Nessa Semana Fashion Revolution está sendo lançada a campanha #ModaSemVeneno. O mês de abril é dedicado à Revolução da Moda pelo Fashion Revolution, um movimento global que atua para uma indústria da moda mais limpa, justa e transparente.
O Socialismo Criativo preparou uma série de matérias sobre a indústria da moda como uma expressão da economia criativa. Os textos são de Iara Vidal, representante do Fashion Revolution em Brasília e jornalista do portal, e serão publicados ao longo do mês de abril.
Siga a hashtag #FashionRevolution2021 e acompanhe os textos sobre o movimento.
#ModaSemVeneno é lançada no Dia da Terra
Desde o início do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) pautas como a liberação de agrotóxicos e a manutenção de isenções para insumos agrícolas avançaram nos poderes Executivo e Judiciário. Com a vitória do Centrão nas eleições para a presidência das duas casas do Congresso Nacional, o debate deve ocorrer também dentro do legislativo federal.
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Em um momento crítico da pandemia, com mais de 3 mil famílias em luto, diariamente, a bancada ruralista vê oportunidade de aprovar o projeto de lei (PL 6299/2002), conhecido como PL do Veneno e que impacta diretamente a vida da população.
As organizações Fashion Revolution Brasil, Modefica e Rio Ethical Fashion lançaram nesta quinta-feira (22), Dia da Terra, a campanha #ModaSemVeneno, contra a aprovação do PL do Veneno. O movimento tem apoio de organizações da indústria têxtil e de confecção e de entidades sindicais, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Vestuário (CNTRV) da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e ações como a Marcha das Margaridas, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Está no ar uma petição contra a aprovação do PL do Veneno.
Assine!
O que o PL do Veneno tem a ver com a moda?
A campanha #ModaSemVeneno é lançada durante a Semana Fashion Revolution 2021, evento promovido todos os anos pelo Fashion Revolution, o maior movimento ativista de moda do mundo. O algodão é a principal fibra natural usada na moda e a quarta cultura que mais consome agrotóxicos, sendo responsável por aproximadamente 10% do volume total de pesticidas utilizado no país. Entre os agrotóxicos mais utilizados está o glifosato, que pode causar diversos efeitos na saúde, como aborto espontâneo e câncer.
O Brasil é também um grande exportador de celulose solúvel, matéria-prima para a produção de viscose. As culturas de eucalipto e algodão utilizam de 7 a 10 tipos dos agrotóxicos mais vendidos no Brasil, respectivamente.
Entre os agrotóxicos mais utilizados está o acefato, na 4º posição, com alto potencial carcinogênico e o Imidacloprido, na 7ª posição, considerado um dos mais fatais para abelhas, polinizadoras importantes, o que gera preocupação tanto do ponto de vista econômico, quanto socioambiental.
A exposição cumulativa aos agrotóxicos deve ser considerada, pois alguns compostos amplamente utilizados podem permanecer presentes em organismos, água e solo por muitos anos.
Entre os riscos para o setor da moda estão: (i) a desinformação do consumidor; (ii) riscos reais à saúde de trabalhadoras e trabalhadores, incluindo questões de saúde reprodutiva das mulheres; (iii) ameaça à exportação nacional diante de novos posicionamentos dos países em relação ao uso intensivo de agrotóxicos.
Frente Parlamentar Ambientalista
O grupo organizador da campanha #ModaSemVeneno entregará as assinaturas formalmente à Frente Parlamentar Ambientalista, presidida pelo deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP). O parlamentar socialista já criticou o PL do Veneno em várias oportunidades e defende a redução do uso de agrotóxicos no Brasil. Uma das declarações do deputado foi dada em audiência promovida pela Frente Ambientalista em agosto de 2020.
“O mundo inteiro trata os agrotóxicos como pesticidas, inclusive os países mais permissivos do mundo, mas o Brasil adora tratar os agrotóxicos como se fossem remedinhos para as plantas.”
Rodrigo Agostinho
Política Nacional de Redução de Agrotóxico
Agostinho é defensor do PL 6670/2016, que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxico (PNARA) e vai na contramão do PL do Veneno. A matéria está pronta para ser votada pelo Plenário da Câmara e tramita na Casa desde 2016.
O socialista alertou para o fato que, desde 2019, a liberação de registros de veneno acontece em um ritmo muito acelerado. Muita coisa velha e que o mundo não quer mais foi registrada aqui no Brasil. “A maior parte são moléculas velhas, obsoletas, que não são inteligentes, mas que já não tem mais patente lá fora e por isso as empresas químicas resolveram registrar no Brasil”, explicou.
Para Agostinho, é preciso avançar no conhecimento para que a agricultura orgânica no Brasil possa crescer e que o controle biológico possa prevalecer sobre o controle químico.
“Tá em jogo muita coisa, como a saúde humana e a saúde do meio ambiente.”
Rodrigo Agostinho
O PL do Veneno
O texto do PL do Veneno foi proposto pela frente parlamentar formada por empresários do agronegócio e elaborado de forma unilateral, sem qualquer diálogo com a sociedade. Os principais argumentos em favor da matéria já foram rebatidos por uma série de especialistas.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Comissão Nacional de Direitos Humanos, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e uma série de entidades já se posicionaram contra a aprovação do projeto.