“Precisamos disputar as ruas, corações e mentes, e o PSB está fazendo isso”, avalia o líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ). Ele participou do 12º debate sobre a “Revolução Brasileira no Século 21” que, nesta quarta-feira (23), discutiu o tema “Brasil, Potência Criativa e Sustentável”.
Para o parlamentar socialista, não basta derrotar o fascismo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas urnas, em 2022. É preciso apresentar um plano nacional de desenvolvimento, focado na sustentabilidade e com desenvolvimento das potencialidades da população.
Molon lembra o momento histórico de quando a obra de Caio Prado Junior foi lançada, em 1966, durante a ditadura militar e que se tentou falsamente chamar o golpe de revolução. E classifica como “genialidade” a defesa do pensador de uma visão brasileira para interpretar a conjuntura do país.
A Revolução Brasileira na visão de Caio Prado Junior
“Caio Prado rejeitou a tentativa de se usar anacronicamente uma categorização feudal para o período colonial do Brasil como capitalista. Essa utopia de Caio Prado, de garantir a nossa emancipação e o desenvolvimento de forças produtivas, que garantissem a nossa autossuficiência, permanece extremamente válida e atual. E é certamente uma tarefa do PSB.”
Alessandro Molon
A série de debates é promovida pelo Instituto Pensar, o Socialismo Criativo e o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Participaram do evento o membro do Diretório Nacional do PSB, Domingos Leonelli; e a integrante da direção da Juventude Socialista Brasileira (JSB), Juliene Silva. A mediação foi feita por James Lewis.
Bolsonaro é o maior entrave ao desenvolvimento
Molon lembra que logo no início do seu mandato, Bolsonaro deixou claro qual era o seu projeto: antes de construir, iria destruir muita coisa. “E, de fato, ele se dedica a destruir o que demorou décadas para ser construído. Como a legislação ambiental e a reputação do país lá fora”, critica.
O socialista citou a saída de Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente, nesta quarta-feira (23), e a troca pelo representante da bancada ruralista Joaquim Álvaro Pereira Leite, que já estava governo de Bolsonaro, para comandar a pasta. “Ou seja, a destruição vai continuar”, prevê.
Sem contar a aprovação pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara ter aprovado o projeto de Lei (PL) 490/2007, que impede a demarcação de terras indígenas.
“O sonho do presidente é estimular o garimpo em terra indígena. É isso que ele acha que vai desenvolver o Brasil. É uma visão ultrapassada e fadada ao fracasso.”
Alessandro Molon
Molon aponta desperdício tecnológico
Como exemplo de solução de mobilidade tecnológica que ainda economiza energia, Molon cita o trem que funciona por levitação, desenvolvido por pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coope), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O Magleve Cobra funciona por meio de ímãs que substituem as rodas, o que permite um funcionamento rápido, silencioso e econômico. Porém, não foi implantado em nenhum lugar do país, nem no próprio Rio. E, por falta de recursos, o projeto será descontinuado.
Um claro exemplo de desperdício em todas as esferas – da capacidade de desenvolvimento dos pesquisadores e instituições brasileiras aos recursos investidos no projeto e a possibilidades de melhorar a mobilidade urbana.
Juliense Silva, lembra que até as reivindicações da população tiveram que retroceder diante do atual governo. “Antes a gente pedia universidade para todos. Hoje temos que lutar para que as universidades não fechem”, observa.
Destruição recorde, afirma Molon
Outro exemplo da destruição do atual governo é o péssimo trabalho do Itamaraty sob o comando de Ernesto Araújo, que demorou apenas dois anos para destruir a política externa do Brasil, que levou décadas para ser construída.
“O país passou a ser um pária internacional. É visto com desconfiança.”
Alessandro Molon
“Não é apenas um governo que tem saudade da ditadura, mas da pior parte da ditadura. Da turma que rejeitava a abertura política defendida por (Ernesto) Giesel”, disse se referindo ao general que comandou o país e deu início à reabertura política.
Diante do atual quadro, o parlamentar não enxerga saída para o país sem um plano de desenvolvimento estratégico conforme proposto pela Autorreforma do PSB. Planejamento esse, destaca o socialista, o país não faz há décadas. “Os governos não sabem onde querem levar o Brasil e, para quem não sabe para onde quer ir, qualquer vento é bom. Isso é o oposto do que é bom para o país”, disse.
Apagão e desperdício
Ao citar a aprovação da MP do Apagão, que permite a privatização da Eletrobras, aprovada esta semana pela Câmara, Molon ressalta que enquanto o PSB defende a diversificação da matriz energética limpa, tendência dos países mais avançados, o governo de Bolsonaro caminha na direção totalmente oposta.
Inclusive, ao incluir a obrigação de comprar energia de termoelétricas – mais caras e poluentes – onde as usinas não existem. O que beneficiará, em primeiro lugar, os donos de concessionárias de gasodutos, observa Molon.
Prioridades erradas
O pior é priorizar esse tipo de energia num país como o Brasil, onde não faltam recursos para a produção de energia eólica e fotovoltaica, por exemplo. E qual é a relação desses tipos de energia com o socialismo criativo?
No caso da energia eólica, exemplifica Molon, é preciso construir hélices, turbinas e hastes, entre outros. O Brasil, entretanto, só produz as hastes. “Não seria o governo, por meio do BNDES, que deveria estimular o financiamento para a produção de hélices e turbinas?”, questiona.
O mesmo vale para os equipamentos necessários para a produção de energia fotovoltaica. Ambas são energias limpas, renováveis e capazes de aliar o desenvolvimento de produtos de ponta que movimentariam a economia do país ao mesmo tempo em que utilizam as potencialidades que o Brasil já possui em abundância.
Molon defende industrialização moderna
A desindustrialização do país é um retrocesso crescente com o aumento de venda de produtos primários. Porém, quando se fala em reindustrialização do país, o PSB defende a Indústria 4.0, que une justamente alta tecnologia com que já temos disponível no país.
“Não é reindustrializar com a imagem de indústria velha, poluente, que solta fumaça preta. Temos que falar da bioeconomia, da Amazonia 4.0. Não sabemos a quantidade de produtos que poderiam ser produzidos a partir da Amazônia. São cerca de 300 novas plantas descobertas por ano no país. Mas esse tesouro tá sendo destruído.”
Alessandro Molon
Enquanto isso, a União Europeia vai investir 1,8 trilhão de euros na retomada verde da economia e a Alemanha está reflorestando o país. E os Estados Unidos anunciaram 4 trilhões de dólares no Green New Deal, para combater as mudanças climáticas, ressalta Molon.
Sustentabilidade é essencial
Por isso, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirma que a sustentabilidade é fundamental.
“Para os socialistas, é muito além do país, mas do planeta. Não vai se resolver com o capitalismo predatório. É preciso mudar. Se não, não poderemos construir um futuro. São necessários grandes investimentos sem destruir a natureza. Poderemos ser um exemplo para o mundo. A Amazônia 4.0, por exemplo, não é apenas no território da Amazônia, mas que vai envolver todo o país.”
Carlos Siqueira
Para Domingos Leonelli, o Parlamento brasileiro se distanciou da realidade brasileira e prejudica sobremaneira o desenvolvimento sustentável do país.
“Temos um Parlamento onde não se discute um projeto de país. E sob a liderança desse presidente da Câmara [Arthur Lira (PP-AL)], que fomos contra (sua eleição para a presidência da Casa), que se tornou cúmplice do projeto de destruição que Bolsonaro promove. Onde uma maioria fisiológica, corrupta, dilacera a Constituição e os direitos. Por isso, é absolutamente necessário que a esquerda brasileira abrace um projeto de desenvolvimento. É sobre ele que o Parlamento e o Executivo poderão conduzir o reencontro do Brasil com ele mesmo.”
Domingos Leonelli
Ciclo de debates sobre a Revolução Brasileira
Já participaram do ciclo de debates a antropóloga e ex-secretária de Economia Criativa do Ministério da Cultura, Claudia Leitão, o professor de história e youtuber Jones Manoel, a deputada socialista Lídice da Mata (PSB-BA), o governador do Maranhão, Flavio Dino, o ex-presidente da Fundação Palmares e mestre em cultura e sociedade, Zulu Araújo, o deputado constituinte Hermes Zaneti, os economistas Marco Antonio Cavalieri e Luiz Gonzaga Belluzo, o geógrafo Elias Jabbour, o professor José Luiz Borges Horta, o socialista e ex-presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), Jonas Donizette.