O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tentou passar um clima de tranquilidade a chefes do Executivo na tarde da quarta-feira (17), no entanto, apresentou um cronograma de vacinação pouco factível durante encontro do Fórum de Governadores.
Investigado pela condução do enfrentamento da pandemia da Covid-19 e pressionado pela escassez de vacinas que já paralisou a imunização em pelo menos três capitais – Rio de Janeiro, Cuiabá e Salvador –, Pazuello apresentou um cronograma que incluiu a entrega de imunizantes ainda não contratados ou aprovados para uso no Brasil, como é o caso da Sputnik e da Covaxin, e ignorou atrasos, como a demora na chegada dos insumos para a produzir a Coronavac.
“Temos uma previsão fantástica de recebimento de vacinas”, afirmou Pazuello aos governadores, segundo uma autoridade que acompanhou a reunião.
Planejamento controverso
Ainda de acordo com o planejamento exibido a governadores, o Brasil deve receber cerca de 454,9 milhões de doses de vacinas em 2021, sendo 10 milhões de doses da russa Sputnik – 400 mil doses apenas previstas já para o próximo mês de março.
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O imunizante, no entanto, segue à espera da liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A vacina se tornou alvo de uma queda de braço travada entre parlamentares e a agência, desde que congressistas exigiram mudanças nas regras para liberação do imunizantes por meio de Medida Provisória.
Também prevista no plano de Pazuello, a Covaxin já teve a aprovação para uso emergencial na Índia, mas os dados da fase 3 dos ensaios clínicos do imunizante, que mostram a taxa de eficácia, ainda não foram divulgados. A apresentação desses resultados é essencial para a aprovação do produto pela Anvisa e posterior uso no Brasil.
Atrasos para produção da Coronavac
No caso da Coronavac, a programação federal desconsidera problemas na entrega de insumos e doses do imunizante, que prejudicaram a fabricação local da Coronavac e só chegaram ao Brasil no último dia 6 de fevereiro.
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O atraso foi motivado pelos imbróglios diplomáticos entre o governo de Jair Bolsonaro e a China, que só liberou matéria-prima da Coronavac após uma verdadeira ofensiva diplomática, quando já se falava na interrupção da produção.
Pelo contrato original, era prevista a entrega de 9,3 milhões de doses até 28 de fevereiro. Neste mês, porém, o Butantan entregou 1,1 milhão no dia 5 e, a partir do dia 23, prevê a entrega de mais 3,4 milhões de doses, durante oito dias. O ministério, porém, ainda contabiliza as 9,3 milhões de doses em fevereiro.
Outras negociações de Pazuello
De julho a dezembro, a previsão é de que a Fiocruz fabrique de ponta a ponta 110 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca, mas não há quantidade exata para cada mês. A Saúde prevê também ter 30 milhões de doses da vacina da Moderna em outubro.
Pazuello ainda apontou como “possibilidades” a compra das vacinas da Pfizer, com previsão de entrega de cerca de 8,71 milhões de doses em julho e outras 32 milhões em dezembro, além da compra de 16,9 milhões de unidades da Janssen. Essas negociações, disse ele, enfrentam “óbices” jurídicos”.
“Gestão de Pazuello”
Enquanto o governo federal disfarça a imbróglio na gestão dos produtos, dados estaduais mostram que mais de 80% das primeiras doses distribuídas já foram usadas também em Fortaleza, Teresina, Florianópolis e Campo Grande, além do Distrito Federal.
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A falta de vacinas para iniciar novas rodadas de imunização está restrita a algumas regiões do Brasil por enquanto, mas esse é um risco generalizado para os entes da federação brasileira, afirmam entidades que representam os municípios.
“O problema é localizado. Mas, até sábado, mais cidades ficarão sem vacina. Se não chegar nova remessa na semana que vem, a situação vai se tornar muito difícil”, disse ao Valor Jonas Donizette (PSB), prefeito de Campinas e presidente da Federação Nacional dos Prefeitos (FNP), que reúne municípios com mais de 100 mil habitantes.
Reações de governadores
A falta de assertividade de Pazuello foi criticada por governadores.
“Não basta calendário. É preciso, urgente, ampliar a quantidade de doses de vacina”, disse a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT).
“Se houver as entregas previstas até o final do ano, creio que nós temos pela primeira vez um Plano Nacional de Imunização que possa ser levado a sério”, disse Flávio Dino (PCdoB) à CNN Brasil, após a reunião.
Com informações do Estadão e Valor