O Superior Tribunal de Justiça Desportiva do vôlei (STJD) decidiu adiar o julgamento da jogadora de vôlei de praia Carol Solberg pelo protesto contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) após a premiação pela conquista da medalha de bronze, na primeira etapa da temporada do Circuito Brasileiro, no dia 20 de setembro. A audiência, que deveria ter sido realizada no fim da terça-feira (6), ainda não tem nova data definida.
Em entrevista transmitida pela TV, no retorno do circuito promovido pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), em Saquarema (RJ), a esportista gritou ‘Fora, Bolsonaro’, gerando uma enorme repercussão.
O advogado de defesa da atleta, Leonardo Andreotti, especializado em direito esportivo e ex-presidente desse mesmo STJD, confirmou o adiamento e explicou que o tribunal recebeu pedidos de intervenção de terceiros, da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e do Movimento Nacional de Direitos Humanos, e que o relator Robson Luiz Vieira retirou o processo da pauta para análise.
Ele ressaltou que pedidos de intervenção de terceiros são normais na Justiça Desportiva, mas não quis se manifestar sobre o adiamento. No entanto, ele diz que já está movimentando para entender a real necessidade do trâmite para o desfecho do processo. Ele pediu urgência na tramitação do caso e disse esperar que a realização do julgamento não seja posterior à data da sexta-feira (9), considerando que a demora no processo é prejudicial à atleta e sua defesa.
Relembre o caso
O episódio viralizou nas redes sociais e a jogadora foi elogiada por setores também contrários ao presidente e atacada por seus aliados. Ela contou que sofreu ameaças. A CBV se posicionou repudiando a atitude da jogadora, assim como a Comissão de Atletas do Vôlei, eleita para representar os atletas.
Carol Solberg foi denunciada pela subprocuradoria do STJD no dia 28 de setembro, por supostamente descumprir o regulamento da competição e assumir conduta contrária à disciplina desportiva. A acusação pede pena máxima em cada um dos dois artigos em que ela foi denunciada. A atleta pode levar uma multa de R$ 100 mil e seis torneios de suspensão.
Já a Comissão de Atletas do Comitê Olímpico do Brasil (Cabob) disse, por meio de sua integrante, Isabel Swan, que não cabe ao órgão opinar sobre o caso de Carol Solberg e sim, ajudá-la no que for preciso. Mas, pessoalmente, ela se mostrou surpresa com a possível punição, desproporcional, pedida pela subprocuradoria.
Em sua conta no Instagram, Tiago Camilo, presidente Cacob, repostou a publicação da Comissão em apoio a Carol Solberg. “Nossa Comissão almeja que a atleta possa ter um julgamento justo e com a mesma jurisprudência de casos anteriores envolvendo atletas brasileiros”, em referência ao caso dos jogadores Wallace e Maurício Souza, também do vôlei, que declararam apoio ao então candidato à presidência, em 2018, e não receberam qualquer punição.
Em um momento em que o esporte mundial abre espaço para a auto expressão de seus atletas, como a NBA, NFL e a F-1, e com a possibilidade de até o Comitê Olímpico Internacional (COI) relaxar sua mais severa regra do tipo, o vôlei do Brasil pode estar indo na contramão.
Com informações do jornal O Globo