Diante de deputados, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, tentou justificar que o erro sobre a contabilização de mortes por covid-19 ocorrido no último domingo (7) se deu em razão da transição do sistema usado pela pasta para acompanhar a situação da pandemia no Brasil.
Durante a reunião técnica promovida pela Câmara dos Deputados nesta terça (9), o general criticou a metodologia adotada pelos últimos dois ministros que ocuparam a pasta e afirmou que o “Business Inteligence”, ou B.I., recém adotado por sua gestão, vai registrar mortos pela doença na data do falecimento e não mais a partir da data da confirmação da contaminação. De acordo com o general, o novo sistema agora reflete os dados reais e todo o “resto é fake”.
“Uma tabela simples dizendo acumulado de mortes, acumulado de contaminados do Brasil não era uma informação digna para apresentar para o povo brasileiro. Se demorou, peço desculpas. Foram 20 dias de trabalho. Hoje, nós temos condições de analisar exatamente a progressão de dados todos os dias, todas as semanas, semanas epidemiológicas, até o dia de hoje”, disse Pazuello, acrescentando que “antes” o ministério somava contas que não existem ou que “não eram somáveis”.
Cloroquina
Respondendo aos parlamentares, o interino da Saúde também enalteceu o empenho do governo federal em distribuir 3 milhões de comprimidos de cloroquina para tratamento da doença – mesmo sem eficácia científica comprovada. Ele também afirmou que a distribuição de cerca de 4 mil ventiladores e de 10 milhões de testes de diagnósticos, o que equivale a apenas 5% da população brasileira, é um “número significativo”.
Diante da recusa de dois ministros da Saúde, que optaram por pedir demissão para não assinar o protocolo que liberou o uso da substância, coube ao general garantir o respaldo do ministério. Em meados de maio, a pasta recomendou a prescrição da substância desde os primeiros sinais da doença.
Críticas
Durante o evento desta tarde, não faltaram críticas aos argumentos de Pazuello.
Líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon (RJ) fez questão de ressaltar que o erro do último fim de semana não foi apenas uma “falha”.
“Não foi um problema de comunicação. Não foi uma falha do diálogo, infelizmente. Foi um desejo deliberado do presidente de esconder o número de óbitos. Bolsonaro diz que quer ‘número limpo’ de mortos do coronavírus. Só se for ‘limpo’ e ausente de transparência. Muitos estão morrendo sem diagnóstico, pela falta de testes. Bolsonaro quer tornar invisível quem morre com Covid-19. É muita crueldade”, destacou.
O ex-ministro da Saúde, deputado Alexandre Padilha (PT-SP) pediu coerência e afirmou que o ministro tem de apresentar os números doença tanto na data por data de óbito quanto por data da confirmação para que fique seja possível a clara identificação dos dados.
“Se você quer mostrar a verdade, tem que mostrar os óbitos na data de ocorrência, na data de registro e os óbitos suspeitos que estão sob investigação. Se o ministério não o fizer, as secretários estaduais vão fazer, o Congresso fará, a academia fará e isso vai fazer com que o ministério perca a autoridade sanitária”, acrescentou.
857 mortes a menos
No domingo, após o ministério divulgar números divergentes de mortos diárias, a imprensa nacional e internacional destacou a manobra operada pelo Ministério para manipular os dados da pandemia, ocorrida por determinação do presidente para que o número de mortes pelo coronavírus ficasse abaixo de mil por dia.
No primeiro balanço, a pasta incluiu 1.382 novas mortes em razão da doença entre sábado e domingo. Depois, o número caiu para apenas 525.
Possível baixa
Fontes do governo ouvidas pelo blog da Andreia Sadi cogitaram retomar a operação para convencer o presidente a nomear um médico para assumir o Ministério da Saúde, após a repercussão negativa do caso, mas a ideia foi descartada.
Após a fala de Pazuello na reunião do governo durante a manhã de hoje, generais do governo garantiram que ele segue firme no cargo.