A Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o tom das críticas ao Brasil ao afirmar, nesta sexta-feira (12), que a situação da Covid-19 no Brasil é “profundamente preocupante” e será preciso um esforço considerável para mudar os rumos da crise sanitária no país. Em repreensão direta ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o diretor da Organização declarou que “começando pelo governo, todos no Brasil precisam levar a pandemia a sério”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“Estou profundamente preocupado com o aumento nas mortes. Não haverá redução significativa no contágio sem medidas sociais sérias, é preciso que haja mensagem clara das autoridades sobre a gravidade da situação e a necessidade das restrições, e o governo precisa fazer cumprir as medidas”, afirmou.
O alerta também foi reforçado pelo diretor-executivo da entidade, Michael Ryan. “O cenário brasileiro piorou desde a semana passada, com alta taxa de positivos entre pessoas testadas, forte incidência de novos casos, elevação no número de mortes, rápido aumento na ocupação de UTIs e sistema de saúde sob estresse extremo”.
Leia também: Com UTIs lotadas, Pazuello diz que sistema de saúde ‘não colapsou nem vai colapsar’
Segundo Ryan, “cientistas, profissionais de saúde e a população do Brasil podem vencer a Covid-19, mas a dúvida é se podem contar com o apoio de que precisam para isso”.
Recorde de mortes e média de óbitos em crescimento
O Brasil voltou a registrar, pela segunda vez consecutiva, mais de 2 mil mortes pela Covid-19 entre a quarta e a noite da quinta-feira (11), de acordo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Foram 2.233 vidas perdidas para a doença.
Com o patamar inédito de mortes, a média móvel de óbitos dos últimos sete dias está em 1.703, aumento de 48% na comparação com a média dos sete dias anteriores, registrada em 25 de fevereiro. Já a média móvel de novos casos diários atingiu o patamar de 69.141, também com alta de 34,5% em relação há 14 dias.
Brasil em outra direção
Diante do aumento exponencial das taxas da doença e do número alarmante de de vítimas fatais, Ghebreyesus ainda se disse desconcertado com a resposta brasileira à pandemia, completamente contrária às suas expectativas. “Visitei o Brasil muitas vezes interessado em seu forte sistema de atenção básica, seu programa de medicina da família. É um sistema robusto de vigilância, que permitiria ter lidado muito melhor com a pandemia”, disse o diretor-geral.
Ele afirmou que o país sempre foi referência em medidas de saúde pública no mundo, como na erradicação de doenças como sarampo e pólio, e suas ações impactam outros países “para o bem e para o mal”.
“Gostaríamos de ver o Brasil indo em outra direção, mas antes disso será preciso um esforço considerável. Enquanto muitos países nas Américas do Sul e Central estão indo por um bom caminho, o Brasil não está”, afirmou.
Escalada das cobranças da OMS
A OMS têm elevado progressivamente o tom de suas declarações sobre a situação brasileira nas últimas semanas, abandonando aos poucos ressalvas, como o fato de que o país e grande e complexo e citando com mas frequência a responsabilidade de autoridades e a necessidade de levar a pandemia a sério.
A líder-técnica da OMS, Maria van Kerkhove, disse que há indícios de que a variedade identificada no Brasil, a P.1, é mais contagiosa e também provoca mais mortes, embora seja difícil avaliar esse efeito quando os hospitais estão em colapso.
“Quando a transmissão está fora de controle, cresce o número de casos, há mais doentes graves, mais hospitalizações e a pressão sobre o sistema de saúde provoca mais mortes desnecessárias”, afirmou ela.
Segundo Kerkhove, ainda que a variante P.1 represente um risco maior, ela pode ser contida com medidas básicas como uso de máscaras, redução da mobilidade e do contato físico e higiene das mãos.
As novas menções a problemas no Brasil acontecem um ano depois do registro da primeira morte por Covid-19 no Brasil: da paulistana Rosana Urbano, 57 anos, no Hospital Municipal Doutor Carmino Cariccio (zona leste). Trezentos e sessenta e cinco dias depois, o país conta 273 mil mortos e 11,2 milhões de casos confirmados.
Com informações da Folha de S.Paulo