Segundo estudo recente elaborado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), o Brasil poderá registrar até 5 mil mortes diárias pela Covid-19 nos próximos meses. Intitulada “Detecção precoce da sazonalidade e predição de segundas ondas na pandemia da COVID-19”, a pesquisa, iniciada em abril de 2020, aponta as mudanças climáticas como um fator essencial para o aumento de casos.
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Márcio Watanabe, responsável pelo estudo, é pós-doutor em epidemiologia e professor do Departamento de Estatística da UFF. Ele utilizou modelos matemáticos epidemiológicos na análise sobre a pandemia em mais de 50 países e, de acordo com os dados obtidos entre setembro de 2020 e março de 2021, a situação deverá se agravar nos países do hemisfério sul, principalmente no Brasil e em países com o clima semelhante ao da Índia.
“A transmissão é mais acelerada no outono, começa a subir um pouco antes ou um pouco depois da estação. Por isso, começa a subir em maio, e atingem o pico entre maio e junho no hemisfério sul. Isso acontece também com pneumonia, gripe, até por isso a campanha de vacinação contra a gripe costuma se dar em abril, para evitar o pico quando ele poderia ocorrer. Nós prevemos um pico com algo entre quatro e cinco mil mortos”, comentou Watanabe.
Vacina é única saída
Para o pesquisador, a única maneira do país diminuir a assustadora quantidade de mortes que vêm ocorrendo é acelerando a vacinação. Ele explica que é fundamental as campanhas chegarem à faixa etária que desenvolve formas mais agressivas da doença.
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“Indivíduos de 50 a 60 anos são responsáveis por uma expressiva parcela das internações e óbitos, mas não estão relacionados como grupo de risco no plano nacional de imunização-PNI. Enquanto o país não vacinar esse grupo de pessoas, e também os idosos e aqueles com comorbidades, ainda teremos um grande número de óbitos”, ressalta.
As medidas de isolamento social também foram citadas por Watanabe como fundamentais para a queda no número de perdas humanas causadas pela Covid-19. Porém, ele destaca que a medida só é eficiente se a taxa de adesão for alta e as aglomerações deixarem de acontecer. Segundo ele, “é essencial reduzir aglomerações como ônibus lotados, que têm sido ignorados pelo poder público ao longo da pandemia”.
Planejamento é fundamental
Márcio afirma ainda que, a partir de 2022, o coronavírus deve seguir o mesmo padrão sazonal da gripe e de outras doenças respiratórias. Elas normalmente acontecem com mais frequência entre março e junho e diminuem em outras épocas do ano. Essa identificação da sazonalidade da doença é o que fará a diferença na opinião do pós-doutor.
Ele destaca que, caso o governo já considerasse essa possibilidade teria feito “um correto planejamento que já poderia ter se antecipado ao aumento de hospitalizações e óbitos que têm ocorrido neste mês”.
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“Poderemos conviver com a Covid-19 da mesma forma que convivemos com outras doenças respiratórias, como a pneumonia, quando vacinarmos a grande maioria da população. Mas mesmo com a vacina, a doença será endêmica, ou seja, sempre haverá casos. Assim, um ponto fundamental para o futuro é a ciência encontrar algum tratamento que seja significativamente eficaz para pacientes hospitalizados com coronavírus”, completa.