Que as novas tecnologias vieram para ficar não há dúvida. Já suprem e otimizam demandas em diversos setores. Porém, é preciso pensar na situação dos trabalhadores e trabalhadoras que estão ficando à margem desse processo. A baixa escolaridade se apresenta como o maior entrave para a recolocação dessas pessoas no mercado de trabalho. Com os servidores públicos não é diferente.
O primeiro estudo realizado pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) para saber o impacto da transformação digital no serviço público brasileiro para os próximos 30 anos, revela que as novas tecnologias poderão substituir o trabalho realizado por 53,6 mil servidores públicos federais que estarão aptos a se aposentar a partir de 2030. Paralelamente, a reforma administrativa caminha na Câmara dos Deputados e, se se aprovada, vai prejudicar não apenas os servidores públicos, mas os serviços prestados à população.
Por isso, os socialistas são contra as mudanças que tramitam na Casa e trabalham continuamente para garantir oportunidades iguais para uma educação de qualidade para toda a população, bem como defendem o investimento em tecnologias que auxiliem os trabalhadores a executar suas tarefas. Somente assim, será possível realocar para novas funções quem trabalha em serviços passíveis de automação. O que vai garantir maior eficiência na execução de trabalhos e inclusão de muito mais pessoas no mundo do trabalho.
Substituição aumenta com o tempo
Para chegar a esse resultado, o estudo avaliou a propensão de automação das atuais ocupações do governo federal, que totalizam cerca de 520 mil servidores. Depois, cruzou esses dados com a expectativa de aposentadorias para os próximos anos. Sem a adoção de medidas – como automação, realocação ou requalificação de profissionais –, o déficit de servidores no ano de 2030 pode chegar a 232 mil profissionais.
A automação é gradual. Em 2020, a proporção de cargos vagos por aposentadoria que poderiam ser extintos ou substituídos por serviços digitais alcançou 27%. No ano passado, 13.916 servidores se aposentaram, dos quais 3.774 ocupavam cargos com grande potencial de serem automatizados ou terceirizados, conforme o Painel Estatístico de Pessoal do Ministério da Economia.
Pesquisador diz que não é o fim
Em 2040, 68,2 mil servidores que se aposentarão poderão ter as atividades substituídas por máquinas. Em 2050, o total chegará a 92,3 mil.
“É importante destacar que o resultado não aponta para o fim do emprego em determinadas áreas. O que a pesquisa faz é trazer luz a uma realidade do presente (tendência de automação) e que será ainda mais evidente nas próximas décadas”, explica Leonardo Monasterio, coordenador-geral de Ciência de Dados da Enap.
Realizado por Monasterio, da Enap, e por Willian Adamczyk e Adelar Fochezatto, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, o estudo comparou a probabilidade de automação dos cerca de 520 mil servidores federais e cruzou os dados com a expectativa de aposentadorias até a década de 2050.
Ocupações em risco
Das 389 ocupações públicas distintas, o estudo identificou 96 mais suscetíveis à automação, que englobam 104.670 servidores federais. Os maiores contingentes são assistente administrativo (73.208 servidores), auxiliar de escritório (8.022) e datilógrafo (4.559).
Outras ocupações com maiores chances de automação são técnico de sistemas audiovisuais, assistente e operador de mídias, cenotécnico, técnico em programação visual e gráfica, armador de estrutura de concreto armado, pedreiro, pintor de obras e carpinteiro.
Funções com menor renda – média de R$ 5.683 – e escolaridade abaixo da média do serviço público federal, esses servidores têm 13,42 anos de escolaridade. O estudo também analisou ocupações extintas ou terceirizadas em reformas de 2018 e 2019, como motorista, trabalhador agropecuário em geral e auxiliar de biblioteca.
Desenvolvimento de competências dos servidores
“Para que os servidores tirem proveito das novas tecnologias de automação para aumentar a produtividade do seu trabalho, recomenda-se o desenvolvimento de competências digitais, principalmente competências técnicas em ciências, tecnologia e informática”, afirma Willian Adamczyk.
Ele sugere dar ênfase ainda às soft skills, que incluem as habilidades gerenciais, de relacionamento interpessoal e artísticas. “Essas habilidades valorizam o trabalho em equipe e são características distintivamente humanas, sem perspectivas de serem desempenhadas por máquinas”, diz o pesquisador.
Alta escolaridade de servidores garante empregos
Servidores que desempenham funções com menor risco de automação estão em áreas que exigem escolaridade mais alta e especialização. Atividades relacionadas ao cuidado com o ser humano também têm mais chances de continuarem a ser executadas por humanos.
As principais ocupações nessa categoria são pesquisador em qualquer área da ciência, perito criminal, biólogo, gerente de serviços de saúde e psicólogo clínico. As funções mais complexas e com menor chance de serem substituídas têm remuneração média de R$ 15.182 e escolaridade média de 15,9 anos.
A lista também engloba engenheiros, economistas, sociólogos, geógrafos e antropólogos. Ainda, há profissionais de gestão e comunicação como gerentes de produção, relações públicas, publicitários e redatores.
Desigualdade de gênero pode ser acentuada
A desigualdade de gênero no serviço público também pode aumentar com a automação. Das 232 mil mulheres, 48,1 mil estão em ocupações de alta propensão à automação (20,7%). Para os homens, esse número corresponde de 56,6 mil de um total de 290 mil (19,5%).
Costureiras, auxiliares de escritório e de biblioteca são exemplos de ocupações com alta propensão à automação compostas por maioria de mulheres.
Reforma administra contra os servidores
Paralelamente às constatações da pesquisa, a proposta de emenda à Constituição (PEC 32/20), enviada ao Congresso pelo governo federal em setembro de 2020, restringe a estabilidade no serviço público e cria cinco tipos de vínculos com o Estado.
Membro da Frente Parlamentar da Reforma Administrativa, o líder do Oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), defende que a eficiência do serviço público deve ser o objetivo central de uma reforma administrativa. Porém, não é que se vê na proposta que tramita na Câmara.
O líder da Minoria, deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), afirma que a reforma só privilegia a corrupção.
A deputada socialista Lídice da Mata (PSB-BA) também já se posicionou contra a medida.
Destruição do serviço público
Para o deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP), o governo quer desestruturar o serviço público brasileiro.
O socialista Bira do Pindaré (PSB-MA) explica como a reforma administrativa vai prejudicar a população.
Para o deputado Tadeu Alencar (PSB-PE), afirma que a reforma vai destruir o serviço público.
O deputado Gervásio Maia (PSB-SP) alerta que a reforma administrativa tem a “mesma falácia” da reforma trabalhista.
O que diz a Autorreforma
Os socialistas, em sua Autorreforma, entendem que é necessário implementar estratégias de políticas públicas que envolvam o mundo do trabalho. Enquanto algumas profissões vão ser extintas, outras surgirão. Isso não seria diferente com os servidores públicos.
“Os avanços tecnológicos proporcionados pela inteligência artificial, pela automação e robotização, estão criando novos postos de trabalho, mas aqueles que perderem os seus empregos nessa transição poderão ser os menos preparados para aproveitar as novas oportunidades”, diz o documento.
Por isso, novas políticas públicas deverão ser formuladas para regular o mundo do trabalho.
“Notadamente para lidar com o excedente de mão de obra resultante da modernização de processos produtivos. Tais políticas deverão propiciar a adaptação dos trabalhadores que perderem seus postos de trabalho, requalificando-os permanentemente e realocando-os em novas funções.”
Autorreforma do PSB
Pessoas são essenciais para o Estado
Além disso, o PSB defende que a gestão do Estado brasileiro seja precisa, efetiva e simplificada. Com a profissionalização da burocracia administrativa, de modo a garantir que o acesso à condição de servidor público seja “meritocrático através de concursos e de capacitação permanente, salvo as exceções relativas às emergências temporárias ou a cargos de alta direção política. Mas que em todos os casos o patrão de todos os servidores é o povo, o verdadeiro dono do Estado”, ressalta o documento.
O partido entende que a gestão dos recursos humanos é um elemento essencial na modernização da gestão do Estado. Admitidos mediante concursos e seleções públicas, o trabalhador do serviço público deve ser protegido por segurança jurídica. Justamente o contrário do que está acontecendo com a reforma administrativa.
“Os servidores devem ser valorizados, estimulados e incentivados a realizar capacitações e atualizações e submetidos a avaliações de desempenho sistemáticas, como forma de estímulos ao aperfeiçoamento e acompanhamento acelerado de mudanças, métodos e tecnologias.”
Autorreforma do PSB