É preciso planejar as ações que vão permitir a concretização do plano nacional de desenvolvimento defendido pelo PSB. É o que avaliam a urbanista Ana Carla Fonseca e a economista Lídia Goldenstein.
As pesquisadoras participaram da 2ª Oficina Temática da Autorreforma do PSB, nesta segunda-feira (27), que debateu ‘Economia Criativa – Cidades criativas e renascimento criativo da indústria’.
Para Ana Carla Fonseca, a formação da população e a possibilidade de mudar de área de atuação profissional é imprescindível para fazer a migração dos postos de trabalho que se fecham com os avanços tecnológicos para os novos empregos que surgem. Ela exemplifica com programas sociais implementados em países europeus, em que o benefício é maior para quem tem menos qualificação. Os valores recebidos só podem ser utilizados para formação profissional.
“É a possibilidade de mudar de profissão. A gente não condena a pessoa a seguir na profissão que ela não está satisfeita, mas abre a possibilidade para outras áreas”, exemplifica a pesquisadora que é administradora pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV); economista, mestre em Administração e doutora em Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisadora Lídia Goldenstein pontua a necessidade de mexer nas estruturas de poder. De acordo com ela, todos setores da sociedade tentam defender seus próprios interesses, muitos dos quais “indefensáveis”, nas palavras da economista.
“Vamos descer em níveis de sofisticação para desenvolver [o plano de desenvolvimento nacional] e de como sair da armadilha de que todo setor da sociedade está: sentada em cima do seu filão e toda a sociedade é prejudicada”, propõe a pesquisadora, que é mestre e doutora em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é especialista em economia brasileira e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, que fez a abertura da Oficina, destacou que o objetivo do evento é refinar as teses do partido, que tem a economia criativa como uma das estratégias do plano nacional de desenvolvimento defendido pelo partido.
“Entendemos claramente que a inovação, criatividade, sustentabilidade são fundamentais nesse século 21. Isso resultará, a nosso ver, no renascimento criativo da indústria. E o país deixará essa posição de país conveniente”, afirmou o dirigente ao se referir a reprimarização da indústria.
O debate foi mediado por Paulo Bracarense, integrante da Comissão de Sistematização da Autorreforma.
Inteligência Artificial e desenvolvimento
Ana Carla Fonseca destacou que a Inteligência Artificial (IA) é um dos pilares da economia criativa. Por isso, é necessário buscar o equilíbrio entre o uso da IA e o uso responsável das tecnologias emergentes. Algo que a Finlândia, por exemplo, está fazendo.
“Na Finlândia há a meta de forma 1% da população em IA. [Pretendem] formar uma massa crítica no país. Há cinco dias o Reino Unido anunciou sua estratégia IA. Aqui no Brasil a gente continua não trabalhando”, Ana Carla Fonseca
Para Lídia Gondenstten é preciso que os país seja mais incisivo. E exemplifica com o que está em curso na China.
“A China está em seu quarto plano quinquenal. O país prevê que, até 2030, eles perderão 220 milhões de empregos. A ideia não é preservar esses empregos, mas criar outros empregos em outros setores. Transformar essa mão de obra e empregá-la em novos empregos que serão criados.”
Lídia Gondenstten
Ao mesmo tempo que prevê a perda de tantos postos de trabalho, a China propõe reformar essa mão de obra. A previsão do país é de crescimento em 51% dos empregos que necessitam das novas habilidades tecnológicas.
E cita o caso de cobradores de ônibus.
De acordo com ela, há 30 anos é discutido em São Paulo se a função deve ou não ser mantida. A economista questiona justamente o peso que a sociedade arca com a manutenção de um emprego que não faz mais sentido por não trabalhar a mobilidade dos trabalhadores de funções obsoletas para as que o país carece atualmente.
“É um exemplo bobo, mas emblemático. Mas a gente não consegue fazer essa modernização – tanto das industrias como dos governos. Como chegar lá. É aí que a gente tem que aprofundar”, ressaltou.
Requalificação necessária ao desenvolvimento
Domingos Leonelli, integrante da Comissão de Sistematização da Autorreforma e coordenador do site Socialismo Criativo,
avalia que o desafio da Autorreforma do PSB é encontrar os novos empregos, requalificar os trabalhadores e renovar a capacidade inovadora do próprio Estado.
“O Estado brasileiro subsidia o atraso a pretexto da chantagem de preservar empregos que não preservou.”
Domingos Leonelli
Juliene Silva, membro da direção da Juventude Socialista Brasileira (JSB) e integrante da Comissão de Sistematização da Autorreforma, defende a estruturação prévia necessária para o país poder desenvolver a economia criativa.
“Nosso processo educacional ainda não está conectado com esse desenvolvimento.”
Juliene Silva
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Atraso tecnológico x desenvolvimento
A economista Lídia Goldenstein, observa como o país está atrasado, por exemplo, com relação à internet 5G. A quinta geração da internet ainda está nos trâmites para a realização do leilão.
“O cronograma está extremamente atrasado. Os outros países já começaram em 2019. Quando o Brasil conseguir implementar o 5G, em 2025, o mundo já vai estar pensando no 6G. Essa infraestrutura que vai permitir uma transição criativa da indústria. Não existe indústria moderna sem 5G”, afirma.
A pesquisadora cita o agronegócio. A modernização do campo, observa, vai regular inclusive o uso de água e agrotóxicos já que as quantidades necessárias serão ajustadas pelas próprias máquinas e permitirá redução das quantidades.
“As novas tecnologias permitem rapidamente modificar o que se está produzindo dentro de uma linha de produtos. No chão de fábrica é inovação: design, produto, novos materiais, formas de contatar clientes, fornecedores. Nesse sentido, volta para a educação. O operário fazia a mesma coisa o tempo todo. Não precisava ser criativo. No novo modelo, porém, para fazer robô você precisa de uma mão de obra altamente treinada, sofisticada e criativa”, destaca.
Raíssa Rossiter, da Comissão de Sistematização da Autorreforma, lembra que no cenário atual, falar da indústria criativa é falar de como as coisas se conectam.
“A perda de competividade é dramática. A indústria ocupava cerca de 30% do PIB. Hoje, menos de 10%. Mais do que nunca precisamos de pragmatismo pra transformar nossa realidade tão desigual.”
Raíssa Rossiter
Municipalização da economia criativa
Também integrante da Comissão de Sistematização da Autorreforma, Sinoel Batista observa a importância de se levar o debate da economia criativa para os municípios.
No município, as pessoas têm rosto, tem família, nome, sobrenome. Deixam de ser um número e passam a ter essa identidade, porque no município a coisa é muito diferente da realidade nacional e estadual. É nesse território que se materializam todas as contradições.”
Sinoel Batista