Em coluna para o portal UOL, o jornalista paulista Jamil Chade afirma que o Itamaraty abandonou a diplomacia que marcou a gestão da política externa brasileira e utilizou uma reunião internacional nesta quinta-feira (29) para atacar de forma dura os relatores das Nações Unidas que criticaram o governo de Jair Bolsonaro.
Agressiva e violenta, a posição do Brasil causou mal-estar entre delegações estrangeiras e relatores da Organização das Nações Unidas (ONU).
Denúncia
Nesta semana, os especialistas denunciaram o governo brasileiro diante do que chamam de “políticas irresponsáveis” durante a pandemia da Covid 19.
“A epidemia ampliou os impactos adversos de uma emenda constitucional de 2016 que limitou os gastos públicos no Brasil por 20 anos”, disseram os especialistas em direitos humanos e dívida externa, Juan Pablo Bohoslavsky, e o relator especial sobre pobreza extrema, Philip Alston. “Os efeitos são agora dramaticamente visíveis na crise atual”. A declaração foi endossada por outros cinco relatores, além do Grupo de Trabalho da ONU sobre discriminação contra mulheres e meninas.
Confronto
Nesta quinta-feira, numa reunião virtual do Conselho de Direitos Humanos da ONU para avaliar o impacto da doença, a embaixadora do Brasil Maria Nazareth Farani Azevedo optou por não dar qualquer detalhe sobre como o governo tem agido e preferiu usar seu tempo para acusar os relatores de ignorar as vítimas da crise.
“Estamos confrontando a tarefa de defender renda e vidas”, disse. “Isso é a crise mais desafiadora de nossa história recente. Esse é o momento de cooperação, não competição. Não é tempo de confrontação. Mas sim de conforto”, afirmou a diplomata.
Num ataque, ela indicou que relatores devem cuidar das vítimas de violações e garantir que a resposta a Covid-19 esteja baseada nos direitos humanos. “Não é o tempo para que relatores tentem usar a pandemia e a tragédia de famílias para fazer avançar suas agendas”, acusou, num gesto interpretado como uma pressão pouco comum.
Ela indicou que o governo ficou “chocado” ao ver que alguns relatores acusaram o Brasil por medidas econômicas tomadas há quatro anos pelo Congresso. Segundo ela, a Emenda Constitucional 95 “não limita a capacidade do governo em aumentar gastos públicos para proteger os mais vulneráveis”.
“Sempre que alguns relatores fazem algo assim, com comunicados de imprensa com alegações sem base, eles não estão trabalhando para proteger as vitimas de violações de direitos humanos, que devem ser o único objetivo”, alertou. Segundo ela, tais relatores “estão trabalhando contra o sistema desenhado para proteger as pessoas” e trabalhando contra sua “credibilidade e legitimidade”. Para ela, as vítimas não eram o foco dos relatores.
Com informações do portal UOL.