Um levantamento realizado pelo poral Poder 360 evidenciou que, dos internados por Covid-19 com ventilação respiratória invasiva em fevereiro — a intubação —, 87,9% morreram. É o pior mês desde o início da pandemia e demonstra a trágica escalada do coronavírus no Brasil.
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Considerando os intubados no mês de novembro, 80,2% morreram. Esse número subiu para 82,7% em dezembro, 85,3% em janeiro e atingiu seu maior patamar, com 87,9%, em fevereiro.
Segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 80% dos intubados morreram para a doença no país em 2020.
Situação dos estados
Dos dez estados em pior situação, oito estão nas regiões Norte e Nordeste do país. Essa comparação considera o período de março de 2020 a fevereiro de 2021. Em Santa Catarina, onde a situação é a menos grave do país, morreram sete de cada dez pacientes intubados.
Em âmbito global, o Brasil ainda lidera o número de mortes, ficando na frente de países como o México (74% de mortos depois de intubação) e o Reino Unido (69% de mortos depois de intubação).
Agravamento
O pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza, autor do estudo original, elenca alguns dos fatores que levaram à piora do quadro nos últimos meses:
- UTIs lotadas;
- centros médicos sem condições de atendimento;
- profissionais sem experiência de intubação;
- burnout das equipes;
- falta de equipamentos;
- quebra de protocolos de boas práticas.
“Vimos o colapso na região Norte e algum colapso na região Nordeste. Agora, estamos vendo uma evolução de colapso para todo o sistema de saúde brasileiro. Tem a sincronização da epidemia em todas as regiões e nas capitais.”
Fernando Bozza
Segundo o pesquisador da Fiocruz, a situação tende a se agravar e a piora do cenário poderá se dar de forma rápida. “A perspectiva para abril e maio é muito ruim. Se não aprofundar as medidas de contenção neste momento, não vai ter tempo hábil para o processo de vacinação fazer diferença. O que funciona é que as pessoas fiquem em casa e façam a sua parte”, diz.
Essa também é a opinião do médico Rodrigo Biondi, presidente da regional do Distrito Federal da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib). Ele avalia que aumentar as restrições à circulação de pessoas é a única solução possível neste momento.
“Não seria necessário lockdown se as pessoas respeitassem regras de distanciamento e de uso de máscaras. Mas elas não cumprem isso.”
Rodrigo Biondi
Biondi considera impossível aumentar o número de leitos de forma eficaz a curto prazo. Muitos dos que já foram implantados recentemente contribuem de forma precária para a cura dos pacientes. O maior problema, diz o médico, está na escassez de profissionais, incluindo médicos e enfermeiros. “No Reino Unido havia um enfermeiro por paciente antes da pandemia. Agora há um para três pacientes e eles dizem que é impossível trabalhar. No Brasil a legislação permite um para 10 e estamos com situações muito piores do que isso”, afirma.
Covid-19 no Brasil
Na última sexta-feira (26), o Brasil registrou novo recorde e computou 3.650 mortes por Covid-19 em 24 horas, de acordo com o levantamento do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Com a atualização, o país chegou a 307.112 vítimas da doença.
Essa é a segunda vez que o país tem mais de 3 mil óbitos em um só dia, a primeira foi na última terça-feira (23).
Também foram confirmados mais 84.245 casos, totalizando 12.404.414 desde o início da pandemia. Os números podem ser ainda maiores, já que os dados do Ceará não foram atualizados por problemas técnicos no acesso à base de dados.
Com informações do Poder360