Um estudo realizado pelo centro de pesquisas americano Pew Research Center e publicado na última terça-feira (29), revela que, de 20 países pesquisados ao redor do mundo, o Brasil é o que menos confia na ciência e nos cientistas.
Apesar de ter sido concluído antes do coronavírus ganhar proporções pandêmicas, o levantamento mostra que a ciência é vista de forma positiva pelo público global, indo de acordo com a atual expectativa em torno de tratamentos para a Covid-19.
Contudo, brasileiros são os que menos acreditam que os cientistas fazem o que é certo para a sociedade – 36% dos entrevistados disseram confiar pouco ou nada nada neles. Apenas 23% acreditam muito nas atitudes dos cientistas. Mundialmente, a média é um pouco diferente: 36% das pessoas disseram confiar muito nos cientistas, 40% às vezes e 17% pouco ou nada.
A pesquisa foi conduzida de outubro de 2019 a março de 2020 na Europa, Rússia, Américas e região da Ásia-Pacífico. O Brasil ficou distante da média, 19 pontos percentuais à frente da parcela de pessoas que não confia nada em cientistas.
Entre os países que mais acreditam na ciência estão Índia, Austrália, Espanha e Países Baixos, com índices de alta confiança de 59%, 48%, 48% e 47%, respectivamente. A média de pessoas que têm “muita” confiança nos cientistas é de 36%, a mesma parcela que responde a mesma coisa sobre os militares. O número é superior à parcela que diz isso sobre líderes empresariais, governo nacional e mídia.
Baixa autoestima
Além disso – ou consequentemente –, o Brasil também se mostra descrente em relação ao seu potencial científico. Apenas 8% da população acredita que as realizações dos cientistas nacionais estão acima da média internacional – o índice mais baixo entre os países pesquisados, sendo que a média é 42%.
Nos Estados Unidos e Reino Unido, 61% da população acredita ter a melhor produção científica do mundo ou acima da média global. Brasileiros, no geral, também acreditam que o país está abaixo da média em empreendimentos tecnológicos, conquistas científicas e no ensino de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. É a população que pior avalia seu país em todas essas áreas.
Leia também: Pesquisadoras da USP criam projeto de podcasts para empoderar cientistas mulheres
“A pesquisa apresenta um retrato global da opinião pública sobre o papel da ciência na sociedade. É importante identificarmos essas percepções agora que os desafios da pandemia do coronavírus lançam luz para questões como as vacinas, mudanças climáticas e desenvolvimento em inteligência artificial”, diz Cary Funk, diretor de pesquisa em ciência e sociedade do centro.
Mesmo com números abaixo da média global, os cientistas são os profissionais em que os brasileiros mais confiam. Depois deles, aparecem os militares (21% dizem confiar muito), jornalistas (12%), políticos (9%) e, por último, empresários (4%).
Leia também: Brasileiro ganha IgNobel com pesquisa sobre beijo e desigualdade
O estudo também identificou que, em geral, a confiança nos cientistas é maior entre as pessoas que se identificam politicamente como de esquerda do que com os de direita. O Brasil, no entanto, é o único país onde a posição política não altera a confiança.
A diferença é mais acentuada nos Estados Unidos, onde 62% das pessoas que se identificam como de esquerda afirmaram confiar muito nos cientistas. Entre as pessoas de direita, 20% dizem confiar muito. O mesmo foi verificado no Canadá, Austrália, Reino Unido, Alemanha, Itália, entre outros.
“Educação e ideologia política influenciam a forma como as pessoas enxergam os cientistas. As que têm mais anos de estudo e que se identificam politicamente como de esquerda expressam maior confiança nos cientistas”, diz o relatório.
Como a ideologia afeta
Embora haja uma tendência global para a confiança do público nos cientistas, a confiança geralmente varia com a ideologia. Em geral, a esquerda expressa mais confiança nos cientistas do que a direita.
No Brasil, 16% dos que não concluíram o ensino médio dizem confiar muito nos cientistas. Entre os que concluíram essa etapa da educação, o número sobre para 31%.
A pesquisa entrevistou 32 mil pessoas de países como Austrália, Brasil, Canadá, República Tcheca, França, Alemanha, Índia, Japão, Malásia, Holanda, Polônia, Rússia, Singapura, Coreia do Sul, Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. Esse é o primeiro levantamento do centro sobre a percepção pública internacional sobre produção científica.
Com informações da Folha de S. Paulo e Exame