As seguidas declarações atabalhoadas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do seu ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, provocaram um colapso na diplomacia brasileira em plena crise da vacina contra o coronavírus.
Após insultar o governo da China desde a campanha eleitoral e orientar os diplomatas brasileiros a votarem contra os interesses da Índia em negociações internacionais sobre suspensão de patentes para a fabricação de medicamentos, Bolsonaro amarga a dificuldade de importar insumos dos dois países para a fabricação, no Brasil de imunizantes contra a doença.
Tanto o Butatan quanto a Fiocruz dependem do chamado “Ingrediente Farmacêutico Ativo” para produzir novos lotes de vacinas. Conhecido como IFA, a substância é quem garante a geração de anticorpos contra o coronavírus e mais de 75% deste produto são produzidos na China e na Índia.
Para fazer as vacinas já autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil depende totalmente dos dois países.
Afastamento de Araújo é defendido por embaixadores
No desespero, um grupo de diplomatas tenta contornar os problemas criados com os dois países pelo presidente e seu chanceler. Segundo informa o portal UOL, são embaixadores de segundo escalão do Itamaraty e os representantes do Brasil nestes dois países que estão tentando convencer as autoridades destes países a liberarem a exportação matéria prima.
A crise diplomática que provoca reflexos graves na saúde pública brasileira, fez com que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), marcasse para esta quarta-feira (20) uma audiência com o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, para tentar contornar o impasse. A crise com a China começou ainda na campanha quando o presidente Bolsonaro e seu grupo mais ideológico acusavam o paÍs asiático de ter criado o vírus.
Pelo acordo do Butatan com a farmacêutica chinesa Sinovac, até abril está previsto a chegada de um lote com 46 milhões de doses. Além das 6 milhões iniciais que já estão sendo distribuídas e aplicadas em grupos de risco, outras 4 milhões e 800 mil estão disponíveis e aguardam resposta do pedido de uso emergencial em análise pela Anvisa.
Críticas internas à diplomacia brasileira
Em crítica direta ao chanceler brasileiro, nesta quarta-feira (20), o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou à Folha de S.Paulo: “Qualquer intercambista recém-saído da escola faz mais pelo Brasil no exterior que Ernesto Araújo”.
O presidente da Frente Parlamentar Brasil-China na Câmara, deputado Fausto Pinato (PP-SP) se uniu ao grupo que pede a saída imediata de Araújo. Pinato acredita que para o governo ter facilitado o acesso aos insumos e à vacina fabricados pelo laboratório chinês será necessária uma mudança de postura.
“A China não irá priorizar o Brasil enquanto não houver novo canal de diálogo. O presidente Bolsonaro precisa fazer um gesto. Não adianta bater e depois vir e tentar agradar. Tem que ter um gesto concreto. Por exemplo, trocar o ministro das Relações Exteriores”, disse o deputado à coluna Radar, da Veja.
Twitter pede saída de chanceler
Na manhã desta quarta (20), o Twitter também foi tomado por reações de políticos, anônimos e famosos pedindo a demissão do ministro das Relações Exteriores. O nome chegou ao trending topics da rede social.
Candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo nas eleições 2020, Guilherme Boulos acusou Araújo, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, de terem afundado a relação do Brasil com a China.
“O Brasil corre o risco de ficar sem vacinas suficientes por falta de insumos da China por causa de Jair Bolsonaro e três imbecis: Dudu Bananinha, Ernesto Araújo e Weintraub”
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