O Ministério da Saúde admitiu a perda de 2,3 milhões de testes para a Covid-19. Os kits estão estocados em um almoxarifado e com prazo de validade a expirar. As informações estão em documento enviado pela pasta ao Ministério Público Federal (MPF) em abril e faz parte de um inquérito sobre aquisição e distribuição de testes que corre no MPF. O processo foi enviado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia esta semana.
Além de não seguir a recomendação de organizações de saúde de todo o mundo de testar a população como uma das medidas de contenção da pandemia, a inércia ainda pode causar um prejuízo de R$ 67, 5 milhões aos cofres públicos.
No documento enviado ao MPF, o ministério afirma que guardava, em abril, 4,3 milhões de testes com prazo de validade prestes a expirar. Desse total, havia estimativa de perda de pelo menos 2,3 milhões por causa do vencimento.
Hoje, há ainda quase 2 milhões de exames estocados nas mãos da pasta . Desse volume, cerca de 1,6 milhão perde a validade neste mês. Há lote que vence nesta sexta-feira (14). Cada teste custou R$ 42,30.
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O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), condena a negligência do governo federal.”Morreram 430 mil brasileiros morreram de covid-19, mas o governo federal está prestes a jogar no lixo pelo menos 2,3 milhões de testes”, escreveu.
Prazo de testes com vencimento ampliado
Os testes venceriam a partir de dezembro, mas tiveram a validade estendida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) até maio.
Segundo o Ministério da Saúde, no documento, os Laboratórios Centrais de Saúde Pública conseguiram aumentar o percentual de testes RT-qPCR, que detectam infecção ativa pelo coronavírus, ao reduzir o prazo do resultado para até cinco dias.
A média atual de testagem, no entanto, continua não sendo suficiente para consumir todo o estoque de testes que irão vencer em maio, de acordo com a pasta no documento enviado ao MPF. Até agora foram feitos 16,6 milhões de análises. A meta era ultrapassar 24 milhões em dezembro de 2020.
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O ministério já afirmou que poderá trocar os testes sem validade por produtos novos, mas não disse como será esse procedimento.
Queima de testes
O documento também diz que os testes foram adquiridos com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Afirma ainda que em junho do ano passado pediu que a Opas paralisasse a entrega de 4 milhões de testes devido a “pouca saída dos kits” e falta de espaço no almoxarifado de Guarulhos, onde estão os kits. Ameaçou ainda incinerar o material excedente.
Saúde acusa Organização Pan-Americana
Segundo a pasta, a suspensão temporária de testes ocorreria até que fossem definidas as novas estratégias para testagem da população. No documento, o órgão acusa ainda a Opas de querer obrigar a pasta a receber os kits, “sem que o ministério tenha aceito o cronograma de entrega”.
A Opas alegou que quando foi solicitada a suspensão do envio, em junho de 2020, todos os kits já haviam sido entregues. Com isso, o ministério recusou parte dos testes enviados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Medidas insuficientes
O Ministério da Saúde afirmou que foram criadas plataformas de alta testagem, em 2020, para aumentar a capacidade de realização dos testes. Mas não houve o aumento esperado. O argumento é que a falta de fornecedores de materiais de coleta, a realização de extração manual, o aumento do número de amostras e a diminuição dos recursos humanos por causa da restrição ao trabalho presencial impediram aumentar a velocidade dos resultados.
A pasta disse que à época iniciou a contratação de testes e equipamentos para extração automatizada, a fim de ampliar a média de processamento pelos laboratórios. O contrato, no entanto, foi cancelado em setembro. Antes disso, o minsitério afirma ter adquiridos dez equipamentos para analisar o material coletado dos pacientes e mais 3 milhões de testes.
“Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) conseguiram diminuir o tempo de liberação dos resultados para uma média de 0 a 5 dias, aumentar o percentual de testes realizados para mais de 90% das solicitações e, assim, detectar um maior número de casos positivos”, afirma o documento enviado ao MPF.
Mas admite que as medidas foram insuficientes para utilizar os testes estocados.
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Com informações da Folha de S. Paulo