Quando nasce uma mãe, em 68% dos casos nasce também uma empreendedora. É o que mostra o estudo “Empreendedoras e seus Negócios”, realizado pela Rede Mulher Empreendedora (RME).
A maternidade é um dos principais gatilhos para as mulheres abrirem suas próprias pequenas empresas, como saída para conciliar o trabalho com as demandas do novo integrante da família.
Algumas desistem pelo caminho. Cerca de 53% das empreendedoras são também mães — uma em quatro delas possui filhos de cinco anos de idade ou menos.
O horário mais flexível e uma agenda ditada pela própria mulher executiva são fatores que as atraem mais para a vida de empreendedora do que a de funcionária, onde o suporte ainda é pequeno. Conforme os filhos vão crescendo, as mulheres passam a focar em renda, sucesso no negócio, realizar um sonho e trabalhar com o que gosta ou por uma causa.
Mas isso não significa que elas trabalhem pouco: 27% das empreendedoras trabalham de sete a oito horas por dia; 25% trabalha de quatro a seis horas por dia; e 23% trabalha de nove a dez horas por dia. O resto trabalha abaixo ou além dessa faixa predominante.
As empreendedoras possuem média 39 anos de idade e 80% delas possuem ensino superior completo. A principal categoria é a de microempreendedora individual (32% das entrevistadas) e fatura até cinco mil reais por mês (46%).
Os desafios para as empreendedoras
Ainda é uma jornada cheia de obstáculos, incluindo o preconceito de gênero. “No papel de empreendedora, a mulher tem diversos obstáculos, como acesso a crédito e falta de apoio até mesmo dentro do seu círculo mais próximo”, diz a fundadora da RME, Ana Fontes, em comunicado sobre o estudo.
“A mãe empreendedora ainda precisa dividir a responsabilidade pelo seu negócio com as tarefas domésticas, o cuidado com os filhos e com a família em geral.”
Outro desafio está no planejamento: 86% das empreendedoras não estudam antes de abrir uma empresa; 37% iniciam o negócio sem capital; e 65% misturam a conta da empresa com a pessoal.
Mãe solo afroempreendedora é destaque
Quando era criança, Márcia de Jesus cresceu vendo as princesas da Disney e tendo como referência Xuxa e suas Paquitas.
Negra, ela conta que nunca se sentiu representada pelas bonecas que brincava nem pelos desenhos animados que assistia. Hoje com 45 anos, a mãe de Valentina, 8, decidiu que era necessário empoderar a filha para que ela amasse desde cedo o seu cabelo, a cor da sua pele e as suas origens.
Tudo começou quando comprou para a menina uma mochila que tinha uma boneca negra pendurada. “Ela ficou tão feliz com aquilo e isso me tocou muito.” Era começo de 2020, quando resolveu criar produtos semelhantes com os quais as pessoas negras pudessem se sentir representadas.
“Comecei com chinelos com estampas afro, depois passei para canecas, moletons e vestidos. Cheguei a participar de uma feira, mas logo veio a pandemia e tive que recorrer aos grupos virtuais e feiras on-line para vender”, conta Márcia, que também é cabeleireira especializada em cabelos cacheados e afros.
Os produtos tiveram tanta aceitação que ela resolveu encontrar um nicho que até então não era explorado: o de roupas de cama infantis e toalhas com estampas de personagens negros.
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O quarto da filha foi outro laboratório de teste. “Fiz colcha, fronha e lençol da Black Princess e foi muito bacana ver a reação dela. A representatividade e a aceitação devem começar dentro da própria casa. O quarto da criança é o seu cantinho e precisa ter a cara dela”, afirma Márcia.
Mãe solo e moradora da zona leste de São Paulo, Márcia sente que a principal dificuldade para empreender é ter educação financeira para tocar e escalar seu negócio.
“Eu faço tudo sozinha. Compro as estampas, vou despachar as encomendas nos Correios, posto nas redes sociais, falo com os clientes, enfim, é bem difícil”, diz a dona da marca Pretapretin.
Márcia está empolgada por ter sido uma das empreendedoras selecionada pelo Afrolab Preta Poupa, um programa de educação financeira para empreendedores negros e indígenas feito, parceria de XP Inc. e PretaHub.
A ideia é apoiar e impulsionar os negócios e ensinar sobre educação financeira para afroempreendedores. Ao todo, serão cem participantes de todo o país que vão ter uma jornada de aceleração que inclui uma imersão de seis dias e um ciclo de mentorias.
Brasil tem 14,5 milhões de empreendedores negros
O Brasil tem 14,5 milhões de empreendedores negros, que movimentam mais de R$ 288 bilhões por ano, de acordo com a pesquisa A Potência Negra, da Feira Preta, realizada em parceria com o Instituto Locomotiva.
Segundo o levantamento de 2021, com 2.029 entrevistados, empreender é o principal objetivo para a população negra.
“Não tem como falar de concentração de renda sem falar de desigualdade de renda que a população negra enfrenta. A ideia é promover a inclusão e potencializar as empreendedoras, que movem o país gerando emprego e que encontram muitos desafios nos seus negócios”, diz Ana Melo, head de Diversidade e Inclusão da XP Inc.
Autorreforma do PSB defende empreendedorismo
O modelo de desenvolvimento econômico capitalista vigente no Brasil é incontestavelmente desigual, pois seis bilionários possuem riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões de pessoas mais pobres. Os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda dos demais 95%. Uma mulher trabalhadora, que ganha um salário mínimo mensal, levará 19 anos para receber o equivalente ao que um rico recebe em um único mês.
Para os mais pobres, e para a classe média, do processo de globalização sobrou a mudança radical do padrão dos empregos, o aumento da informalidade e um sistema de proteção social que se torna cada vez mais limitado para ser acessado e nele permanecer.
O PSB propõe a criação de um marco legal – Lei Nacional da Economia Criativa -, que deverá abranger e regulamentar, com estímulos e simplificações, os aspectos pertinentes às áreas tributária, previdenciária, alfandegária e de propriedade intelectual, mediante o reconhecimento das especificidades dos empreendimentos criativos.
Os socialistas apoiam o destaque e o fortalecimento do papel de mulheres, negros, jovens, pessoas com deficiência, e da população LGBTQIA+, nas atividades ligadas à economia criativa e ao empreendedorismo, especialmente pelo fato de que esses segmentos propiciam mais oportunidades de desenvolvimento e emancipação do que as atividades tradicionais, vinculadas ao comércio, à indústria e à agricultura.
O PSB também defende que os empreendimentos e movimentos de consumo, assim como as unidades produtivas e o comércio solidário, necessitam inovar, integrar-se em rede, e acessar mercados sofisticados. Para isso, requerem políticas de fomento do Estado, como a capacitação e o acesso a crédito via Tesouro do Estado, para se tornarem alternativas viáveis e superiores ao modelo capitalista, tanto social como economicamente.