Aos 38 anos, Guilherme Boulos (PSOL), que conquistou 40,6% dos votos válidos na disputa Prefeitura de São Paulo, projetou-se como uma das principais lideranças da esquerda no país, apesar de ter sido derrotado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). Agora, declara que sua principal missão é tentar construir a unidade na esquerda para 2022.
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Em entrevista ao Valor Econômico, o socialista afirmou que pretende começar a viajar pelo país para dialogar com lideranças da oposição ao presidente Bolsonaro. O desafio é reproduzir em 2022 no plano nacional a aliança com PSOL, PT, PCdoB, PSB, PDT e Rede, montada por sua candidatura no segundo turno. Como primeiro destino, o líder do MTST irá à Belém, capital conquistada pelo PSOL, com Edmilson Rodrigues.
“A esquerda está num processo de voltar a ter um impulso e de ter renovação política e geracional. Retomou a capacidade de ter hegemonia nas redes sociais, de dialogar com a juventude, de quebrar barreiras com as periferias. O que ficou claro é que é preciso ter mais unidade. Ninguém sozinho vai ser capaz de derrotar o projeto do bolsonarismo e dos tucanos”, afirmou.
Descartando um cargo no Legislativo, Boulos deixa claro que daqui até 2022 o seu foco será nacional, mas alerta que o ponto de partida das discussões não deve ser um nome para a Presidência. Apesar de ser um dos principais quadros do Psol, também descarta ter um cargo na direção do partido.
“A unidade tem que se construir a partir de projetos. As diferenças que existem na esquerda estão no varejo. As diferenças que nos separam do bolsonarismo estão no atacado. Não tem pensamento único no campo progressista. O que nos une contra o bolsonarismo é maior do que aquilo que nos separa.”
Sobre um possível diálogo com o centro-direita, o psolista rechaça e afirma que os projetos do empresário Luciano Huck, do governador João Doria (PSDB) e do ex-juiz Sergio Moro, são diferentes dos planos da esquerda.
“O Centrão está com Bolsonaro. O presidente discute se vai para o PP. O Centrão já se acomodou no governo. A parte mais orgânica está muito envolvida para tomar a máquina pública e tentar a reeleição em 2022. Sempre defendi construir pontes para defender a democracia e contra o autoritarismo de Bolsonaro, seja com quem for. Isso não significa identidade de projeto político. Projeto de Luciano Huck, de Doria, de Sergio Moro é bem diferente do nosso.”
O cenário para 2022 depende de questões importantes que serão debatidas ainda no início de 2021, como a vacina contra Covid-19 e o desemprego causado pela pandemia. Segundo Boulos, o próximo ano será marcado por dificuldades e protestos, sobretudo depois do fim do auxílio emergencial, previsto para acabar este mês. “É um cenário explosivo, um barril de pólvora”, afirma.
“Se o corte do auxílio emergencial for confirmado por Bolsonaro, se não tiver políticas municipal e estadual de transferência de renda, podemos viver um caos social no país em 2021. Não sabemos como estará a pandemia, se vai ter segunda onda [de covid-19]. Na economia, o cenário não é alentador. Podemos ter uma epidemia de desemprego e cenário de convulsão social em 2021 se não houver políticas para garantir emprego e renda.”
Confira entrevista completa aqui.
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