A médica Nise Yamaguchi anunciou que está processando os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Omar Aziz (PSD-AM) por ter sido humilhada e desrespeitada pelos senadores durante depoimento à CPI da Pandemia no Senado. A justificativa foi feita em carta aberta divulgada neste domingo (20), à imprensa.
Defensora da prescrição de cloroquina para tratar pacientes com covid, a médica foi colocada na lista de investigados divulgada na sexta-feira (18) pelo colegiado.
“Por diversas vezes, tive minhas falas e raciocínios interrompidos. Ignoraram meus argumentos e atribuíram a mim palavras que não pronunciei. Não foi por falta de conhecimento que deixei de reagir, mas, sim, por educação. Não iria alterar a minha essência para atender a nítidos interesses políticos.”
Nise Yamaguchi
Nise acusa Aziz e Alencar de misoginia
A ação por danos morais contra os senadores, inclusive o presidente da comissão Omar Aziz, diz que a médica foi vítima de misoginia e humilhação no interrogatório realizado em junho desse ano, e cobra indenização de R$ 160 mil de cada um. Na ação, assinada pelos advogados Raul Canal e Danny Gomes, a defesa explica que os senadores atacaram a dignidade de Nise “enquanto médica, cientista e mulher”, que foi intimidada na comissão.
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Abuso de autoridade
A defesa também pede que a Procuradoria-Geral da República (PGR) analise se os parlamentares cometeram o crime de abuso de autoridade. “Os requeridos abusaram de seu direito, e sua conduta, além de ilegal e injusta, não foi adequada ou necessária, merecendo ser coibida e punida severamente”, escrevem os advogados. “Projetaram-se politicamente mediante a exploração e humilhação pública da autora, tratando-a como verdadeira inimiga”.
Durante o depoimento, ela foi questionada sobre a existência e participação no chamado “gabinete paralelo” de aconselhamento de crise ao presidente Jair Bolsonaro. Médico de formação, Otto Alencar confrontou Nise e interrompeu a oncologista: “a senhora não sabe, infelizmente a senhora não sabe nada de infectologia, nem estudou doutora, a senhora foi aleatória mesmo, superficial”, disse.
Alencar reage à acusação de Nise
A equipe do senador Alencar respondeu às acusações da médica e emitiu a nota sobre a ação movida contra o parlamentar.
“O senador Otto Alencar (PSD-BA) ainda não foi notificado. Assim que ocorrer a notificação, os advogados responderão, de acordo com a lei. A Constituição Federal em seu artigo 53, garante a senadores e deputados, o direito a manifestações, opiniões e votos no exercício de suas funções. O senador Otto Alencar reforça que durante os seus questionamentos se referiu a médica Nise Yamaguchi, com respeito, sempre a tratando como doutora, senhora e Vossa Senhoria. Quanto à pergunta sobre vírus e protozoário, a médica não soube responder a indagação. O questionamento foi feito com o objetivo de indicar, como atestam cientistas e especialistas na área de saúde, que nenhuma medicação evita a contaminação pelo coronavírus e que o tratamento precoce, defendido por Nise Yamaguchi, não funciona e não é recomendado.”
Nota assessoria Otto Alencar
CPI recebe dados sobre viagens de Nise a Brasília
Na manhã deste domingo (20) o senador usou as redes sociais para avisar à médica que ela pode retornar mais cedo do que se pensa à bancada da CPI. Agora como investigada.
Suspeita de ser uma das comandantes do chamado “gabinete paralelo”, Nise Yamaguchi viajou ao menos 13 vezes para Brasília entre maio de 2020 e maio de 2021 e teria usado mais de R$ 16 mil em dinheiro para pagar as passagens. A informação consta de documentos enviados à CPI do Genocídio pela empresa aérea Latam e foi divulgada neste sábado (19) pela rádio CBN.
Ao menos uma das viagens, no dia 30 de setembro de 2020, foi paga pelo Ministério da Saúde, que desembolsou R$ 3 mil para a médica ir até Brasília gravar um vídeo fazendo propagando do tratamento precoce.
Em depoimento à CPI, Nise afirmou que o governo pagou apenas uma viagem dela à Brasília e negou que fizesse parte do chamado “gabinete paralelo”, embora tenha dito que aconselhou Jair Bolsonaro por diversas vezes.
Com informações da Revista Fórum e Congresso em Foco