O resultado do processo do “mensalão” em que foram condenados alguns dirigentes do PT, e o início da Operação Lava-Jato põem a nu o caráter oportunista, e não revolucionário de parte da esquerda brasileira.
A partir de seu segundo ano, em 2015 a Lava Jato confirma também o clientelismo, o fisiologismo e a natureza corrupta de parte do centro e da direita (PMDB, PSDB, PP e outros) e expõe o componente de traição nacional dos corruptos que transferiram para o mercado financeiro do exterior o dinheiro roubado.
Mais do que propinas, verdadeiros capitais que ao invés de criarem empresas e empregos no Brasil migraram para a ciranda financeira internacional. Uma super-mais-valia extraída do trabalho de milhões de brasileiros que pagam, direta ou indiretamente, impostos no País.
Embora se tratando de operação jurídico-policial realizada numa sociedade de classes, com a mídia fortemente engajada, a Lava Jato foi até mais longe do que se esperava, envolvendo praticamente todos os grandes partidos e figuras expressivas do centro e da direita. Com a balança pendendo mais, como era de se esperar, para a esquerda.
Parece que não compreendemos, o PT e, todos nós, seus parceiros de esquerda, que uma força política nova não chega ao governo impunemente. O fato de Lula nunca ter sido comunista, não eximia o PT de ser o portador de uma esperança revolucionaria, transformadora. No entanto os dirigentes que mais poderiam contribuir para a formulação de projeto nacional transformador, envolveram-se de tal forma na manutenção do poder e na busca da estabilidade política para o Governo, que abdicaram dos objetivos maiores: transformar a política e a sociedade. E nessa abdicação deixaram-se inebriar pelas delícias do poder. Deslumbraram-se com as exéquias que lhes eram prestadas por grande parte da burguesia e seus representantes políticos.
Impossível evitar um triste sorriso ao ver na TV os executivos da Odebrecht, da OAS e outros, em depoimentos falsos ou verdadeiros, entregando, sem piedade os antigos amigos dos governos federal, estaduais e municipais. E em muitos casos fazendo das “intimidades” pessoais, em relações em que ultrapassavam em muito as condições das classes sociais a que pertenciam, fonte de legitimidade para suas delações.
E quando Lula diz que o PT fez o que sempre foi feito por outros partidos, pode-se constatar que não faltou aos seus governos apenas um projeto nacional revolucionário. Faltou também a necessária, para a esquerda, visão revolucionária. Faltou a percepção, de que vivemos em uma sociedade de classes. “Todos os outros” que fizeram a mesma coisa, impunemente, eram os partidos e os políticos da classe dominante.
Então, um grupo de políticos da esquerda, líderes sociais, sindicalistas poderiam fazer a mesma coisa? Doce ilusão. Poderiam fazer em 10 ou 12 anos o que os Sarney, ACM, Lobão, Maluf, levaram 40 a 50 anos para conseguir? O que os tecnocratas do governo de FHC, transformados em banqueiros, fizeram? Doce ilusão.
Nem mesmo com a ajuda do ridículo Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, uma invenção tecnocrática do arrogante príncipe da empresa, isso seria possível.
O mais amargo é que os gestores públicos que se recusavam a participar desses esquemas, que se multiplicaram por todo Brasil, eram considerados incompetentes e amadores. Nem empresas, nem tecnocratas de outras instancias de governo, queriam aproximação.
Tornava-se difícil até realizar licitações, muitas delas dando desertas. “Com fulano à frente eu não participo”. Alguns desses gestores amadores, hoje estão mais pobres e isolados, embora conciliando o sono tranquilamente. Relativo consolo.
15 de maio de 2017
Domingos Leonelli
Presidente do Instituto Pensar
Ex-Deputado Federal