
Por Domingos Leonelli*
Os tucanos são conhecidos por sua indecisão fruto de sua própria história inicial da qual eu participei. Nascido para ser a esquerda do PMDB, então dominado por Quércia em São Paulo, perdeu o rumo ideológico na eleição de FHC em 1994. Aliou-se com o antigo PFL, hoje DEM, e abdicou de sua posição de centro-esquerda para melhor representar a instável burguesia paulista.
Desde então desenvolve com maestria a arte de ficar em cima do muro, que no fundo é uma forma de acochambrar-se com a direita.
Sua única “ousadia” foi a desastrada recusa de Aécio Neves em aceitar o resultado das eleições de 2014, embora essa não tenha sido a única ou a principal causa do impeachment de Dilma, em 2016.
Perdeu agora uma nova chance de firmar-se como o principal partido do centro democrático, ao recusar sua participação nos esforços pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Declara-se de oposição, mas não empreende a alternativa mais viável, constitucional e legal de interromper a trágica trajetória de Bolsonaro rumo ao fascismo.
Os tucanos parecem concordar com a equivocada narrativa do PT de que quem apoiou o impeachment de Dilma não pode, ou não deve, participar da frente ampla contra Bolsonaro.
Alinham-se, na prática, ao Centrão. Ou preferem acreditar que o TSE resolverá o problema sem necessidade de pressão popular.
Nem TSE, nem o presidente da Câmara Rodrigo Maia, nem o STF realizarão um movimento dessa envergadura sem transformar a insatisfação dos 70% ou mais dos brasileiros, em vontade politica.
E a tradição brasileira em mobilizações populares é que essas acontecem em torno da aprovação de projetos de lei. Foi assim nas campanhas do “Petróleo é Nosso”, com a lei de 2004 que criou a Petrobras, as Diretas Já, em torno da emenda Dante de Oliveira, no impeachment de Collor.
E será assim, em torno dos mais de 30 pedidos de impeachment contra o governo de Jair Bolsonaro.
Domingos Leonelli é presidente do Instituto Pensar e coordenador do portal Socialismo Criativo