Por Marcelo Hailer
De acordo com dados do Banco Central (Bacen), o endividamento das famílias no Brasil atingiu picos recordes e já representa 59,9% da renda média anual. É o maior patamar desde o início da série histórica do Bacen, em 2005.
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A inflação alta e a perspectiva de um aperto maior de juros devem afetar ainda mais o orçamento familiar e se tornar um limitador adicional à retomada do crescimento da economia brasileira.
Os dados do BC apontam para o comprometimento mensal de renda das famílias com o pagamento de juros e prestações – incluindo dívidas mais longas, tais como financiamento imobiliário, e outras de curto prazo, como carto de crédito ou parcelamento de compras, chegou em 30,9% em agosto.
A inadimplência se mantém estável, em 4,2%, mas economistas temem que o peso da inflação, que chegou em 10,25% na taxa acumulada em 12 meses até setembro, force as famílias a atrasarem as prestações com orçamento, que já se encontra apertado.
Ao O Globo, Simão Davi Silber, professor sênior do Departamento de Economia da USP e Pesquisador da FIPE, destaca o fato de que o consumo das famílias representa dois terços do Produto Interno Bruto (PIB), e que as dívidas devem ficar mais caras com a perspectiva de aumento na taxa de juros pelo BC, hoje em 6,25% ao ano.
“Para famílias com renda comprometida, o dilema vai ser tomar banho frio para comer. Estamos chegando a este nível, dada a pressão sobre o orçamento. Isso indica que as famílias têm capacidade de consumo comprometido ao longo de 2021”, resume a situação Silber.
116 milhões de brasileiros não têm acesso pleno e permanente a comida
Pesquisa divulgada nesta quarta-feira (13) pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) revela que período abrangido pelo levantamento (5 a 24 de dezembro de 2020) apenas 44,8% dos lares tinham seus moradores e moradoras em situação de segurança alimentar, ou seja, 55,2% dos lares conviviam com a insegurança alimentar, um aumento de 54% desde 2018 (36,7%).
Em números absolutos, 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos, desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave) e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome (insegurança alimentar grave).
Com informações de O Globo