
O fim do auxílio emergencial em dezembro deve deixar cerca de 38 milhões de brasileiros sem assistência, estima estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Chamados de “invisíveis“pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, são em sua maioria pessoas de baixa renda, pouca escolaridade e ocupadas em atividades informais. Para os pesquisadores, o quadro reforça a urgência de o governo definir os rumos da política de assistência social após o término do auxílio, com uma estratégia clara, recursos ampliados e a definição de fontes de financiamento permanentes.
Nas últimas semanas, a ampliação do Bolsa Família e sua transformação em Renda Cidadã tem sido motivo de bate-cabeça no governo, com anúncios desencontrados, membros da equipe econômica desautorizados publicamente por Jair Bolsonaro e temor nos mercados.
Dados
Segundo estudo dos pesquisadores Lauro Gonzalez, Bruno Barreira e Leonardo José Pereira, os 38 milhões correspondem ao número de pessoas que receberam a primeira parcela do auxílio (de um total de 67 milhões) , mas não estão no Cadastro Único e, portanto, não vão receber o Bolsa Família quando o benefício for encerrado.
Eles representam 61% da parcela da população que recebeu o auxílio emergencial. O estudo não diferencia, porém, quem recebeu o auxílio sem ter direito. Segundo relatório do TCU de agosto, 6,4 milhões estavam nessa situação, incluindo militares e servidores que sacaram o recurso indevidamente.
O levantamento da FGV foi feito a partir dos dados referentes ao mês de agosto da Pnad Covid-19, do IBGE.
Consequências da pandemia
Para Gonzalez, esse contingente populacional representa bem as mudanças recentes do mercado de trabalho.”Vivemos uma era marcada pela economia do bico, por rendas que são tipicamente variáveis”, diz.
“Esse contingente não é tão pobre de forma a atender os critérios para o Bolsa Família, mas tem um conjunto de características bastante associadas a grande vulnerabilidade.” Ainda segundo o estudo, sem o auxílio, essa parcela da população teria registrado queda de 12% de seus rendimentos, em relação ao usual anterior à pandemia.
Com o auxílio, o ganho médio de renda foi de 38%. As perdas e ganhos são similares ao do universo total de beneficiários do auxílio, de 11% e 37%.
Para mulheres informais não inscritas no CadÚnico, a perda de renda teria sido de 20% sem o auxílio, e o ganho com a política chega a 52%. “O auxílio emergencial e a crise tornaram mais clara a percepção de que o Bolsa Família é exitoso, mas insuficiente”, diz Gonzalez.
Desemprego e fim de benefícios ameaçam recuperação
A expectativa de piora no mercado de trabalho em vários países, incluindo o Brasil, combinada com a redução de estímulos fiscais e dos programas de proteção ao emprego, estão entre as principais ameaças à recuperação da economia em 2021, período que ainda deverá ser afetado pela pandemia.
Essa é a avaliação feita por economistas do Ibre/FGV em debates nesta segunda (5).
Pelo lado sanitário, não é certo que haverá vacina e que ela estará dispo nível para todos. Pelo lado econômico, apesar do aumento da mobilidade com o afrouxamento da quarentena, a atividade não se recuperou totalmente e nem de maneira uniforme.
José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central, afirma que a situação nos EUA é de lenta recuperação do mercado de trabalho. Na Europa, medidas de retenção de emprego têm segurado em algum grau as perdas, mas é provável que haja aumento das demissões à medida que esses programas cheguem ao fim.
Com informações da Folha de S. Paulo