O secretário de comunicação da Negritude Socialista Brasileira (NSB), Paulo Dantas, conversou com exclusividade com o site Socialismo Criativo sobre a economia criativa como estratégia para o desenvolvimento proposta pela Autorreforma do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e deflagrada em conferência realizada em novembro passado, no Rio de Janeiro (RJ).
De que forma você avalia a aceitação da economia criativa como eixo estratégico de desenvolvimento para o País entre o segmento Negritude Socialista Brasileira?
Nós da NSB avaliamos de maneira entusiasmada o PSB elencar a Economia Criativa como eixo estratégico de desenvolvimento do País, e pode proporcionar a inovação, ciência e tecnologia, por meio da revitalização de territórios, bem como a promoção e potencialização da logística de criação, produção, circulação, consumo e fruição de bens e serviços da Indústria Criativa. Depois de 10 anos de existência dentro do PSB, a negritude foi chamada para contribuir em uma matéria de extrema importância para o País. E com esse movimento da autorreforma do PSB, conseguimos nos falar, organizar, trocar experiências, e melhor ainda, conseguimos ser ouvidos enquanto agentes políticos e gestores alinhados com os anseios da sociedade civil, podendo contribuir para uma visão mais ampla de uma política de Estado.
O projeto Socialismo Criativo pode contribuir para um modelo de gestão socialista nos municípios? Pode contribuir para a geração de trabalho, emprego e renda para a comunidade negra? Por quê?
Claro, vejo muitas possibilidades de aprimoramento e implantação de modelos de gestão inovadores, como, por exemplo, as cidades criativas, as cidades tecnológicas e a promoção de projetos e ações voltados à ciência, à inovação e à tecnologia, artesanato, transporte, mobilidade, empreendedorismo, transparência, meio ambiente e direitos humanos.
Só para ilustrar, os afrodescendentes representam 68 milhões de consumidores e 11 milhões de empreendedores brasileiros, do total de donos de negócios no Brasil, 52% são negros. Ou seja, o afroempreendedorismo traz em si a necessidade de ações integradas e de estratégias no campo do trabalho, emprego e geração de renda, com vistas a apoiar, promover, divulgar, capacitar, fomentar, incubar, acelerar e articular financiamentos para afroempreendedores de micro e pequenas empresas do País.
Outro ponto importante é que a população negra está situada majoritariamente em regiões periféricas, áreas que coincidem com as regiões de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), em que está situada a população de menor renda. A faixa etária tem grande variação por território, e nessas regiões estão concentradas a população de baixa renda, e concentra também a população mais jovem. As mulheres têm menor concentração no mercado de trabalho. No que diz respeito especificamente aos indivíduos empreendedores, seu perfil se associa um nível de escolarização entre 9 anos e 13 anos, sendo superior para as mulheres. De posse desses dados podemos promover políticas públicas que qualifiquem as pessoas e melhorem o IDH do território.
A ideia de um socialismo moderno e criativo para combater as desigualdades tem repercussão entre a Negritude Socialista Brasileira?
Sim, a maior prova disto foi a participação da NSB na conferência sobre a Autorreforma do PSB “Brasil, um passo a adiante”, quando contribuímos de maneira forte em todos os Eixos de discussão, sobretudo no Eixo IV, que abordou a economia criativa. Naquela ocasião, apresentamos propostas e conhecemos práticas bem sucedidas de gestão implementadas pelo PSB. Neste contexto, apresentamos as práticas desenvolvidas no DF, fizemos uma abordagem sobre o que já está acontecendo, sobretudo o que vem sendo desenvolvido pela sociedade civil, nos territórios periféricos, com destaque para a atuação do Movimento Black Money, que trabalha de uma só vez a questão do enfrentamento ao racismo, empoderamento econômico e social das mulheres e juventude negras, por meio de educação, ciência, inovação e tecnologia.
De que maneira o conceito de afroempreendedorismo pode ser impulsionado e disseminado a partir da Autorreforma do PSB?
Acredito que o afroempreendedorismo já é tocado em gestões do PSB, mas ainda falta uma modelagem, talvez um banco de projetos exitosos, com vistas ao desenvolvimento de estudos de viabilidade em cada território. Por exemplo, o Programa Afroempreendedor do DF concorreu ao edital de Boas Práticas para inclusão de mulheres jovens no mercado de trabalho, da Fundação União Europeia – América Latina e Caribe (EU-LAC, na sigla em inglês). A candidatura foi bem-sucedida, com a inclusão do programa em publicação sobre boas práticas e o convite para apresentação no seminário Políticas innovadoras para la inserción laboral de las mujeres jóvenes en América Latina, el Caribe y la Unión Europea, realizado na Cidade do México. Dentro do PSB essa premiação não teve grande repercussão. Muitas experiências poderiam ser compartilhadas, inclusive os cases de outras iniciativas apresentadas no referido seminário, muitos processos poderiam ser otimizados. Entenda que citei apenas um caso, e que outros projetos desenvolvidos pela NSB poderiam ser replicados e aprimorados. Outra forma de impulsionar o afroempreendedorismo dentro das estratégias da autorreforma é a participação da sociedade civil nos debates sobre a Economia Criativa como eixo estratégico de desenvolvimento para o País, não só opinando, mas também demonstrando suas práticas e metodologias para empoderamento político, econômico e social da população negra. Temos várias práticas exitosas vindo da sociedade civil, como por exemplo, “Diáspora Black“, criada pelos cariocas Carlos Humberto, 39, e André Ribeiro, 34, e pelo soteropolitano Antônio Luz, 31, a plataforma já tem dois anos e meio de vida. Não é um simples Airbnb (ainda que o modelo de negócio seja o mesmo: uma taxa sobre as transações realizadas). Há três objetivos, bem específicos, que diferenciam a proposta da Diáspora: difundir a cultura negra, conectar pessoas interessadas por essa cultura, e fortalecer as comunidades negras espalhadas pelo Brasil — seja financeiramente ou por meio da descoberta da identidade. Finalizando, eu acho que a autorreforma é uma oportunidade ímpar para o PSB ir pra rua conversar e construir com o povo.