Há casos suspeitos em 35% do total das penitenciárias e centros de detenção e recuperação
Iniciadas em março, as medidas de segurança adotadas pelo governo paulista para evitar o avanço da covid-19 no sistema prisional não estão sendo suficientes.
O estado tem funcionários afastados e presos isolados por suspeita ou confirmação de infecção por coronavírus em 62 das 176 unidades prisionais, que representa 35% do total das penitenciárias e centros de detenção e recuperação.
Segundo registra a Folha, já são 79 presos isolados e 232 servidores afastados.
Já foram confirmadas 13 mortes de pessoas ligadas ao sistema, sendo 7 de detentos e 6 de funcionários. Uma morte foi registrada em Guarulhos, mas as demais se concentram no interior. Em Sorocaba dois detentos e um agente mortos morreram pela covid-19.
Os números são de um relatório interno do governo paulista, obtido pela Folha com dados produzidos até sexta-feira (8). De acordo com o documento o quadro atual envolve uma população de cerca de 223 mil pessoas confinadas por conta de decisões judiciais, definitivas ou provisórias, e cerca de 35 mil funcionários.
Medidas
Desde o dia 15 de março, de forma espontânea ou por determinação judicial, o governo de SP tem tomado medidas como a suspensão de todas as visitas de familiares e entrega presencial de alimentos – agora permitida por correios – e outros itens chamados de “jumbos”.
As proibições ainda atingiram as assistências religiosas e educacionais externas. Saídas temporárias de presos do regime semiaberto não só para o trabalho externo, mas também para as “saidinhas”, quando visitam a família em datas especiais foram suspensas.
Ainda como prevenção, funcionários do grupo de risco foram afastados de todas as unidades e medidas de segurança foram adotadas para impedir o acesso de funcionários infectados nas unidades.
“De todo servidor é medida a temperatura corporal; ele também precisa se higienizar para entrar na unidade, para evitar justamente o vetor de contaminação não seja de fora para dentro” disse o secretário da Administração Penitenciária, Nivaldo Restivo.
Aumento dos casos
Os dados obtidos pela Folha apontam aumento no número de presos e funcionários isolados ou afastados por suspeita de contaminação. No dia 23 eram 40 casos de presos e atualmente são 79. Já os funcionários, eram em torno de 40 e agora são 232.
O presidente do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo), Fábio César Ferreira, o Jabá, concorda com o secretário. “Somos nós que estamos levando [o vírus] lá para dentro”, disse.
O crescimento do número de funcionários infectados e o risco de levarem o vírus para dentro das prisões, preocupam o presidente do Sifuspesp (Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo), Fábio César Ferreira, o Jabá.
Junto com com a dificuldade de realizar testes que confirmem a doença, Jabá vê no apoio de muitos funcionários ao discurso do presidente Jair Bolsonaro, que classifica a doença de “gripezinha”, um grande empecilho para vencer esse quadro.
“A maioria apoiou o Bolsonaro [nas eleições] e a maioria reverbera esse discurso dele de “E daí se morreu muita gente?”, “Isso é um gripezinha”. […] Então, de vez em quando tem lá um servidor fazendo gracinha e não quer usar [os equipamentos de segurança]. Nossa recomendação é para que use”, disse.
Os sociólogos Álvaro Gullo, da USP, e Luis Flávio Sapori, da PUC Minas, defendem a soltura de presos com menor grau de periculosidade.
“É preciso acentuar a política de prisão domiciliar, intensificar esse tipo de medida principalmente para presos da baixa periculosidade, média periculosidade, que estão no regime semi-aberto”, disse Sapori. “Porque há um risco muito grande de ter uma mortandade de presos, em especial nos estados onde a doença está recrudescendo”, disse Gullo.
Até a última sexta-feira, foram soltos por determinação da Justiça 3.190 presos.
Com informações da Folha.