O troca-troca ministerial realizado nessa segunda-feira (29) pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) repercutiu negativamente nos jornais e sites estrangeiros. Em geral, as notícias destacam as mudanças em seis ministérios “em plena pandemia”, a pressão política por algumas trocas e as concessões feitas ao Centrão.
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A rede britânica BBC ressaltou que a troca ministerial “é a maior remodelação desde que Bolsonaro chegou ao poder, há dois anos” e que as substituições foram feitas “enquanto sua popularidade despenca por causa do tratamento da pandemia”. A reportagem ainda lembra que “o serviço de saúde do Brasil está à beira de um colapso” e classifica o presidente como “extrema-direita”.
Já a CNN norte-americana diz em reportagem de seu site que a troca ministerial “parece destinada a garantir maior lealdade em meio à crise da Covid-19 no país” e destaca que o novo ministro da Justiça, delegado Anderson Torres, é amigo da família Bolsonaro.
Desenhando a estratégia política de Bolsonaro, a reportagem também repercute a carta de Fernando Azevedo e Silva, em que diz ter “preservado as Forças Armadas como instituição do Estado”, e o fato do ex-advogado geral da União (AGU) André Levi ter se recusado a assinar uma ação de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender medidas de restrição adotadas por três governadores.
“Trumpista de coração”
O jornal francês “Le Monde” também noticiou a reforma ministerial com o título “Bolsonaro surpreende ao reformar seu governo” e afirmou que, das seis mudanças, apenas a saída do ministro Ernesto Araújo era esperada. Ao ex-chanceler, a reportagem não poupou críticas e o definiu de categórica:
“O ex-chanceler, um trumpista de coração, antichinês, adepto de teorias da conspiração e negacionista, representava a ala mais obscurantista do poder bolsonarista”, destaca a reportagem.
O “Le Monde” ainda chama de “fiasco” a atuação de Bolsonaro no combate a Covid-19, que já matou mais de 310 mil pessoas no Brasil.
“A maior crise do governo”
O jornal espanhol “El País” afirmou que as demissões de Ernesto Araújo do Itamaraty e de Fernando Azevedo e Silva da Defesa acarreta, em plena pandemia, na “maior crise do governo Bolsonaro”. “Uma das renúncias era esperada. A outra foi surpresa total”, diz reportagem.
O texto destaca que “a gestão da pandemia começa a afetar a política de Bolsonaro mais de um ano após os primeiros casos, embora mantenha o forte apoio de um terço do eleitorado brasileiro”.
“Acuado pelo descontrole do vírus”
O jornal argentino “Clarín” diz que Bolsonaro está “acuado pelo descontrole do coronavírus” e tenta demonstrar autoridade. Segundo a reportagem, no entanto, “a ação de Bolsonaro surpreendeu o mundo militar”.
O texto também destaca que a saída de Ernesto Araújo do Itamaraty “foi reivindicada publicamente até pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e pela senadora Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa”.
Também argentino, o jornal “La Nación” afirmou que Bolsonaro “pretende alinhar as Forças Armadas e os partidos do ‘Centrão’ aliados no Congresso”.
Com informações do G1