Por não haver nenhuma legislação internacional que impeça que vendas sejam feitas apenas para um país, a corrida pela vacina já era esperada
Nessa quarta-feira (22) os Estados Unidos fecharam acordo com as farmacêuticas Pfizer e Biontech para comprar, em 2020, 100 milhões de doses das vacinas contra a covid-19 que estão sendo desenvolvidas pelas empresas. A compra equivale ao volume máximo de unidades que as companhias teriam condições de produzir neste ano.
Para especialistas, a decisão da gestão de Donald Trump irá acirrar a corrida global por acesso à vacina e aumentar o temor de países com menos recursos.
A aposta dos EUA é arriscada, já que as vacinas desenvolvidas pela Pfizer e BionTech ainda precisam passar pela etapa 3 do estudo para ter sua eficácia comprovada. O governo americano vai desembolsar US$ 1,95 bilhão (quase R$ 10 bilhões) pelas 100 milhões de doses neste ano e mais 600 milhões de unidades ao longo do ano que vem.
Por não haver nenhuma legislação internacional impedindo que vendas sejam feitas apenas para um país, a corrida pela vacina já era esperada. No Brasil, o governo aposta em parcerias com farmacêuticas internacionais para não ficar para trás na disputa pelo imunizante.
Corrida pela vacina
Ao Estadão, a vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Isabella Ballalai, destacou que há um fundo da OMS e um esforço de articulação por parte da entidade para que todos os países tenham acesso à vacina, mas é improvável que, num primeiro momento, as indústrias tenham capacidade de produzir o imunizante para toda a população mundial.
A vacina Coronavac, que é desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech, e a AZD1222, da Universidade de Oxford com a farmacêutica britânica-sueca Astrazeneca, estão na 3 fase de testes e figuram entre os projetos mais promissores do mundo.
Ambas têm acordos de cooperação com o Brasil, que se comprometeu a fazer investimentos na pesquisa e com isso ter direito a acessar a tecnologia da vacina. Na prática, isso permite que o País produza o imunizante em laboratórios nacionais, garantindo assim a autonomia da vacinação.
No caso da primeira, a parceria é com a gestão João Doria (PSDB) e o Instituto Butantã, que ficará responsável por produzir pelo menos 120 milhões de doses, caso a eficácia fique comprovada. Já no segundo, é com o governo Jair Bolsonaro e a Fiocruz, que produziria 40 milhões de doses por mês.
Desafios para o Brasil
Professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e membro da Sociedade Brasileira de Imunologia, Helder Nakaya afirma que o país também deve estruturar a estratégia para conseguir fazer a vacinação em massa.
“Vamos ter desafios de infraestrutura, porque há poucos lugares capazes de produzir em larga escala: são poucas fábricas para o tamanho do País”, diz.
No primeiro momento, o foco deve ser para grupo mais suscetíveis à covid-19, como idosos ou pessoas com comorbidades, segundo afirma.
O especialista ainda alerta que há outras fases de testes a serem cumpridas, além da regulação da vacina.
“Do ponto de vista científico, estou otimista porque os primeiros resultados indicam que as vacinas funcionam para induzir uma resposta imunológica, mas todo o resto até chegar ao cidadão comum depende de outras coisas”, diz. “O meu medo também é que aconteça o que aconteceu hoje, com os Estados Unidos comprando a vacina dos outros.”
Com informações do Estadão