O ministro da Educação, Milton Ribeiro, é acusado de ter protegido pastores bolsonaristas de investigação da Polícia Federal. O ministro atuou a favor de um centro universitário denunciado por fraudar o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2019.
Na posição de ministro, Ribeiro, que é pastor, protelou o envio à Polícia Federal das apurações de fraude conduzidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
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No transcurso das apurações o ministro teria tratado pessoalmente do caso, fazendo visita à instituição e recebendo o reitor no MEC . Ele também designou o seu próprio secretário para acompanhar uma visita de supervisão a Unifil.
A instituição em questão é Unifil, de Londrina (PR), ligada à Igreja Presbiteriana Central de Londrina. De acordo com a investigação do Inep, o crime ocorreu após a coordenadora da graduação ter tido acesso à prova e respostas com antecedência. As fraudes estavam relacionadas ao curso de biomedicina e teriam sido realizadas no sentido de aumentar a nota.
Igreja apoia Bolsonaro
Após assumir a pasta, Milton Ribeiro, que é pastor, passou a tratar do caso pessoalmente. Ele, inclusive, foi até Londrina durante as investigações. A viagem aconteceu sem assessores da pasta. Ele visitou as instalações da instituição e, na ocasião, proferiu uma aula e concedeu entrevista.
O ministro da Educação aproveitou a viagem à Londrina, no ano passado, para fazer uma pregação na Igreja Presbiteriana Central de Londrina. Essa igreja é comandada pelo chanceler da Unifil, o pastor Osni Ferreira, e pelo seu irmão, Eleazar Ferreira, que é o reitor. Ambos são apoiadores do presidente Bolsonaro. Em março do ano passado, ambos convocaram uma das várias carreatas em favor do governo e contra as medidas de lockdown.
Suspeita de fraude por notas “acima da média”
Técnicos do Inep compararam o desempenho da Unifil com a média dos cursos de biomedicina do país. Também foi levando em consideração as notas máximas nas universidades referência se concluiu que, estatisticamente, é impossível a Unifil ter obtido o resultado apresentado.
Para se ter ideia, em parte das 16 de um total de 22 questões de uma das etapas do Enade, a instituição teve um rendimento até 50% superior ao registrado pelos cursos de nota máxima no Brasil. Em duas questões, todos os 44 alunos gabaritaram, enquanto o nível de acerto não chega a 40% nas outras graduações de topo.
O parecer da área técnica e da Procuradoria do Inep foi pela necessidade da investigação criminal. Isso ainda em meados de 2020. Ribeiro teria chegado a ameaçar de demissão lideranças do Inep caso a investigação fosse levada à PF. Na época, Alexandre Lopes presidia o órgão.
Com informações do jornal Folha de S.Paulo