
O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) anunciou na tarde desta quarta-feira (20) que acionou a Justiça Federal para que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) tire o aplicativo TrateCOV, mantido pelo ministério da Saúde, imediatamente do ar. O app recomenda o que chama de “tratamento precoce” a pacientes que têm sintomas que podem ou não ser da Covid-19. A informação foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Os cuidados incluem uso de medicamentos que, segundo demonstraram diferentes estudos, não funcionam contra a doença, como o uso de antibióticos e cloroquina, ivermectina e outros fármacos para náusea e diarreia ou para sintomas de uma ressaca, como fadiga e dor de cabeça. Conforme já anunciaram pesquisadores e cientistas, não existe um “tratamento precoce” que se mostrou eficaz contra a Covid-19.
“Estou acionando a Justiça Federal para retirar do ar o aplicativo TrateCOV, do MS, que está sendo usado ilegalmente para estimular o uso de cloroquina, inclusive em casos cujos sintomas descritos são de ressaca! Pazuello tem que responder por crime contra a saúde pública”, afirmou o deputado em suas redes sociais.
Saúde apresentou app em meio ao caos no AM
Na página, médicos e enfermeiros podem inserir dados do paciente – como peso, altura, e comorbidades – e sintomas. Também há campos em que o profissional responde se o paciente saiu ou não de casa nos últimos dias e para onde foi.
A lista de medicamentos sem eficácia comprovada é sugerida pela plataforma para qualquer soma de dois sintomas, mesmo se o paciente não saiu de casa ou teve contato com algum infectado nas duas últimas semanas.
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Além de sugerir o uso dos fármacos, após a recomendação, o profissional de saúde precisa informar se vai ou não usar o “tratamento precoce” para aquele paciente. Caso não utilize, precisa justificar. Ele também precisa inserir o número do CRM (registro profissional para médicos) ou do Coren (para enfermeiros).
O aplicativo foi apresentado pelo ministro Eduardo Pazuello na semana passada, quando esteve em Manaus (AM), em meio à explosão de casos da doença na cidade.
Recomendação até para recém-nascidos
O Ministério da Saúde afirma que o TrateCOV sugere o diagnóstico por meio de sistema de pontos que obedece “rigorosos critérios clínicos”. O teste com o produto é feito em Manaus, onde mais de 340 profissionais de saúde foram cadastrados no sistema. O ministério afirma que deseja expandir o uso a outras cidades.
A indicação de uso de cloroquina e antibiótico pode ser feita até a um recém-nascido com diarreia e fadiga, pois a idade não interfere na pontuação apresentada pelo aplicativo.
Obsessão de Bolsonaro pela cloroquina
Depois do Brasil se isolar em relação ao uso das substâncias, mesmo contra as recomendações de especialistas, na terça terça-feira, a obsessão do governo em promover a medicação foi alvo de um novo escândalo.
A agência Fiquem Sabendo divulgou que o Itamaraty articulou a compra entre empresas brasileiras e indianas do medicamento. Na denúncia, há documentos que mostram conversas trocadas pelo menos desde março, quando começou a pandemia, entre o diplomata Elias Luna Santos, da embaixada do Brasil em Nova Deli, capital da Índia, com empresas indianas que comprovam a negociação. Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).
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