (Mulher), além de seu chefe de gabinete, Ernesto Villamayor. O ministro da Saúde do país, Julio Mazzoleni, já havia renunciado ao cargo na sexta-feira (5), pouco antes dos manifestantes irem às ruas.
O Paraguai vinha controlando a disseminação do vírus com a imposição de medidas restritivas, mas desde janeiro a curva de infecções começou a aumentar. Os registros diários de novos casos estão acima de mil desde 15 de fevereiro — nos primeiros meses da pandemia, esse número não chegava a cem.
Quase 100 brasileiros foram flagrados descumprindo medidas sanitárias em uma festa clandestina, em um bar de Cidade do Leste, no Paraguai, no domingo (7). Na semana passada, o país também registrou a presença da variante brasileira do coronavírus, P.1, que se originou em Manaus.
Protestos
No último fim de semana, os protestos reuniram milhares de pessoas em frente ao Palácio Legislativo, em Assunção, houve repressão das forças de seguranças, e pelo menos 20 pessoas ficaram feridas. Os manifestantes pedem as renúncias do presidente e do vice-presidente do país, acusados de fazerem uma gestão desastrosa diante do colapso.
Para que o pedido de julgamento político contra Benítez seja aceito, são necessários 53 votos — o PLRA, que deve iniciar o processo, tem 29 deputados.
O partido majoritário no Congresso é o Colorado, o mesmo de Abdo Benítez. A maioria dos integrantes da legenda, no entanto, é alinhada ao ex-presidente Horacio Cartes, reunida na corrente Honor Colorado. Por ora, esse grupo não apoia o impeachment, e os deputados afirmaram que não estarão presentes na sessão de terça-feira.
“Nós sabemos que não temos os votos. Mas não se pode dar o jogo por perdido”, disse à Folha de S. Paulo Efraín Alegre, líder do PLRA, ex-senador e ex-candidato à Presidência. “Se estamos frágeis no Congresso, a população está forte nas ruas e vai fazer com que Cartes tenha de mudar de ideia. Vai pressioná-lo para que deixe de apoiar Abdo Benítez.”
Com informações da Folha de S. Paulo