A AstraZeneca, empresa anglo-sueca que desenvolveu vacina contra a Covid-19 em parceria com a Universidade de Oxford, já distribuída no Brasil em parceria com a Fiocruz, afirma que não pode ainda vender o produto para o setor privado.
“No momento, todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility, não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado”, disse hoje a empresa em comunicado à imprensa.
“Nos últimos 7 meses, trabalhamos incansavelmente para cumprir o nosso compromisso de acesso amplo e equitativo no fornecimento da vacina para o maior número possível de países ao redor do mundo”, completou a nota. “Como parte do nosso acordo com a Fiocruz, mais de 100 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca (AZD1222) estarão disponíveis no Brasil, em parceria com o Governo Federal.”
Resposta à carta do Governo
O posicionamento é uma resposta ao pedido feito em uma carta enviada pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido), na qual sua equipe dá aval para que empresas privadas brasileiras possam adquirir um lote de 33 milhões de doses de vacina para imunizar seus funcionários e retornar as atividades.
Uma das exigências, no entanto, é que metade do lote seja doado ao Sistema Único de Saúde (SUS). O texto foi assinado pelos ministros Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União) e José Levi (Advocacia-Geral da União), além de Élcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde.
No documento, revelado pelo jornal O Globo, o governo elenca algumas condições, como por exemplo que as companhias não podem comercializar os imunizantes e devem aplicá-los de graça em seus funcionários. Além disso, deve haver um sistema de rastreamento das vacinas.
Vai e vem de Bolsonaro sobre a vacina
A mudança de postura do governo federal parece vir acompanhada também de um recuo de discurso. Após passar meses colocando em dúvida a eficácia de vacinas contra a Covid-19, o Bolsonaro repetiu o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, e afirmou nesta terça-feira (26) que os imunizantes são importantes para proteger a economia do país.
“Desde o ano passado, nós abrimos negociação para compra de vacinas. Diferente do que estão falando por aí, o governo continua estimulando essa negociação com os empresários. Nós demos o sinal verde para eles lá atrás”, destacou. “Brevemente estaremos nos primeiros lugares (de vacinação no mundo) para dar mais conforto à população, segurança a todos e de modo que a nossa economia não deixe de funcionar”.
Para o presidente, a compra de vacinas por empresas não poderia ser interpretada como um “fura fila”.
“Não existe nada de furar fila. Uma parte das vacinas seria doada ao Governo Federal. E a outra parte seria usada pela empresa que comprou. O critério de uso da parte que ficaria com as empresas compete às empresas. A outra metade ficaria com o SUS”, ressaltou.
Mobilização contra ineficiência do governo
Com o aval do governo, o número de companhias interessadas em realizar a aquisição do imunizante tem aumentado a cada hora. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, durante a reunião com as empresas, Fábio Spina, diretor jurídico da Gerdau, considerado o coordenador da negociação, pediu a cada uma se manifeste até esta terça-feira (26) sobre a intenção de realizar a compra ou não.
Ainda no encontro, foram debatidos termos que poderiam ser oferecidos ao Ministério da Saúde para viabilizar a compra. Também foi dada uma previsão de que, efetuada a aquisição, com a transferência de recursos, as vacinas chegariam ao Brasil em dez dias.
Pouco incentivados pelo governo, algumas empresas, como Vale, Itaú e Petrobras, discordaram do uso da vacina por empresas, já que a compra permitiria a imunização fora de grupos prioritários, mas que poderia diminuir a disponibilidade de vacinas por governos. Eles defendem a doação integral dos insumos ao SUS. A negociação continua em andamento.
Com informações da Folha de S. Paulo, O Globo e da CNN