Com Julinho Bittencourt, Plinio Teodoro e Lucas Rocha
No Brasil não se costuma perder piada, especialmente, se ela chega pronta. A noite de segunda-feira (9) foi tensa diante das graves ameaças à democracia feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Mas o desfile do comboio das Forças Armadas na manhã desta terça-feira (10) rendeu uma enxurrada de memes, vexames e, o que é pior, nova leva de mentiras bolsonaristas e uma péssima repercussão dentro e fora do Brasil.
Que Bolsonaro sonha ser o ditador supremo das Forças Armadas no Brasil não é segredo. E não faltaram comparações e vexames com o norte-coreano Kim Jon-un. Para Bolsonaro restou o meme de ‘Kim Be Cil’ durante a suposta demonstração de força durante a votação do voto impresso pelo plenário da Câmara. Que aliás, havia sido derrotado pelo voto na comissão especial.
Na internet, o comboio foi comparado ao fumacê da dengue. Com a maioria do efetivo já em Formosa, cidade goiana onde será realizado o exercício militar, Bolsonaro teve que acordar para a realidade com o óleo queimando de um dos tanques que, ao que tudo indica, veio direto do golpe de 1964.
Ou mais uma cortina de fumaça para mascarar os verdadeiros problemas, como indicam os líderes da Oposição e da Minoria, deputados Alessandro Molon (PSB-RJ) e Marcelo Freixo (PSB-RJ).
Bolsonarista usa imagem de tanques chineses
Os vexames não pararam por aí. O deputado bolsonarista e pastor evangélico Otoni de Paula (PSC-RJ) não conteve seu rompante patriótico. Mas ao invés de publicar foto dos velhos urutus, caminhões e outros antigos veículos do Exército Brasileiro, o deputado bolsonarista postou uma foto dos tanques do Exército Chinês.
Emocionado, Otoni ainda afirmou: “Nunca uma simples manobra militar mexeu tanto com meu patriotismo”.
Seu estratagema, no entanto, foi logo desmascarado pelas redes. Mesmo desmascarado, Otoni não perdeu a pose: “Fiquem tranquilos, a foto é somente ilustrativa e pra mostrar para os esquerdistas que em qualquer país, até na China tem manobra militar. Fiquem calmos”.
Vexames pelo mundo
A imprensa internacional noticiou o desfile militar com ironia e comentários sobre o desespero do governo para se manter no poder.
O jornal britânico The Guardian citou como críticos qualificaram o ato de “desfile de República de Bananas”, enquanto chegou a ironizar o fato de que imagens de desfiles na China foram usados por aliados do presidente para marcar a data, adicionando um “sentido de absurdo” ao evento.
Fotos do exército chinês e o fumacê dos tanques dos brasileiros foram destaque no jornal. O Guardian também cita a baixa presença de apoiadores e indicou como críticos classificaram o evento de “fiasco”.
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Já o jornal francês Le Monde destacou que o desfile era “inédito” nos 30 anos da democracia brasileira. Mas explicou como Bolsonaro vive uma queda de popularidade, diante da morte de 564 mil pessoas no Brasil por conta da pandemia da covid-19. “As pesquisas preveem uma grande derrota contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, indicou o jornal.
Em Portugal, na Bélgica, Canadá ou EUA, a imprensa também fez uma relação entre o desfile e a situação pouco confortável de Bolsonaro nas eleições de 2022. Na Espanha, a agência pública EFE chamou o ato de “inusual”.
Governos estrangeiros temem instabilidade política
Entre os governos estrangeiros, a reação foi a de não menosprezar a importância do gesto do presidente. O temor de parte da comunidade internacional é de que isso seja simbólico do comportamento de Bolsonaro e uma tensão que poderia levar a uma instabilidade política inédita.
Para diplomatas estrangeiros ouvidos pelo jornalista Jamil Chade, do Uol, o ato deixa o presidente – e de certa forma o Brasil – ainda mais isolado. “Hoje, sair em uma foto com Bolsonaro é comprometedor para muitos líderes pelo mundo”, admitiu um negociador europeu.
Anitta chega para salvar a pátria
A cantora Anitta usou as redes sociais para condenar o desfile militar e alertar para os inúmeros problemas causados por Bolsonaro que vão muito além de seus vexames.
“Até a diretora da minha escola cancelava o desfile do pelotão da bandeira quando tinha uma chuva ou um empecilho do tipo. O cara com o país acabando tá fazendo desfile… olha… vou te falar, viu. Imaginando os presidentes dos outros países sentindo aquela vergonha alheia”, escreveu a Poderosa em seu perfil no Twitter.
Estrago generalizado
Anitta apontou que o desfile de Bolsonaro provoca estragos que afetam toda a população. “Não pensem vocês que ter boa relação com outros países só afeta a vida do rico. Não, não! Um país com boas relações internacionais consegue muitas aberturas pra oportunidades que são sentidas pela sociedade inteira. Do rico ao pobre”, declarou.
“E é isso que o Bolsonaro tá fazendo cada dia mais e mais. Pegando a imagem do nosso país e jogando no esgoto. Nenhum outro país quer ter relações com o Brasil nesse momento. Estamos isolados do mundo. Tudo graças a esse energúmeno que só olha pro próprio umbigo”, finalizou.
Ação militar de Bolsonaro
Celso Amorim, ex-ministro da Defesa e das Relações Internacionais, disse durante entrevista ao programa Fórum Onze e Meia, nesta terça que a ação “é inconveniente”. “Tanque na rua não é coisa boa. Só no sete de setembro e mesmo assim tem gente que reclama”, disse.
“A própria demonstração de força já é considerada uma ação militar. A carta da ONU quando elenca as possibilidades de ação militar diz isso. A demonstração de força dentro de uma situação de tensão é uma ação militar”, declarou.
Com informações do Uol