A já lenta vacinação contra a Covid-19 no Brasil encontra um novo entrave. A falta de insumos, que já paralisou a produção da CoronaVac pelo Instituto Butantan em maio, agora também força a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a paralisar a fabricação da Oxford/AstraZeneca, que tem sido responsável por grande parte da imunização nacional. A paralisação está prevista para sexta-feira (11).
O Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), deveria ser enviado ao Brasil pela China ainda em maio, mas entraves diplomáticos e contratuais dificultam os envios. O plano nacional de imunização contra o coronavírus, já insuficiente diante da recusa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de comprar vacinas, conforme relato da Pfizer, pode ser seriamente prejudicado.
Fiocruz é responsável por grande parte da vacinação
A Fiocruz já entregou, até o momento, mais de 50 milhões de doses. Caso sejam contabilizados os imunizantes que já foram envasados e estão na fase de testes, a fundação deve chegar a 65 milhões de doses entregues ao Ministério da Saúde em julho. A chegada dos quatro lotes de IFA que a Fiocruz está aguardando, referentes a junho e julho, deve gerar mais de 20 milhões de doses.
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Esse é mais um motivo para alarme, já que a instituição não conseguiu cumprir a previsão de entrega de 100 milhões de doses no primeiro semestre de 2021, necessária para garantir a imunização nacional. A paralisação na fabricação foi, portanto, decisiva para o atraso.
Instituto Butantan também parou
O Instituto Butantan, responsável pela fabricação no Brasil da CoronaVac, vacina de origem chinesa produzida pela Sinovac, também paralisou suas atividades no dia 14 de maio. A paralisação durou cerca de 13 dias, enquanto o instituto aguardava a chegada dos insumos a São Paulo.
A CoronaVac também precisa cumprir uma meta de 100 milhões de doses disponibilizadas ao Ministério da Saúde, e iniciou uma verdadeira maratona para produzir as doses após a paralisação, muito longa diante da necessidade do país. A média móvel de mortes estava, no período, em mais de 2 mil, o que, em análise simples, significa dizer que, nos 13 dias em que a produção ficou parada, cerca de 26 mil brasileiros podem ter perdido a vida para a Covid-19.
Para fins comparativos, os Estados Unidos, país que já foi o epicentro da doença em um passado muito recente, se considerada a média móvel de mortes durante a paralisação da produção da Coronavac, em 574 mortes diárias dia 18 de maio, perderam cerca de 7 mil cidadãos, quase quatro vezes menos que o Brasil.
A enorme diferença entre os números dos dois países pode ser relacionada exatamente com a mudança de política de combate à Covid-19 do governo, que nos Estados Unidos, desde o início da gestão do presidente Joe Biden, tem focado na vacinação em massa da população. O país norte americano já havia vacinado, até o dia 30 de abril, 44% dos seus cidadãos, contra 23,13% de brasileiros vacinados até o dia 6 de maio.
Horizonte positivo para Fiocruz e Butantan
Apesar do cenário preocupante, a boa notícia é que, com a autorização adquirida pelas instituições para produzir o IFA nacional, a fundação começa a se aprontar para a independência da matéria prima estrangeira. Os primeiros lotes de vacina 100% brasileira devem precisar de cerca de três meses de produção.
Só a nova fábrica da vacina anunciada pelo Butantan, que vai permitir a produção das doses da CoronaVac sem necessidade de importação da matéria-prima da China, terá capacidade de produção de 100 milhões de doses por ano.
Com informações de Revista Fórum e Agência Brasil