
Ao realizar a conferência de abertura do evento virtual “Balanço das Eleições 2020” na manhã desta segunda-feira (7), o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes afirmou que a Justiça Eleitoral (JE) enfrentou e venceu três desafios nas eleições deste ano: os ataques virtuais à legitimidade do sistema de votação, das urnas eletrônicas e da própria JE; a propagação de fake news nas redes sociais, sempre tendo como contraponto a divulgação de informações corretas e verdadeiras; e as notícias inverídicas sobre a possibilidade de “hackeamento” da urna eletrônica, cujos resultados são públicos, auditáveis e seguros.
Promovido pela Escola Judiciária Eleitoral do TSE, o encontro ocorre nesta segunda até as 18h, com extensa programação. O evento é voltado a servidores e magistrados da Justiça Eleitoral, membros do Ministério Público, advogados e estudantes de Direito interessados em Direito Eleitoral. Os debates estão sendo transmitidos pela página de EaD da EJE/TSE e pelo canal da Justiça Eleitoral no YouTube.
Em sua exposição, Alexandre de Moraes afirmou que o TSE deve reforçar cada vez mais o seu papel de oferecer ao cidadão informações transparentes, claras, diretas e verdadeiras sobre todas as etapas do processo eleitoral de votação, apuração e totalização dos votos, a fim de contrabalançar a multiplicação de fake news por pessoa ou grupos que se escondem para praticar ataques à própria essência da Justiça Eleitoral.
“As notícias fraudulentas são organizadas por milícias digitais, que são muito corajosas virtualmente, e extremamente covardes presencialmente, porque se escondem atrás de perfis falsos. Mas são muito organizadas. Há um sistema de produção e elaboração, um sistema de divulgação, um sistema político de proliferação dessas notícias, e o núcleo financiador”, afirmou o ministro.
No que se refere aos ataques à credibilidade da JE e do sistema eletrônico de votação, Alexandre de Moraes lembrou que, na história da urna eletrônica, implementada em 1996, não há uma única comprovação de fraude, e que as medidas de segurança adotadas na urna, que não é conectada à internet ou a sistemas semelhantes, impedem ações de “hackers”.
Minorias
O ministro elogiou as recentes decisões tomadas pelo TSE e pelo Supremo Tribunal Federal para promover a valorização das candidaturas negras (pardos e pretos) nas eleições municipais, inclusive com aportes de recursos públicos proporcionais ao número de candidatos lançados por partidos e coligações.
Em seguida, ele fez questão de assinalar que as decisões, no caso, não criaram cotas para candidaturas negras, mas buscaram propiciar uma participação cada vez mais efetiva de candidatos negros na política. Moraes também destacou as decisões tomadas pelo TSE e o STF no fortalecimento das candidaturas femininas, neste caso, com a previsão de uma cota mínima de gênero de 30%.
Além do ministro Alexandre de Moraes, a mesa de honra do evento foi composta pela vice-diretora da EJE/TSE, Caroline Lacerda, o coordenador-geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), Marcelo Weick Pogliese, o presidente do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral (Ibrade) e ex-ministro do TSE, Henrique Neves, e a presidente do Grupo Elas Pedem Vista, Cristina Gama Neves da Silva.
O resultado dos debates e considerações do evento será divulgado posteriormente em publicação da EJE/TSE.
Números da Justiça Eleitoral
Após a conferência do ministro Alexandre de Moraes, o secretário de Modernização, Gestão Estratégica e Socioambiental do TSE, Bruno Cezar Andrade de Souza, forneceu alguns números gerais das Eleições Municipais de 2020.
Ele informou que 113,7 milhões de eleitores compareceram para votar no primeiro turno do pleito, de um total de 147,9 milhões aptos a votar. Em termos absolutos, foram 5 milhões de eleitores a menos do que no primeiro turno das Eleições de 2016. Ele ressaltou que o resultado está dentro do previsto para o quadro projetado em razão da pandemia de Covid-19. Houve aumento também no comparecimento de eleitores jovens e uma diminuição da presença nas urnas de eleitores idosos no pleito.
Segundo os dados, o número de prefeitas eleitas passou de 636 para 653 de uma eleição municipal para outra; o de prefeitos negros ou negras (pardos e pretos) eleitos, de 1.605 para 1.738. O número de Câmaras Municipais com 50% ou mais de mulheres eleitas passou de 23 para 41 e, com 50% ou mais de negros, passou de 2.170 para 2.254.
Bruno ressaltou que apenas uma mulher foi eleita prefeita no Espírito Santo e que as regiões Norte e Nordeste elegeram maiores quantidades de candidatas ao cargo de vereador. O número de Câmaras Municipais com pelo menos um representante indígena passou de 115 para 122, de 2016 para 2020.
Segundo Bruno, diminuiu o número de Câmaras de Vereadores sem a presença de mulheres: eram 1.295 em 2016, contra 916 em 2020. Também caiu o número de Câmaras Municipais sem vereadores negros: de 1.043 para 761.
O secretário informou ainda que todos os dados das eleições podem ser consultados nas Estatísticas Eleitorais do Portal do TSE e no Repositório de Dados Eleitorais.
Painéis sobre Justiça eleitoral
Após a divulgação dos números gerais do pleito, o evento prosseguiu com o painel “Fake News e desinformação sobre a segurança do processo eletrônico de votação e apuração”. O painel foi conduzido pelo ex-ministro do TSE Henrique Neves.
Ao participar do painel, a secretária-geral da Presidência do TSE, Aline Osorio, salientou os resultados obtidos pelo Programa de Enfrentamento à Desinformação com Foco nas Eleições 2020 e seu alcance no combate à disseminação de notícias falsas entre o final de setembro e o final deste mês. Aline informou que somente o aplicativo WhatsApp baniu 1.042 contas que violaram os termos de uso da plataforma quanto à proibição de disparos em massa de mensagens.
O Projeto Coalizão para a Checagem de informação com nove agências parceiras foi acentuado pela assessora-chefe da Assessoria de Comunicação do TSE (Ascom/TSE), Mariana Oliveira, como uma iniciativa do Programa de Enfrentamento à Desinformação “extremamente importante e que fez a diferença no combate ao fenômeno” nas eleições municipais de novembro.
Mariana informou que o projeto reuniu 100 pessoas, com o objetivo de desmentir de maneira ágil informações falsas relativas ao processo eleitoral, que circulavam na internet ou em plataformas digitais, fazendo com que a informação correta se propagasse pelos mesmos meios em que a desinformação se disseminou. Nos dois meses da coalizão, foram identificados 69 conteúdos falsos espalhados na internet, que resultaram em 246 publicações corretas divulgadas por meio de diferentes mídias sociais.
O TSE também criou a página Fato ou Boato em seu Portal para consolidar essas checagens. A página pôde ser consultada por qualquer cidadão durante o processo eleitoral sem a cobrança no pacote de dados (o chamado zero rating).
Por sua vez, o coordenador digital de Combate à Desinformação do TSE, Thiago Rondon, afirmou que a Justiça Eleitoral enfrenta o desafio de combater a desinformação coordenada, realizada por atores profissionais e que exploram diversos eventos que ocorrem nas redes sociais. “As redes têm o poder de inflamar um debate. E é muito importante que a sociedade brasileira e a Justiça compreendam de maneira detalhada e precisa como tudo isso ocorreu, para que o combate [à desinformação] seja eficaz”, disse o coordenador.
Reinaldo dos Santos, doutor em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista, encerrou o painel, falando sobre as perspectivas e o debate de estratégias para se combater o fenômeno das notícias falsas.