
O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deixou a maioria dos trabalhadores informais sem uma política pública de apoio em 2021, o que já resultou em aumento da pobreza e queda na renda e no consumo das famílias. Com o fim do auxílio emergencial, ainda em dezembro, e a sua retomada prevista apenas para março, há um buraco de ao menos dois meses na renda das famílias.
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Ao elaborar a proposta de Orçamento para 2021, a equipe de Paulo Guedes tinha a expectativa que o número de casos por Covid-19 iria diminuir e que haveria a recuperação da atividade econômica. No entanto, o país está há 31 dias com média de mortes acima de mil, repetindo sua pior fase de 2020.
Mesmo com a piora no quadro nacional, Guedes e Bolsonaro mantiveram as afirmações de que não haveria necessidade do benefício para impulsionar a economia, pois o emprego já estava voltando, algo que não se confirmou. Somente após pressão do Congresso e a queda na popularidade do presidente, foram então iniciada as discussões para recriar o programa.
Em 2020, o auxílio representou um gasto de R$ 293 bilhões. A expectativa é uma renovação com gasto de até R$ 50 bilhões em 2021.
“A gente tá vendo a fome voltar”
Reportagem da Folha de S. Paulo afirma que um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Ministério Público Federal do estado, já mostra alguns dos efeitos da ausência de políticas públicas tanto em relação às famílias, assim como nos pequenos empresários nas periferias da Região Metropolitana de São Paulo.
“A gente está vendo a fome voltar. Você entra em 2021 com aumento no preço de uma série de bens que a população mais carente precisa para sobreviver, com queda na renda das famílias que deixaram de receber o auxílio, muitas não conseguiram voltar ao mercado de trabalho. É um panorama de redução do consumo, até de itens básicos. É isso o que a gente tem visto nas entrevistas”, afirma Luciana Rosa de Souza, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Economia e Desenvolvimento da universidade.
Segundo a professora, os comerciantes dos bairros mais pobres, que viram seus negócios prosperarem enquanto vigorou o auxílio, também passaram a relatar queda nas vendas. “Conversamos com gente que tem varejão, mercadinho, açougue. As entrevistas têm mostrado que as pessoas estão focando no arroz e feijão, naquilo que é essencial.”
Marcelo Seráfico, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), avalia que uma prorrogação do benefício em bases mais restritas, em termos de valores e população atendida, não seja suficiente para conter o aumento da pobreza. O cenário também obriga muitas pessoas a saírem de casa em busca de emprego enquanto o afastamento social deveria ser incentivado.
“Esse tipo de política me parece necessária mesmo fora de condições da pandemia. Agora, a definição dos critérios para distribuição do recurso não deve se estreitar”, afirma.
Com informações da Folha de S. Paulo