Em reportagem especial, a Folha de São Paulo traça um panorama da aposta feita pelo Brasil no enfrentamento armado, que vitima majoritariamente jovens negros. A matéria ouviu traficantes, familiares de vitimas de ações de repressão policial e da violência do tráfico dentro de comunidades do Rio de Janeiro e especialistas.
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O texto apresenta Orelha, 22 anos e com várias marcas de tiro no braço. Segurou um fuzil pela primeira vez aos 13. Desde então ele já comandou algumas bocas de fumo no Rio de Janeiro e hoje é um dos que chefiam a operação em parte de uma favela da capital fluminense.
É uma comunidade como tantas outras, com um centro comercial agitado que mais lembra uma cidade do interior. Carros de som anunciam promoções, motociclistas circulam sem capacete e as pessoas se cumprimentam indo e voltando do trabalho.
Mais para o alto do morro, nas lajes e janelas de prédios improvisados de três e quatro andares, rapazes – em sua maioria jovens negros – com pistolas na cintura trocam informações por rádios transmissores sobre tudo o que acontece no chão. Vivem na expectativa de ataques de um grupo rival ou de invasões da polícia. Eles próprios se definem como bandidos.
Quando a reportagem identificou-se, eles passaram mensagens e autorizaram a subida. Orelha e Perverso, 26, recebem a equipe em uma sala. Têm o corpo marcado por tatuagens. Explicam que fazem parte da cadeia de tráfico de drogas da região. Outras pessoas acompanham a conversa, maior parte de jovens negros.
Estão armados e carregam granadas, mas não agem de maneira hostil. Aceitam posar para fotos, os rostos cobertos por camisetas. Dizem que podemos perguntar o que quisermos, desde que não fique registrado no texto de que favela são, e não revelam seus nomes verdadeiros.
“Eu entrei para o crime porque minha família toda estava envolvida, primos, irmão. Não tinha como me espelhar em outras coisas”, diz Perverso.
Na comemoração dos primeiros cem dias de seu governo, o presidente Jair Bolsonaro lançou a nova Política Nacional sobre Drogas com o então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Apesar de envolver também os ministérios da Saúde, Cidadania e Família, o foco do texto é o combate ao crime organizado e as ações repressivas para reduzir a oferta de substâncias ilegais.
O texto diz considerar a posição majoritariamente contrária da população brasileira quanto à legalização de drogas. Com efeito, pesquisa Datafolha de 2018 mostra que dois a cada três brasileiros se dizem contrários à liberação da maconha no país.
O governo federal tem atuado contra propostas de flexibilização. No começo de setembro, o ministro da Justiça, André Mendonça, encaminhou a deputados moção de repúdio ao projeto de lei 399/2015, que propõe regulamentar cultivo da Cannabis medicinal no Brasil.
O professor da Universidade de São Paulo (USP) Leandro Piquet Carneiro, especialista em políticas públicas, diz que há duas coisas positivas na forma como o Brasil trata as drogas: um setor ativo de saúde pública, para tratar dependentes, e o fato de a legislação ser branda com os usuários.
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