Não é de hoje que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vem sendo alvo de duras críticas por conta de declarações polêmicas. Considerado um dos quadros técnicos mais importantes do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), o neoliberal convicto ganhou mais notabilidade com expressões controvérsias do que pelo péssimo desempenho da economia brasileira.
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Em uma das últimas declarações, sem saber que estava sendo gravado, criticou o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e afirmou que o governo federal deu bolsas no ensino superior para “todo mundo” e que o “desastre” enriqueceu meia dúzia de empresários, beneficiando até quem não tinha a “menor capacidade” e “não sabia ler nem escrever”.
Segundo ele, o filho do seu porteiro foi beneficiado mesmo após zerar o vestibular. No entanto, o edital do programa prevê a exigência de nota mínima para aprovação do financiamento. Posteriormente, como de costume, Guedes pediu desculpas e disse que o objetivo não foi criticar o acesso à educação pelos mais pobres, mas alertar para a baixa qualidade de faculdades privadas.
Socialistas reagem à fala de Guedes
O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), criticou o posicionamento ofensivo do ministro. “Preconceituosa, a fala de Guedes de que o Fies bancou universidade até para ‘filho de porteiro’ expõe uma visão de governo que reforça desigualdades, em vez de superá-las”, comentou o parlamentar socialista.
“Eu sinto asco quando ouço algumas frases proferidas pelo ministro Guedes”, escreveu o ex-governador do Distrito Federal, o socialista Rodrigo Rollemberg.
O deputado federal licenciado Denis Bezerra (PSB-CE) avaliou, em uma sequência de postagens, que o ministro não reconhece as conquistas sociais e históricas que revolucionaram e ajudaram a melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. “Sem o financiamento do Fies muitos desses jovens sequer teriam acesso ao ensino superior”, afirmou.
O ex-senador socialista pelo Amapá, João Capiberibe, classificou Guedes como “tosco, grotesco, ridículo, um autêntico ministro de Bolsonaro”.
O deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ), comentou que Guedes quer economia sem pobres e velhinhos. “Atribuiu a quem vive + de 90 anos a falta de equipamentos na Saúde. Agora culpa o deficit do FIES às bolsas atribuídas aos filhos de porteiros”, lamentou.
Fala de Guedes contra a China
Na noite desta terça-feira (27), Guedes pediu desculpas por ter, nas palavras dele, utilizado uma “imagem infeliz” ao afirmar que os chineses “inventaram” o coronavírus e ainda produziram vacinas de eficácia mais baixa do que as desenvolvidas por farmacêuticas dos Estados Unidos.
O ministro deu a declaração polêmica em uma reunião sobre saúde suplementar realizada na manhã da última terça (26) no Palácio do Planalto. Ele não sabia que estava sendo gravado. A fala é uma teoria bolsonarista sem comprovação, mas difundida nas redes sociais, de que a China desenvolveu o vírus da Covid-19 em laboratório com interesses econômicos. Após a reunião, o Ministério da Saúde retirou o vídeo da página da rede social da pasta.
O embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, rebateu a declaração em sua rede social. O diplomata lembrou que até o momento, a China é o principal fornecedor de vacinas contra o coronavírus ao Brasil. Afirmou que as vacinas fornecidas pelo país asiático correspondem a 95% do total recebido pelo Brasil e que são suficientes para cobrir 60% dos grupos prioritários na fase emergencial. A CoronaVac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil.
Além disso, a China também é o maior parceiro comercial do Brasil. O ministro tentou reduzir os danos que sua fala causou e disse que usou uma “imagem infeliz” ao falar sobre “chinês que inventou o vírus”.
Aumento da expectativa de vida é alvo de Guedes
Em mais uma controvérsia, o ministro da Economia afirmou que não foi a pandemia da Covid-19 que tirou a capacidade de atendimento do setor público, mas sim “o avanço na medicina” e “o direito à vida”. Para ele, “todo mundo quer viver 100 anos” e que “não há capacidade de investimento para que o Estado consiga acompanhar” a busca crescente por atendimento médico.
De acordo com o ministro, o Estado “quebrou”, e diante da escassez de recursos do sistema de Saúde, o setor público não terá capacidade de atender à demanda gigantesca de atendimento à população.
Desde 1940, a expectativa de vida do brasileiro médio só vinha aumentando, ano após ano. Dos anos 40 para 2019, houve um acréscimo de de 31,1 anos de vida para alguém que nascesse no Brasil, e o número passou de 45,5 anos para 76,6.
Falta de censo é culpa do Congresso
Após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello ter determinado que o governo adote as medidas voltadas à realização do Censo, Paulo Guedes argumentou que o corte de recursos para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Orçamento de 2021 foi feito pelo Congresso Nacional, e não pela equipe econômica.
Ele alegou que a explicação dada pelo Congresso foi que “com a pandemia, o isolamento social impediria que os pesquisadores fossem de casa em casa transmitindo o vírus”. Durante a tramitação do Orçamento de 2021, foi retirada uma previsão de cerca de R$ 2 bilhões para a realização do Censo neste ano e as emendas parlamentares foram redistribuídas.
No momento da sanção, o presidente Jair Bolsonaro vetou outros R$ 17 milhões que poderiam ser usados na preparação da pesquisa para 2021. Esse corte deve levar a um adiamento ainda maior do Censo, para 2023. A previsão original era realizá-lo em 2020.
Dólar, Classe C e Disney
Em fevereiro de 2020, durante evento organizado por uma publicação política, em Brasília (DF), Guedes disse que a desvalorização do câmbio não era, na sua visão, um problema tão sério para o Brasil. Ao mencionar períodos em que o Real esteve mais valorizado, disse que empregada doméstica estava indo para a Disney, “uma festa danada”.
Com informações do O Dia, O Globo, Bol, Estado de Minas, Folha de S. Paulo e Gaúcha ZH