Nesta segunda-feira (20), a paralisação nacional no Equador completa uma semana com bloqueios de vias em cinco regiões e uma marcha indígena rumo a Quito. A greve geral foi convocada pela Confederação Nacional Indígena (Conaie) que lista dez reivindicações para suspender a mobilização.
Ao menos cinco províncias permanecem com rodovias bloqueadas: Cotopaxi, Tungurahua, Chimborazo, Bolívar e Pastaza. Nessas regiões também se concentram 30% dos 1,1 milhão de indígenas do Equador.
Entre as exigências da Conaie está a redução dos preços dos combustíveis e a proibição de atividades de mineração nos territórios indígenas.
Também pedem mais orçamento para saúde e educação, e criação de políticas públicas para conter a onda de violência e crime organizado que assola o país. Segundo presidente da Confederação, a agenda foi apresentada há mais de um ano, mas o presidente Guillermo Lasso se nega a dialogar.
“Não se resolverão os problemas estruturais, mas nos dará mais tranquilidade para viver”, disse o líder da Confederação, Leonidas Iza Salazar.
Na última sexta-feira (16), Lasso decretou estado de exceção em três províncias: Cotopaxi, Pichincha e Imbabura. “Convoquei ao diálogo e a resposta foi mais violência. Não há intenção de buscar soluções”, declarou o mandatário.
Em resposta, o presidente da Conaie, que foi detido por 24h no segundo dia de greve, disse que o Estado não deve consolidar o ódio e o racismo na sociedade equatoriana.
“O presidente deve dar uma resposta e respaldar o povo equatoriano a superar a crise desatada por esse modelo econômico. Nos preocupa o que aconteceu na Casa de Cultura, onde se instalou a violência de Estado. O papel das autoridades deve ser garantir uma forma de vida intercultural”, declarou.
A Casa da Cutura Equatoriana (CCE), ponto de encontro das mobilizações indígenas e um dos maiores museus do Equador, foi revistada e ocupada pelos militares.
“Com muita vergonha devo dizer que hoje a cultura morreu. A tirania e o terror ganharam da alegria. A última vez que a Casa de Cultura foi tomada pela polícia foi há 46 anos numa ditadura”, declarou o presidente do museu, Fernando Cerón.
Já no domingo (19), Lasso anunciou uma série de medidas para tentar controlar os protestos. Comprometeu-se a não subir o preço dos combustível e não privatizar setores públicos e estratégicos do país. Aprovou o aumento do bônus de Desenvolvimento Humano de US$ 50 para US$ 55 que será distribuído a 1 milhão de famílias vulneráveis; outorgar um subsídio de 50% no preço dos fertilizantes a pequenos e médios agricultores; crédito de até US$ 5 mil (R$ 25 mil) com juros de 1% num prazo de 30 anos; assim como o perdão de dívidas de até US$ 3 mil (R$ 15,5 mil) referentes a créditos concedidos pelo BanEcuador.
Nesta segunda, movimentos indígenas preparam uma marcha rumo à capital Quito. Segundo levantamento de organizações de direitos humanos, houve 79 presos, 55 feridos e 39 denúncias de violação aos direitos humanos durante uma semana de paralisação.
Em menos de dois anos de mandato esta é a segunda greve geral organizada contra Lasso.
Cerca de 27,7% da população equatoriana vive na pobreza, 10,5% na pobreza extrema, enquanto 66% está na informalidade laboral, segundo dados de dezembro de 2021 do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Inec).
Prisão
Apesar das ameaças de repressão do governo equatoriano, segundo a Conaie e outras organizações indígenas, é esperado que demais setores se unam à mobilização nacional, que serão “territoriais e pacíficas”.
O líder da organização, Leonidas Iza, foi preso durante a madrugada da última terça-feira (14), acusado de supostamente paralisar o serviço de transporte do país durante os protestos contra o governo. A detenção deu mais fôlego às manifestações, que ingressaram no seu teprotestosrceiro dia consecutivo em ao menos 11 das 24 províncias do país. Na quarta-feira (15), a Justiça do Equador ordenou a libertação provisória do líder indígena.
“Continuamos com a luta, não vamos tirar o direito de ninguém, esperamos apenas que nossos direitos que estão sendo violados também sejam ouvidos”, disse Iza. “Muita força, não vamos ficar desmoralizados”, completou em uma transmissão por Facebook após ser liberado.
Conaie
Fundada ainda na década de 1980, a Conaie é a maior organização indígena do país, e uma das mais antigas e importantes do continente. Um dos marcos da luta da organização foi a insurreição indígena de 1990, contra o então presidente Rodrigo Borja Cevallos, quando se estima que mais de um milhão de pessoas participaram das manifestações lideradas pela Conaie.
Sua força ficou ainda mais evidente ao longo da década e no início dos anos 2000, quando o país sofreu o retrocesso econômico mais severo da América Latina e a Conaie teve um protagonismo social importante, ajudando a derrubar diversos presidentes, como Abdalá Bucaram, em 1997; Jamil Mahuad em 2000; e Lucio Gutierrez, em 2005.
O grupo que reúne 14 povos originários liderou também, em 2019, mais de uma semana de manifestações violentas contra o governo que deixaram 11 mortos. Desta vez, propõe que os preços dos combustíveis sejam reduzidos para US$ 1,50 para o galão de 3,78 litros de diesel e US$ 2,10 para a gasolina de 85 octanos. Os indígenas também protestam contra a falta de emprego e a entrega de concessões de mineração em seus territórios. Eles exigem também o controle de preços dos produtos agrícolas.
Por Brasil de Fato com informações do O Globo e Opera Mundi