O Procurador-Geral da República Augusto Aras foi à cúpula da CPI da Pandemia, nesta quarta-feira (18) negociar sua recondução ao cargo com os senadores.
A mensagem de Aras para os senadores Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL) – respectivamente o presidente, o vice e o relator da comissão – é que o relatório da CPI tem mais chances de ser analisado “com isenção” se for encaminhado à PGR após sua recondução ao cargo. As informações são da jornalista Malu Garpar, do O Globo.
A conversa foi no gabinete de Aziz. O PGR alegou que, no momento, não pode tomar providências contra o governo porque está preso às circunstâncias. Ou seja, esperando que sua recondução para o cargo seja aprovada.
Mas disse que, depois de reconduzido, ele estará mais “livre” para avaliar o relatório “com isenção”. Para bom entendedor, foi o que bastou para compreender que, enquanto depender da caneta de Jair Bolsonaro para se manter no posto por mais dois anos, Aras nada fará contra o presidente e seu governo.
Até agora, a PGR, que detém o poder de propor ações contra o presidente da República, tem evitado se manifestar sobre a CPI. Da última vez que o fez, em um parecer do vice-procurador-geral, Humberto Jaques, pediu à ministra Rosa Weber, do Supremo, para esperar o final da comissão antes de começar a investigar irregularidades na compra da vacina Covaxin. A ministra não autorizou.
Por causa disso, um grupo de senadores entrou com uma notícia-crime contra Aras para que ele seja investigado por prevaricação no STF.
Aras livre de Bolsonaro?
Na conversa com a cúpula da CPI, na última terça-feira (17), Aras sugeriu que o cenário pode mudar depois que ele for reconduzido. Isso porque, como não terá mais direito a um novo mandato, Aras não teria as mesmas amarras de hoje com o presidente da República.
Tal argumento certamente deixará de valer se Aras acabar sendo convertido em candidato do próprio governo à vaga aberta para ministro do STF. Essa é uma alternativa que tanto o procurador-geral quanto aliados do governo contemplam, se André Mendonça de fato não tiver chances de ser aprovado no plenário do Senado.
Segundo relato de pessoas que acompanharam o episódio, Aziz, Randolfe e Renan conversavam sobre a necessidade de convencer Aras a não enterrar o relatório da CPI, quando o senador do Amazonas decidiu ligar para o celular do procurador-geral e pedir que marcassem uma reunião.
Calheiros e o próprio Aziz devem votar a favor a recondução de Aras no plenário. Randolfe deve ser contrário.
O mandato do procurador-geral termina em meados de setembro, e ele espera até lá seu nome seja aprovado.
Já a cúpula da CPI terá de considerar todas essas variáveis para definir quando afinal encerrar suas atividades. E torcer para que Augusto Aras tenha motivos para avaliar o relatório final da comissão com a “isenção” prometida.
Do contrário, terão de assistir ao triunfo de Aras no Senado, enquanto o relatório da CPI vai para o fundo de algum armário no Ministério Público Federal.