
O Pantanal registrou 8.106 focos de incêndio no mês de setembro, de acordo com dados divulgados na quinta-feira (1º) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O número é um recorde na comparação com todos os meses desde 1998, quando o monitoramento começou a ser feito no Brasil, e também supera o recorde de até então: em agosto de 2005, foram 5.933 focos de calor.
No pior setembro de toda a série histórica, o Inpe constatou quase o triplo dos focos identificados no mesmo mês do ano passado, quando 2.887 incêndios atraíram atenção internacional e motivaram uma força-tarefa do Corpo de Bombeiros local.
De janeiro a setembro, foram registrados 18.259 focos de fogo no Pantanal. Mesmo com a expectativa por chuvas na região para atenuar a forte seca, esse número tende a crescer até dezembro. A parcial do Inpe já contabiliza, por larga margem, a maior devastação registrada no bioma em 22 anos.
Covid-19 x Incêndios no Pantanal
Na última quarta-feira, em uma audiência publica no Senado, o presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Eduardo Bim, culpou a pandemia da Covid-19 pelo atraso na resposta do governo federal aos incêndios no Pantanal. Bim disse que a crise sanitária foi responsável pela demora do governo na contratação de brigadistas que atuam no combate a incêndios florestais.
A contratação de brigadistas do Ibama em 2020 só foi concluída no final de julho, quando a temporada de queimadas no Pantanal já estava em franca expansão. Em anos anteriores, essa contratação era normalmente concluída entre os meses de abril e junho.
Neste ano, o Ibama contratou 1.485 brigadistas para atuar em todo o Brasil. O número é semelhante ao contratado em 2019 (1.481), mas inferior ao contratado em 2018, quando 1.565 brigadistas foram selecionados pelo órgão para atuar no combate a incêndios florestais.
Pior setembro na Amazônia desde 2017
O Inpe também divulgou o balanço atualizado de queimadas na Amazônia. A região teve o pior setembro desde 2017, com 32.017 focos de incêndio ativos. São 2.710 a mais em relação ao mesmo mês em 2019. No acumulado do ano, o bioma já registrou 76.030, a maior parte entre julho e setembro.
Em agosto, a despeito das queimadas recordes no Pantanal e também na Amazônia, o Ibama havia gastado, até o dia 30 de julho, apenas 19% de seus recursos previstos para prevenção e controle de incêndios florestais. A lei orçamentária de 2020 destinou R$ 35,5 milhões para que o instituto tomasse iniciativas que poderiam conter o avanço do fogo em ecossistemas, mas somente R$ 6,8 milhões foram investidos nos primeiros sete meses do ano.
Investimentos ínfimos
Trata-se de um valor muito inferior ao registrado na série histórica. Durante todo o ano de 2016, o Ibama gastou 90,1% dos R$ 43.890.752 previstos para o combate às queimadas em áreas federais. Em seguida, foram 49,6% dos R$ 42.445.604 fixados pela LOA em 2017; 54,4% de R$ 52.301.296 em 2018; e 85,5% dos R$ 44.547.828 previstos no ano passado.
Em maio, o Ibama recebeu R$ 50 milhões não previstos na LOA deste ano para o combate e prevenção às queimadas. O aporte, recuperado pela Operação Lava Jato em ações envolvendo a Petrobras e direcionado ao instituto após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2019, também foi pouco aproveitado pelo governo federal, apesar das emergências registradas nos dois principais biomas do país. Do montante, apenas R$ 13.016.507 (26%) foram utilizados pelo Ibama.
Ambientalistas alertam que a maioria dos investimentos contra queimadas em florestas deve ser realizado antes da estação seca nos biomas, ou seja, entre abril e junho. Nos meses seguintes, os incêndios proliferam e já não há mais tempo para tomar medidas preventivas.
Com informações da Istóe e O Globo