No início de julho, a ex-BBB Lumena Aleluia imitou outros 75 mil brasileiros e passou a expor sua intimidade no Privacy, uma plataforma nacional de conteúdo adulto. Funciona da seguinte maneira: cada criador ou criadora mantém um perfil com fotos e vídeos exclusivos, cobrando assinaturas mensais que vão de R$ 5 a R$ 200 — a de Lumena, por exemplo, sai por R$ 79,90. E apesar de serem conhecidas pelo material erótico, plataforma como o nacional Privacy e o concorrente britânico Onlyfans também acumulam conteúdos não sensuais, como pinturas digitais e até dicas de nutrição e saúde física.
Além disso, essas plataformas tiveram tamanho impacto que remodelaram as formas de produzir e consumir conteúdos adultos por assinatura. Se antes o monopólio e controle eram de produtoras ou revistas — feitas majoritariamente por homens para o público masculino —, como a estadunidense Playboy, agora a autonomia está nas mãos de quem produz.
Em entrevista para o jornal O Globo, Lumena conta ter total autonomia tanto no “processo criativo” quanto no ritmo de produção — ou seja, o tipo e volume de material que irá compartilhar com seus seguidores. Outro detalhe importante é que ela define o valor de sua mensalidade e a embolsa diretamente (ou quase: a plataforma fica com 20%).
Na primeira semana, Lumena faturou R$ 100 mil com os nudes no Privacy. E isso é uma parcela pequena que as plataformas geram.
Somente durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, os usuários da plataforma social de conteúdo adulto gastaram R$ 12,72 bilhões em 2020, um crescimento de 553% em relação à receita ao ano anterior. O lucro da empresa britânica saltou de R$ 42 milhões para R$ 371 milhões em 2020.
De anônimos a famosos
A mais importante plataforma do gênero, o OnlyFans, foi criada no Reino Unido em 2016 e reúne hoje, segundo estimativas, entre 26 milhões e 50 milhões de usuários. Entre os inscritos estão celebridades brasileiras — como Anitta, Valeska Popozuda e Geisy Arruda — e estrangeiras, como Cardi B e Chris Brown.
A pandemia ajudou a expandir esse mercado, com anônimos buscando formas de renda sem sair de casa. A Privacy, que conta com 16 milhões de usuários, foi lançada em 2020 para concorrer com o OnlyFans.
E agora o próprio PLBY Group Inc, dono da marca Playboy, teve que se reinventar criando uma ferramenta nos mesmos moldes, a Centerfold.
Mais dinheiro que o esporte
Key Alves, 22 anos, é a atleta profissional de vôlei mais seguida do mundo no Instagram, com 2,3 milhões de seguidores. E não é apenas lá que ela faz sucesso. Suas fotos na página de conteúdo adulto OnlyFans são comercializadas mundo afora.
Segundo ela, os rendimentos que, chegam a mais de R$ 100 mil por mês, têm sido maiores que os da prática esportiva.
Reserva no time do Osasco, está no terceiro ano na equipe profissional e não pensa em abandonar o esporte, mas confessa que o mundo da internet tem crescido de forma exponencial.
Segundo Key, a maior renda que possui hoje é oriunda dos conteúdos promovidos e vendidos através das redes. Ela diz ser, além de atleta, modelo, influenciadora e empresária, já que mantém alguns negócios.
Plataforma nacional supera Onlyfans no Brasil
Uma pesquisa da SimilarWeb, companhia de tecnologias de informação, demonstrou que a Privacy ultrapassou a OnlyFans no ranking de acessos no Brasil, se tornando a maior plataforma de conteúdos por assinatura da América Latina. Com mensalidades de R$ 20 a R$ 100 reais, a plataforma já conta com 16 milhões de usuários e 75 mil criadores.
Segundo Fábio Monteiro, co-fundador e CEO da Privacy, o sucesso se dá pelo trabalho feito na retenção de vendas, incluindo o controle de fraude e chargeback, suporte jurídico e taxa de indicação para que o assessor também lucre com a venda dos conteúdos.
Além desses cuidados, a empresa também oferece ensaios fotográficos, uma rede de parceiros para impulsionar o crescimento dos creators através de divulgação, ativações de marketing, suporte aos clientes e gerentes de contas para administrar a parte comercial. Sendo uma plataforma 100% brasileira, o Pix é uma das opções de saque instantâneo com aprovação rápida para contas de residentes do Brasil.
Problemáticas e controvérsias
A popularização de plataformas como OnlyFans e Privacy não mudou apenas a indústria erótica. O uso da internet de forma geral acabou sendo impactado por essa dinâmica, acredita André Alves, psicanalista e pesquisador de cultura e comportamento.
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“O que acontece no OnlyFans não fica apenas no OnlyFans. As outras redes vão ficando mais e mais sensuais”, diz Alves. “O criador de conteúdo que cozinha só de avental vai ter mais views do que o que cozinha vestido. Para vencer no jogo da viralidade é preciso se objetificar mais, assim como mais gente passou a fazer dancinhas em outras redes depois do TikTok”.
Para o psicanalista, é importante que a sociedade tenha consciência do poder que dá a essas plataformas:
“Por um lado, essas plataformas estão possibilitando novos corpos, novos jeitos de olhar e de ser olhado. Por outro, há cada vez mais pessoas dependentes financeiramente delas. A pergunta que se deve fazer é: isso é mais aprisionante ou mais emancipatório?
Com informações do Globo e UOL