O Canal de Suez está bloqueado por um gigantesco navio cargueiro desde terça-feira (23). Há um enorme engarrafamento, com uma fila de mais de 150 navios. Transitam pelo canal cerca de 12% do comércio global, já que a passagem conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho e oferece a rota mais curta entre Ásia e Europa. Uma rota alternativa pelo Cabo da Boa Esperança, no sul da África, acrescenta duas semanas às viagens entre os dois continentes.
Com 400m de comprimento (quase a altura do edifício Empire State) e peso de 200 mil toneladas, a embarcação “Ever Given” encalhou diagonalmente durante uma tempestade de areia. Vários rebocadores e uma draga tentam liberar o gigante dos mares desde quarta pela manhã. Até este sábado (27), a navegação entre Mediterrâneo e o Mar Vermelho segue travada.
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Caso os rebocadores não consigam retirar o navio, é possível que seja necessário retirar os contêineres com guindastes para torná-lo mais leve. Essa operação pode levar dias ou até semanas.
A dona do navio, a companhia japonesa Shoei Kisen Kaisha, explicou na quinta-feira (25) que é “extremadamente difícil” fazer o navio voltar. A empresa pediu desculpas pelas perturbações que tem causado no comércio marítimo global e informou que não sabe quanto tempo pode levar a operação.
Navio encalhado gera tensão no Egito
O bloqueio no Canal de Suez criou uma atmosfera de incerteza e tensão entre as autoridades egípcias. O canal é um ativo estratégico do país e uma fonte indispensável de recursos. Só em 2020, passaram 19 mil navios por ali, segundo a Autoridade do Canal de Suez – uma média de 51,5 por dia.
As navegações paralisadas em Suez têm sido motivo de preocupação para a economia mundial, tendo inclusive causado uma alta de cerca de 6% no preço do petróleo nesta semana.
Uma possibilidade é que, se a maré no canal ficar mais alta na semana que vem, os esforços de liberação do canal podem ficar mais fáceis, mas mesmo assim será uma operação trabalhosa.
“Torre de Babel”: efeito da globalização
O Ever Given fazia a rota da China à Holanda com bandeira panamenha, mas o navio é explorado pela Evergreen Marine Corp, empresa com sede em Taiwan. A dona da embarcação é do Japão. Já a tripulação de cerca de 25 pessoas, todas salvas, é de nacionalidade indiana.
A empresa responsável pela gestão técnica do navio, a Bernhard Schulte Shipmanagement (BSM), tem sede em Singapura, e declarou que investigações preliminares descartaram falhas mecânicas até agora. Afirmou ainda que não houve poluição ou danos na carga do navio, com uma capacidade de mais de 20 mil contêineres (TEU).
O Ever Given, sozinho, foi capaz de bloquear uma das principais rotas comerciais do planeta com múltiplos países envolvidos. Um incidente que deixa à mostra que a globalização não tem fronteiras.
12% do mercado marítimo internacional foi afetado
Cerca de 12% do comércio marítimo internacional passa pelo Canal de Suez. Inaugurado em 1869, o canal sofreu desde então várias fases de ampliação e modernização para se adaptar à evolução do comércio marítimo.
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A construção do canal reduziu drasticamente as distâncias entre a Ásia e a Europa: seis mil km a menos entre Singapura e Rotterdam, por exemplo. O canal já foi bloqueado no passado, especialmente durante a crise do Suez em 1956, quando embarcações foram afundadas pelas autoridades egípcias.
Como o navio gigante encalhou
O navio, de 400 metros de comprimento e 220 mil toneladas, desviou da rota em meio a fortes rajadas de areia que afetaram o Egito e partes do Oriente Médio na noite da última terça.
O incidente “aconteceu principalmente devido à falta de visibilidade pelas condições climáticas, enquanto os ventos alcançaram 40 nós (74 km/h), o que afetou o controle do navio”, explicou na quarta-feira a autoridade egípcia do Canal de Suez (SCA) em nota.
Navio encalhado virou piada na internet
Na redes sociais, a novela do cargueiro encalhado rendeu memes ao longo da semana e está entre os assuntos mais comentados no Twitter. Os brasileiros não perderam a oportunidade de comparar o episódio com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Pelo microblog, o advogado Bruno Salles fez uma sequência de postagens na qual faz uma paródia de como seria a gestão dessa crise pelo governo Bolsonaro. Ele comenta como seria a declaração do presidente e ministros. Segue o fio:
Com informações do UOL, El País e BBC