O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2018 foi aplicado em 79 países a 600 mil estudantes de 15 anos. O resultado da avaliação mostra que o desempenho do Brasil está estagnado por quase uma década. Embora o País tenha registrado uma leve melhora nas pontuações de leitura, matemática e ciências nesta última edição, apenas dois a cada 100 estudantes atingiram os melhores desempenhos em pelo menos uma das disciplinas avaliadas. Os resultados da avaliação, que é referência mundial, foram divulgados no dia 3 de dezembro pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O desempenho na avaliação posicionou o Brasil no 57ª lugar entre os 77 países e regiões com notas disponíveis em leitura, na 70ª posição em matemática e na 64º posição em ciências, junto com Peru e Argentina, em um ranking com 78 países. China e Singapura lideram os rankings das três disciplinas. O Brasil, nos três fica atrás de países latino americanos como Costa Rica, Chile e México. Supera, no entanto, Colômbia e Peru em leitura e a Argentina em leitura e matemática.
No Brasil, cerca de 10,7 mil estudantes de 638 escolas fizeram as provas. O País obteve, em média, 413 pontos em leitura, 384 pontos em matemática e 404 pontos em ciências. Na última avaliação, aplicada em 2015, o Brasil obteve, 407 em leitura, 377 em matemática e 401 em ciências.
As pontuações obtidas pelos estudantes colocam o Brasil no nível 2 em leitura, no nível 1 em matemática e também no nível 1 em ciências, em uma escala que vai até 6. Pelos critérios da OCDE, o nível 2 é considerado o mínimo adequado. Ao todo, quase metade, 43,2% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do nível 2 nas três disciplinas avaliadas. Na outra ponta, apenas 2,5% ficaram nos níveis 5 e 6 em pelo menos uma das disciplinas.
O Brasil ficou abaixo das médias dos países da OCDE. Em leitura, os 37 países membros do grupo, composto por exemplo, por Canadá, Finlândia, Japão e Chile, obtiveram 487 pontos em leitura, 489, em matemática e 489, em ciências. Como na avaliação 35 pontos equivalem a um ano de estudos, o Brasil está a pouco mais de dois anos atrás desses países. Na OCDE, 15,7% dos estudantes estão nos níveis 5 e 6 em pelo menos uma disciplina e 13,4% estão abaixo no nível 2.
Modelo socialista chinês
Os dados do Pisa mostram a ascensão da China, com quatro províncias e municipalidades liderando as três áreas do conhecimento: Beijing, Xangai, Jiangsu e Zhejiang. Se essas localidades não representam a totalidade do gigante asiático com seus 1,3 bilhões de habitantes, elas reúnem um número expressivo de pessoas: 180 milhões de habitantes.
O bom desempenho chinês vai do topo à base da pirâmide social. Entre esses estudantes chineses que participaram do Pisa, os 10% com pior nível socioeconômico vão melhor em leitura do que a média de todos os alunos da OCDE e tão bem quanto os de melhor nível socioeconômico dos países pertencentes à organização.
“O que torna essa conquista ainda mais notável é que o nível de renda dessas quatro regiões chinesas está consideravelmente abaixo da média da OCDE. A qualidade das suas escolas hoje alimentará a força de suas economias amanhã”, destaca o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, no prefácio da publicação.
Gurría avalia ainda como decepcionante o fato de a maioria dos países da OCDE não ter registrado melhora no desempenho desde a primeira aplicação do Pisa, em 2000, mesmo com aumento de 15% no investimento por estudante.
Leitura
O Pisa é aplicado a cada três anos e, a cada edição, a ênfase é em uma das disciplinas. Nessa edição, o foco é em leitura. Em 2009, último ano, em que o foco foi em leitura, o Brasil obteve 412 pontos. De acordo com a OCDE, o Brasil não apresentou grandes saltos desde esse ano. “Depois de 2009, na matemática, assim como na leitura e na ciência, o desempenho médio pareceu flutuar em torno de uma tendência estável”, diz o relatório.
No Brasil, metade dos estudantes obteve pelo menos o nível 2 em leitura. Isso significa que esses estudantes são capazes de identificar a ideia principal de um texto de tamanho moderado e que podem refletir sobre o objetivo e a forma dos textos quando recebem instruções explícitas. Entre os países da OCDE, em média, 77% dos estudantes obtiveram esse desempenho.
Já os estudantes que obtiveram as melhores notas em leitura, que no Brasil representam apenas 2%, são capazes de compreender textos longos, lidar com conceitos abstratos e estabelecer distinções entre fato e opinião, com base em pistas implícitas relativas ao conteúdo ou fonte das informações. Entre os países da OCDE, 9% dos estudantes estão nos melhores níveis.
Matemática e ciências
Após queda na última avaliação, em 2015, a nota dos estudantes brasileiros em matemática voltou a crescer, mas apenas um a cada três estudantes, 32%, teve o desempenho mínimo – nível 2 ou superior. Entre os países da OCDE, três a cada quatro estudantes, 76%, obtiveram esse resultado.
Apenas 1% dos brasileiros está no nível 5 ou 6 em matemática. A média da OCDE é 11%. Esses alunos podem resolver situações complexas matematicamente.
Em ciências 45% dos estudantes brasileiros estão pelo menos no nível 2 e 1% está entre os melhores. Entre os países da OCDE, essas porcentagens são respectivamente, 78% e 7%.
Desigualdade
De acordo com a OCDE, o nível socioeconômico dos estudantes teve impacto no desempenho nas provas. No Brasil, a diferença de desempenho entre aqueles com nível socioeconômico alto e aqueles com nível baixo, foi de 97 pontos em leitura, o que equivale a quase três anos de estudo. Essa diferença superou a média da OCDE, que é de 89 pontos.
Com informações da Agência Brasil