O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos teve a prisão preventiva decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Além disso, o ministro determinou ao Ministério da Justiça que inicie imediatamente o processo de extradição e que o mandado de prisão seja incluído na lista da Difusão Vermelha da Interpol, para garantir que o blogueiro seja capturado e trazido de volta ao Brasil. A embaixada do Brasil nos Estados Unidos também foi acionada.
De acordo com a TV Globo, que teve acesso ao processo que envolve a prisão de Allan dos Santos, a decisão foi tomada no último dia 5 e atende a um pedido da Polícia Federal (PF). A Procuradoria-Geral da República (PGR) foi contrária à prisão do blogueiro.
Allan dos Santos é um dos aliados mais próximos da família Bolsonaro. Ele é investigado no Supremo em dois inquéritos: o que apura a divulgação de fake news e ataques a integrantes da Corte e também o que identificou a atuação de uma milícia digital que trabalha contra a democracia e as instituições.
Alvo de operações, Allan dos Santos deixou o Brasil e teria entrado em julho nos Estados Unidos com visto de turista vencido desde fevereiro.
Eduardo Bolsonaro ofereceu ajuda a Allan dos Santos
No dia 1º de outubro veio à tona que o filho 03 de Jair Bolsonaro (PSL-SP), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ofereceu ajuda ao blogueiro para deixar o país. Mensagens interceptadas pela Polícia Federal (PF), compartilhadas com a CPI da Pandemia, foram publicadas pela Folha de S.Paulo.
Ao STF, a PF apontou que o blogueiro, “a pretexto de atuar como jornalista”, assumiu a condição de um dos organizadores de um movimento responsável por ataques à Constituição, aos poderes de Estado e à democracia.
A suspeita é de que essas ações podem ter sido financiadas com recursos públicos a partir da interlocução que mantém com a família Bolsonaro e com parlamentares bolsonaristas.
A PF afirma ainda que, principalmente, por meios digitais, Allan dos Santos e seu grupo pregam deliberadamente o fim de instituições democráticas, defendem o fechamento do STF como forma de garantia de governabilidade pelo presidente da República e intervenção militar.
Disseminação em massa
De acordo com as investigações, essas mensagens são propagadas em multicanais, de forma rápida, contínua e repetitiva, com o objetivo de formar uma “primeira impressão duradoura” no leitor, sem compromisso com a verdade e sem compromisso com a consistência do discurso.
Essas medidas estariam sendo propagadas desde 2018 e extrapolam a liberdade de expressão porque propagam discurso de ódio. O objetivo seria ganhar “vantagem econômica oriunda da monetização e de doações e tendo como consequência a desestabilização do Estado Democrático de Direito”.
Para a PF, a conduta de Allan dos Santos pode configurar crimes de organização criminosa, ameaça, crime contra a honra e incitação à prática de crimes, entre outros.
Os investigadores dizem que, mesmo nos Estados Unidos, a conduta criminosa do blogueiro não parou e que a prisão é necessária para garantir a ordem e as investigações que estão em curso.
Foi identificado que, em solo norte-americano, Allan dos Santos se associou a pessoas ligadas aos violentos atos criminosos que ocorreram no prédio do Capitólio, que buscavam contestar o resultado das eleições nos EUA, e esteve pessoalmente nos atos, ainda segundo a TV Globo.
Bloqueio de contas de Allan dos Santos
Moraes determinou ainda que sejam bloqueadas todas as contas de redes sociais vinculadas a Allan dos Santos e ainda suas contas bancárias. Também ficam proibidos os repasses de dinheiro das plataformas para os canais e contas, a chamada monetização.
O STF autorizou ainda as quebras do sigilo sobre as transações financeiras e dos dados de mensagens e e-mails desde janeiro de 2020, como requerido pela PGR. Ficam vedadas ainda remessa de dinheiro dele para o exterior e repasse de verba pública.
Chamou atenção dos investigadores o alto volume de doações recebidas pelo blogueiro em seus multicanais, com uma grande quantidade de fontes. Há registro de repasses de diversos servidores públicos, sendo que um deles fez transferências de R$ 40 mil.
A PF quer esclarecer ainda as relações de Allan dos Santos com a verba pública, em especial da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom).