Uma economia verde “não deve ser temida, mas (encarada como) uma oportunidade a ser aproveitada”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta segunda-feira (2), em uma palestra aos delegados na abertura da Conferência Climática da ONU (COP25) em Madri.
Guterres delineou o programa de trabalho para o que será um evento de duas semanas, cobrindo vários aspectos da crise climática, incluindo capacitação, desmatamento, povos indígenas, cidades, finanças, tecnologia e gênero. “As tarefas são muitas”, disse ele, “nossos prazos são apertados e todos os itens são importantes”.
A conferência deve transmitir uma firme determinação em mudar de rumo, demonstrar que o mundo está seriamente comprometido em parar a “guerra contra a natureza” e tem vontade política para alcançar a neutralidade de carbono até 2050, continuou ele.
A COP25 marca o início de um processo de 12 meses para revisar as Contribuições Nacionalmente Determinadas, os compromissos assumidos no âmbito do Acordo Climático de Paris, de 2015, e garantir que sejam ambiciosos o suficiente para derrotar a emergência climática.
Superar divisões, colocar um preço no carbono
Sinais encorajadores de progresso saíram da Cúpula de Ação Climática da ONU, realizada em setembro, disse Guterres, que contou com iniciativas propostas por pequenas nações insulares e países menos desenvolvidos, grandes cidades e economias regionais, bem como pelos setores privado e financeiro.
A intenção declarada de cerca de 70 países de enviar as contribuições aprimoradas em 2020 – com 65 países e grandes economias comprometendo-se a trabalhar para as emissões líquidas zero até 2050 – enquanto governos e investidores estão se afastando dos combustíveis fósseis, também foram citados como sinais positivos.
O chefe da ONU pediu aos líderes que acabem com as divisões sobre as mudanças climáticas e cheguem a um consenso sobre o preço do carbono, uma ferramenta crucial para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Fazer isso, disse ele, “colocará os mercados em funcionamento, mobilizará o setor privado e garantirá que as regras sejam as mesmas para todos”.
No entanto, não decidir sobre o preço do carbono, alertou Guterres, pode fragmentar os mercados de carbono, enviando uma mensagem negativa que pode prejudicar os esforços para resolver a crise climática.
Ao longo de seu discurso, o secretário-geral foi bastante claro sobre o nível urgente e existencial da crise climática. O fracasso em agir, disse ele, será o caminho da rendição: “realmente queremos ser lembrados como a geração que enterrou a cabeça na areia, que brincou enquanto o planeta queimava?”.
Não é possível ignorar os sinais de um desastre, declarou. Por exemplo, a atual concentração de CO2 na atmosfera é comparável à observada entre 3 milhões e 5 milhões de anos atrás, quando a temperatura estava entre 2 e 3 graus Celsius mais quente do que agora e o nível do mar era 10 a 20 metros mais alto do que hoje.
Outros indicadores incluem o fato de que os últimos cinco anos foram os mais quentes já registrados, e ocorreram eventos climáticos extremos e desastres associados, de furacões a secas, inundações e incêndios florestais. As calotas de gelo estão derretendo rapidamente, o nível do mar está subindo e os oceanos estão se acidificando, ameaçando toda a vida marinha.
Enquanto isso, as usinas de carvão continuam sendo planejadas e construídas, e grandes e importantes partes da economia global – da agricultura ao transporte, do planejamento e construção urbanos ao cimento, aço e outras indústrias intensivas em carbono – ainda funcionam de maneiras insustentáveis.
“Não há tempo nem razão para adiar”, concluiu Guterres. “Temos as ferramentas, temos a ciência, temos os recursos. Vamos mostrar que também temos a vontade política que as pessoas exigem de nós. Fazer menos será uma traição a toda a nossa família humana e a todas as gerações vindouras.”
É tempo de os políticos liderarem
Falando em uma mesa-redonda com chefes de Estado e de governo presentes na COP25, Guterres pediu que eles liderassem, em um momento em que a opinião pública sobre o meio ambiente está evoluindo muito rapidamente, e cidades, regiões e a comunidade empresarial estão agindo para enfrentar a crise climática.
O secretário-geral lembrou que, na recente reunião do G20 das principais economias do mundo em Osaka, um grupo de empresas de gestão de ativos, representando cerca de 34 trilhões de dólares, havia pedido aos líderes políticos que melhorassem a ação climática, colocassem fim aos subsídios a combustíveis fósseis e precificassem o carbono.
O setor privado, acrescentou, está demonstrando cada vez mais um forte compromisso com o avanço e se queixa de que os governos estão atrasados: a regulamentação é inadequada, os sistemas fiscais não são favoráveis, os subsídios ainda estão sendo usados para combustíveis fósseis e as empresas enfrentam obstáculos para ação climática.
Fonte: ONU Brasil