
O novo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou uma mudança na cúpula militar, mudança essa nunca feita ou vista antes. Petro propõe essa mudança em um tempo onde o clima está “tenso” entre o primeiro governo de esquerda da História do país e forças militares e policiais. A renovação dos comandos militares implicará na passagem para a reserva de 22 generais da Polícia Nacional, 16 do Exército, 7 da Marinha e 3 da Aeronáutica.
No anúncio oficial na noite de sexta-feira (12), acompanhado pelos novos comandantes e seu ministro da Defesa, o jurista Iván Velásquez, conhecido por sua defesa dos direitos humanos e por estar por trás de denúncias judiciais contra o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010). Petro declarou que o critério usado para escolher a nova cúpula foi “violação zero dos direitos humanos e corrupção zero”. As palavras de Petro soaram como acusação aos que estão de saída, segundo comentou-se em círculos militares, da ativa e da reserva.
Vários dos novos comandantes, de fato, têm formação em direitos humanos, entre eles, o general Helder Giraldo Bonilla, agora à frente do Exército, que atuou na implementação de programas na área e tem doutorado em direito internacional humanitário. No ano passado, o agora comandante do Exército esteve à frente de uma tropa de 25 mil homens que atuou durante uma greve nacional contra o governo de Iván Duque (2018-2022), convocada após a tentativa de aprovar uma polêmica reforma tributária.
Um dos objetivos do novo governo, reconhecido por altos funcionários do Ministério da Defesa em conversas informais, é “ajudar os militares e policiais colombianos a limparem sua imagem”, após a condenação generalizada da repressão contra os manifestantes. A escolha do general Giraldo, portanto, tem também o sentido, na lógica do novo governo, de “colaborar para a reconciliação das forças de segurança com a sociedade”.
Assassinatos de ativistas
Na semana passada, numa continuidade do que vem acontecendo nos últimos tempos na Colômbia, ocorreram assassinatos de ativistas sociais e massacres no interior do país. Embora alguns grupos responsáveis pelos ataques, entre eles o Clã do Golfo, tenham anunciado uma trégua antes da posse de Petro, o país continua refém da violência. Dirigentes e organizações sociais vêm pedindo ao presidente um “plano de choque”, mas vozes como a do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) afirmam que o problema é muito mais profundo e requer a “formulação de uma política integral de segurança humana e pacto pela vida”.
No sábado, Petro escreveu em sua conta no Twitter uma mensagem que causou mal-estar no mundo militar: “Os massacres e sua impunidade em jurisdições de comandos militares e policiais afetarão a trajetória dos comandos”. Militares reformados se expressaram pela mesma rede social questionando a atitude do presidente, considerada por eles pouco conciliadora.
Desde que foi assinado o acordo com as Farc, em 2016, cerca de 1.342 líderes sociais foram assassinados. Somente este ano, o número chega a 115, segundo dados do Indepaz.
“Não basta perseguir bandidos, é preciso uma política integral de paz”, argumenta o presidente do Indepaz, Camilo González, que integra uma comissão subordinada ao presidente e criada no marco do acordo, cujo objetivo é ajudar a formular políticas que pacifiquem o país.
Com Duque, a comissão se reuniu poucas vezes e não avançou. A chegada de Petro ao poder criou a expectativa de uma nova etapa. Mas os próximos meses não serão tranquilos, e a nova cúpula militar deve estar preparada.
“São militares menos experientes e que deverão desenvolver novas formas de operar, num contexto de um novo governo que, como nunca antes na Colômbia, não titubeia na hora de dar murros na mesa e avançar”, frisa o diretor do Centro de Recursos para Análise de Conflitos (Cerac), Jorge Restrepo.
Com informações do jornal O Globo