A Escola Rosas de Ouro, de São Paulo, ‘vacinou’ o presidente Jair Bolsonaro (PL) em plena avenida e ele se transformou em jacaré. O desfile ocorreu na madrugada deste domingo (24) e lembrou a frase dita pelo presidente em dezembro de 2020.
Na ocasião ele afirmou que não tomaria a vacina por não confiar e que poderia ter algum efeito colateral, por exemplo, virar um jacaré.
“E na Pfizer [contrato da Pfizer] tem lá: nós [Pfizer] não nos responsabilizados. Se eu virar um chi, se eu virar um jacaré, se você virar super homem, se nascer barba em alguma mulher, ou algum homem começar a falar fino… e o que é pior: mexer no sistema imunológico das pessoas”, falou Bolsonaro, na época.
Na cena, uma enfermeira surge com uma injeção gigante ao lado de um homem fantasiado de presidente. Ela aplica a vacina, e, em seguida, aparece o jacaré com uma faixa presidencial.
Carnaval paulista tem tom político e antirracista
O desfile bem humorado e crítico da Rosas de Ouro foi um dos exemplos do forte tom político que marcou o segundo dia de desfiles do grupo especial do carnaval de São Paulo. Entre os temas tratados estavam pautas antirracistas, críticas a Bolsonaro e a importância da vacina para a cura da Covid.
A Gaviões da Fiel desfilou com o enredo “Basta!” e trouxe um homem com uma faixa presidencial andando em meio a militares e policiais.
A expectativa da Liga de Samba de São Paulo é de que o carnaval da cidade tenha atraido mais de 110 mil espectadores e cerca de 30 mil componentes de escolas.
Enredos
A Escola de Samba Vai Vai abre a segunda noite de desfiles do Grupo Especial com o enredo Sankofa!, tema que representa um reencontro do negro com suas origens e é narrado pela ave sagrada africana Sankofa, destacando o ensinamento da mitologia Axante de que “nunca é tarde para voltar atrás e buscar o que ficou perdido”. Para resgatar a cultura e os valores africanos deixados para trás por causa da escravidão, a escola recorre aos provérbios do Adinkra, um dos sistemas de escrita usados na África pré-colonial.
A Vai-Vai nasceu no ano de 1930, no bairro do Bixiga, como um cordão de carnaval. Desde então, cresceu bastante e tornou-se a escola de samba com mais títulos do carnaval paulista: 15.
A Gaviões da Fiel leva ao Sambódromo o enredo Basta, definido como um grito contra todas as mazelas e injustiças sociais, com alusão a temas em debate no atual cenário brasileiro, como a fome, a causa indígena, o movimento negro, o racismo e a luta da mulher por igualdade.
Maior torcida organizada do Corinthians, o bloco Gaviões da Fiel foi criado em 1969 e participou do último desfile de carnaval realizado na Avenida São João. No ano seguinte, o bloco conquistava o primeiro título com o enredo Vai, Corinthians. Convidado para desfilar no Grupo de Acesso do Carnaval, foi criado Grêmio Recreativo Cultural e Escola de Samba Gaviões da Fiel Torcida. Já no primeiro desfile, em 1989, a Gaviões ficou com o vice-campeonato e subiu para o Grupo Especial. Já conquistou quatro títulos.
A Mocidade Alegre vai homenagear neste ano a cantora Clementina de Jesus com o samba-enredo Quelémentina, Cadê Você?. A cantora Clementina de Jesus estreou nos palcos em 1964 e ganhou fama no ano seguinte, com no espetáculo Rosa de Ouro, e também nas rodas de samba no palco do Teatro Opinião.
A escola foi fundada em 1967 pelos irmãos Juarez, Salvador e Carlos Cruz e mais dois amigos que já saíam fantasiados de mulher pelas ruas da região central da cidade, com o“Bloco das Primeiras Mariposas Recuperadas do Bom Retiro. A rápida ascensão reservou à Mocidade Alegre muitas vitórias, incluindo o título de pentacampeã do Grupo Especial entre os anos de 1969 e 1973. Os mais recentes troféus de campeã foram conquistados em 2004, 2007, 2009, e além do tricampeonato, alcançado de 2012 a 2014.
Em seu enredo, a Águia de Ouro pede Agô (licença, permissão) às energias ancestrais e declara seu orgulho à eterna guardiã da cultura afro-brasileira. O desfile para o carnaval 2022 da escola será um afoxé – cortejo – de exaltação à diversidade étnica, ode à pluralidade cultural e manifesto contra a intolerância religiosa.
As batucadas da Águia de Ouro já eram ouvidas pelas ruas de São Paulo por volta dos anos 1970, quando uma roda de samba animava o fim das partidas de futebol de várzea do time Faísca de Ouro. O primeiro desfile da Águia de Ouro foi em 1977. A escola terminou em terceiro lugar na elite do samba paulistano duas vezes e em 2020 conquistou o título de campeã do carnaval. A escola foi a campeã em 2020, último ano de desfile no Sambódromo do Anhembi.
O samba-enredo da Barroca Zona Sul homenageia Zé Pelintra, importante entidade de cultos afro-brasileiros que tem raízes no estado de Pernambuco. O samba da Barroca foi batizado de A Evolução Está na sua Fé.Saravá, Seu Zé“.
Criada na Vila Mariana, a Barroca Zona Sul começou nos anos 1970, com o sambista Sebastião Eduardo Amaral, conhecido por Pé Rachado, então presidente da Vai-Vai. Ele passou por várias escolas, incluindo a carioca Mangueira, onde Cartola o incentivou a montar sua própria escola. O nome faz referência ao Campo Barroca, do time de futebol Portuguesinha, campo de terra batida onde os batuqueiros do bairro se reuniam em rodas de samba nos fins de semana. Em 1977, com a presença do padrinho Cartola, de Dona Zica e da Mangueira, a Barroca inaugurou sua quadra. O melhor resultado da escola foi a quinta posição do Grupo Especial em 1982, 1985 e 1990.
Com o enredo Sanitatem (cura, em latim) a escola leva para a avenida um samba que fala sobre os rituais de cura, da antiguidade até os dias atuais, com alusões à magia, à fé e à ciência.
A Sociedade Rosas de Ouro foi criada em 1971 por um grupo de quatro amigos. Ficou com o vice-campeonato em sua primeira aparição entre as grandes escolas. Em 1983, os componentes da Roseira, apelido carinhoso da escola, ganharam o campeonato com o enredo Nostalgia, uma volta à São Paulo do começo do século 20. A Rosas de Ouro oi tricampeã de forma consecutiva nos anos de 1994 e 2010.
Por intermédio do influenciador digital Carlinhos Maia, a Império de Casa Verde conta a história da comunicação com o samba-enredo O Poder da Comunicação – Império, o Mensageiro das Emoções. A viagem começa em tempos ancestrais, passando pelo sinal de fumaça, pelo rádio e pela TV e, no fim, desembarcando na internet e na Vila Primavera, lugar de onde surgiu o comunicador nordestino, para trazer a mensagem no século atual.
O Grêmio Recreativo Cultural Social Escola de Samba Império de Casa Verde foi fundado em 1994 por dissidentes da Unidos do Peruche. Conseguiu seu primeiro título no Grupo Especial com apenas 11 anos de fundação e há três no grupo principal com o enredo Brasil: Se Deus É por Nós, Quem Será contra Nós?. Novas conquistas vieram em 2006 com o samba Do Boi Místico ao Boi Real e em 2016 com o enredo O Império dos Mistérios.
*Com informações da Agência Brasil