
Para que as ideias propostas pelo partido cheguem e convençam as pessoas é preciso se adaptar às novas tecnologias, que modificaram radicalmente a forma de se comunicar. É o que afirma o ex-governador de São Paulo e presidente da Fundação João Mangabeira (FJM), Márcio França. Ele foi o convidado da 24ª live da Revolução Brasileira no Século 21, que debateu os processos eleitorais, nesta quinta-feira (28).
“Os partidos perderam o lastro com a realidade. A grande maioria das pessoas não está ligada no que a gente está fazendo”, afirma Márcio França.
Para ele, é necessário “aprender uma nova linguagem” para conseguir chegar às pessoas. Isso porque a modo de fazer política se alterou profundamente com o surgimento das novas tecnologias.
“No meu tempo, militar era distribuir panfletos, conversar com as pessoas na rua. Hoje fazemos dessa forma, digital e certamente conseguimos atingir muito mais gente”, analisa.
Por isso, ele afirma que a tarefa do PSB é grandiosa em seu processo de Autorreforma no intuito de buscar instrumentos que permitam o partido avançar em busca das ferramentas tecnológicas que auxiliem essa aproximação com a sociedade.
“A pior coisa que o país pode fazer é continuar a trilhar o caminho tradicional. Precisamos renovar as nossas práticas, claro que essa renovação apresenta riscos, pois não sabemos exatamente onde vai dar, mas temos que ter a ousadia de modernizar nossa forma de fazer política”
Carlos Siqueira, presidente do PSB
Também participaram do debate o coordenador do site Socialismo Criativo e membro do Diretório Nacional do PSB, Domingos Leonelli. A mediação foi feita por James Lewis.
Confira tudo o que rolou sobre a Revolução Brasileira
Tecnologia e gerações
“Política, entre outras coisas, é um ato de convencimento e de traduzir temas difíceis para uma linguagem simples porque muitas pessoas não tiveram o estudo adequado para conseguir entender os temas mais difíceis”, destaca Márcio França.
Por outro lado, os partidos também precisam aprender as novas formas de se comunicar.
“Temos que aprender uma linguagem nova e temos dificuldade. Nós envelhecemos, somos de outra geração. Primeiro, a que reconquistou a democracia porque só consegue entender o que é a ausência de democracia passou pela falta da democracia. Ao longo dos anos, houve uma ocorrência principal que é o surgimento da internet e os mecanismos que ela produziu. Ela é uma revolução. O problema é que nós, os partidos, somos analógicos, e as pessoas, mais jovens em especial, são digitais”, analisa.
Juliene Silva ressalta que para as novas gerações, é muito importante entender a “dinâmica geracional”.
“Para a minha geração e as mais novas, os meios de comunicação se dão a partir das redes sociais. Minha geração escolhe médico através das redes, assim como empresas que contratam a partir das redes sociais e muitos políticos também são escolhidos por lá. Se não trouxer a comunicação [do partido] para o modelo atual, a gente perde energia e participação da juventude, que é essencial”, afirma.
Márcio França sugere novas tecnologias
Márcio França propõe a criação de uma plataforma que permita decidir questões partidárias em todas as instâncias do partido. O objetivo é garantir ampla participação dos filiados, que poderia participar das decisões de qualquer lugar.
“Seria uma revolução. Pela mesma lógica, isso também poderia ser feito em governos”, acrescenta.
Ele citou a estratégia usada por Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições de 2018, que teve as redes sociais e aplicativos como base da sua campanha. E fez um alerta.
“Um ano antes, se alguém me perguntasse sobre as chances de Bolsonaro ser eleito presidente, eu diria que não havia nenhuma. E muitos já contam que a eleição está perdida para ele. O que é um erro e não podemos repetir. E, se isso acontecer, não veremos outro nome na presidência da República tão cedo, como aconteceu em diversos países aqui do nosso lado”
Márcio França
Domingos Leonelli afirma que a tese sobre a ‘democracia digital’ está sendo trabalhada na Autorreforma do partido, também defendida pelo presidente Carlos Siqueira. O socialista reafirma a necessidade de mostrar para a população os valores defendidos pelo partido.
“Precisamos conseguir demonstrar a população que nossos valores ideológicos são superiores aos dele [Bolsonaro] com uma linguagem clara”, pontua.
James Lewis reforça a necessidade de análise do momento presente sem esquecer o passado para evitar que momentos obscuros do passado retornem.
“Temos que fazer a reflexão do presente pensando nos momentos históricos do passado, quando vivemos o oposto de um processo eleitoral, um regime ditatorial que suprimiu o sistema político brasileiro”, rememorou.